—Walkiria, nem toda a intimidade do mundo te dá o direito de...
—Me perdoe, por favor. – Suplicou com olhar de derrota.
Carla, esqueceu qualquer resquício de raiva e abraçou a amiga que exalava derrota e exaustão.
—Vamos para o quarto? Ninguém precisa ver esse espetáculo deprimente.
Carla seguiu-a sem muitos questionamentos. Era visível o desconforto de Walkiria, aliás, aquela figura em nada lembrava a sua amiga sempre altiva.
Na varanda do quarto, tentavam manter um diálogo, mas Carla, percebendo que Walkiria precisava extravasar, rapidamente limitou-se a ouvir. Nada fazia muito sentido, mas ela precisava despejar a frustração e amigas serviam para isso também.
—Ontem eu não tive condição de estar contigo. Poucas vezes na vida, me senti tão devastada...
—Fiquei muito preocupada. Tu não atendias, ninguém aqui no hotel sabia de ti...
—Fui para longe...acreditas que fiquei sentada durante horas no aeroporto...no estacionamento. Carla, me diga como uma mulher de mais de 30 anos e que já viveu bastante, pode passar por isso?
—Wiki...estás a falar de quê?
—Eu vivo aventuras, aliás, estou mais acostumada a viver aventuras do que histórias mais consistentes...como pude acreditar que era especial?
—Walkiria, porque era...porque é.
—Hã? E ela age assim? Me risca da vida como quem deita fora umas flores murchas?
—Não sei se lembras, mas tu fizeste a mesma coisa. Pior até, tu sequer falaste com ela. Não estou a entender esse raciocínio.
—Ela sabia que ia embora, passamos a noite juntas...noite perfeita como todas com ela. Eu vim para cá, para trabalhar e ela simplesmente foi embora. Eu estava ansiosa para voltar para aquele hotel...para ela...
—Wiki, acho que a Nahima pensou nela, o que não é errado, já que tu já tinhas feito a mesma coisa. Se calhar ela até pensou em ti, não quis expor-te a mais um episódio de despedida. Pense nisso...
—Carla, tu não conheces a Nahima...
—Não, mas eu te conheço muito bem. Eu sei da tua mania de minimizar os fatos para não sofrer. Eu venho acompanhando esse teu envolvimento com essa mulher, à distância sim, mas eu te conheço, sei bem quando ultrapassas a barreira do superficial. Ontem estavas tão feliz...
—Estava e só por isso, agora estou assim...eu era bem mais feliz quando não me envolvia.
—Não eras nada...Wiki, já passamos dessa fase. O teu ego está ferido e não consegues despir-te disso.
—Carla, só para te lembrar, aqui tu és a minha amiga.
—Com certeza, e com legitimidade para dizer tudo o que penso. Eu não conheço a Nahima, mas ninguém com más intenções, consegue provocar o que ela provocou em ti. Walkiria, tu és uma fortaleza e essa mulher entrou nos teus domínios sem esforço algum. Gosto muito mais dessa tua versão e hás- de convir que ela só apareceu com a chegada da italiana.
—Fui apenas mais uma aventura...ela deve ter uma em cada paragem e olha que a mulher roda esse mundo.
—Para Wiki. E ainda que tenhas sido uma aventura, analisa a situação pelo teu ponto de vista. Avalie os benefícios que ela te trouxe, que a vossa história trouxe para a tua vida. A Nahima que enche os teus olhos de brilho, não pode virar um monstro impronunciável, apenas porque agiu como tu. Consegues ver a incoerência?
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Nas brumas do Pico
DragosteAproximando-se dos 30 anos, Walkiria vive uma vida que pode ser considerada de sonho para muita gente. Vive numa ilha paradisíaca, trabalha com o turismo que é a base da economia local e aparentemente não tem problemas. Tudo parece perfeito, menos p...