—Walkiria, estás bem? Que despropósito é esse logo pela manhã?
—Ah, despropósito? Vais negar que estás embrulhada com o Gary? – Continuava aos berros.
—Eu não estou embrulhada com ninguém e não admito que fales nesse tom...- Discretamente, Greta fechou a porta do escritório. Ninguém precisava presenciar o destempero da sócia.
—Greta, esse hotel não passa de passatempo para ti, nunca tive outra espécie de ilusão, mas é a minha vida. Não admito que ninguém brinque com meu esforço, o sonho de uma vida.
—Walkiria, estás doida? Presta atenção nas asneiras que acabaste de dizer.
—Ah, vais desmentir? Isso para ti é capricho de menina rica e pelo meio vais tendo momentos de diversão...
—Não sei o que aconteceu contigo, mas claramente não estás bem.
—Eu já tinha notado o teu interesse no guia...
—O guia tem nome, é Gary! – Foi a vez de Greta gritar.
—Mas ele dirigindo o teu carro, foi a prova de que existe algo. Tu tens resistência a me emprestar o carro e ele dirigia como senhor e dono.
—Walkiria...
—E reparei nas noites que passei na tua casa que nunca estavas...nas duas noites, dormiste em qualquer lugar longe do teu quarto.
—E o que tens a ver com isso? Agora fiscalizas a minha rotina? Acho que já sou adulta o suficiente e meus pais estão na Suécia. – Ironizou.
—Não tenho rigorosamente nada a ver com a tua vida ou a de qualquer outra pessoa, mas se tuas loucuras me prejudicam, é claro que me importo e reajo.
—Onde é que minha relação com o Gary feriu os desejos de sua excelência, dona Walkiria?
—Ah, confirmas uma relação. Tu estás doida, Greta?
—Porquê?
—Lembras da última vez que inventaste uma paixão fulminante?
—Lembro sim, até porque não me deixas esquecer...uma coisa não tem nada a ver com a outra...
—Não? O que sabes sobre o Gary?
—E tu, o que sabes sobre o Gary? Eu respondo: ele é um guia estrangeiro que presta serviço ao teu hotel, a quem pagas menos do que pagarias a um nacional, primeiro porque é um pobre imigrante da Gâmbia e segundo porque sabes que ele aceita qualquer coisa, porque estar aqui em Cabo Verde é um privilégio se comparado com a realidade que deixou para trás.
—Não sei se lembras, mas quem contrata as pessoas aqui, és tu.
—Ah meu bem, nada aqui acontece sem o teu consentimento. Entre o Gary que claramente não exigiria nada e um local, preferiste o Gary. Porque será?
—O que estás a insinuar?
—Nada! Estou sendo muito clara. Tu não prestas atenção ao Gary, ele não existe. Aqui, eu percebo muito preconceito...
—Tu estás doida? Olha a asneira que estás a dizer...
—No teu caso é ainda pior. Tu não enxergas o Gary, nem ninguém. Vives obcecada por esse hotel, só isso te interessa. É uma frieza no trato com as pessoas que me impressiona. Parece que teu coração bate apenas por esse lugar...mas isso é apenas matéria, Walkiria.
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Nas brumas do Pico
Любовные романыAproximando-se dos 30 anos, Walkiria vive uma vida que pode ser considerada de sonho para muita gente. Vive numa ilha paradisíaca, trabalha com o turismo que é a base da economia local e aparentemente não tem problemas. Tudo parece perfeito, menos p...