Atordoada diante daquela avalanche emocional, Greta tentava colocar as ideias em ordem, para assim, ajudar a amiga. Jamais vira Walkiria tão transtornada. Nem os dramas financeiros vividos recentemente, tinham provocado tamanho abalo emocional. Ela batia na porta de Nahima com força e gritava por ela, em total descontrolo. Greta tentou de várias formas tirá-la dali já que não restava dúvidas de que Nahima não estava em casa. Em vão. Ela batia na porta, espreitava pelas janelas, rodava o terreno todo, tentava ligar mais uma vez, tudo ao mesmo tempo. A célebre calma de Greta estava a esvair-se. A angústia de Walkiria atingia os ares e a contaminava a ponto de não conseguir raciocinar. Num lampejo de sobriedade, tentou falar com Gary. Quem sabe ele não seria portador de boas notícias. Mais um que não atendia...tudo parecia contribuir para o caos.
—Quem era? A Nahima? – Walkiria a encarou com os olhos quase saltando das orbitas.
—Respira, Wiki! – Greta tentava acalmá-la.
—Quem era? – Gritou.
—Ninguém...tentei falar com Gary, mas ele não atendeu...
—Eu vou para a cidade. Agora! Não posso ficar aqui nessa espera angustiante.
—Espera, vou ver alguma informação na internet...
Walkiria bufou e sentou-se num banco da varanda, batendo os pés no chão freneticamente.
—Os jornais têm informações muito vagas...
—Eu vou para o hospital central.
—Wiki, não vais na moto. Vamos de carro de transporte coletivo. Eu vou contigo.
Ela não contestou, tinha pressa em sair dali.
*****
O cenário no Hospital Central estava caótico. Sempre que acontecia algum acidente de proporções consideráveis, os feridos eram levados para a unidade de saúde mais bem apetrechada, e logo, tudo se transformava numa azáfama. Ouviam-se barulhos de sirenes de ambulâncias, gritos de pessoas, choros convulsivos, vozes mais ásperas de atendentes tentando colocar alguma ordem no caos, e nesse alvoroço, Walkiria tentava ver algum rosto conhecido. Nada. E o desespero atingia o ápice.
—Ninguém sabe nada, ninguém diz nada em concreto. Que grande merda! – Gritou.
Greta, à sua maneira mais calma, tentava saber alguma coisa, mas as informações eram muito desencontradas.
—Acho melhor irmos embora. Agora, não vamos ter qualquer informação credível...e se ligasses a algum colega da Nahima?
—E achas que já não tentei? Só tenho o número do Valdir e a porcaria do telefone está desligado.
—Não temos muito o que fazer aqui, Wiki...- Greta segurou-lhe as mãos entre as suas e assustou-se com o tremor e a temperatura. As mãos pareciam estar dentro de um balde de gelo.
À medida que o tempo passava, o alvoroço em frente ao hospital aumentava e o que já era difícil, tornava-se impossível. Walkiria ainda tentou ligar a uma enfermeira conhecida, mas ela estava de folga e não podia ajudar. Vencida pelo óbvio, ela aceitou ir embora dali.
Na viagem de regresso a São Domingos, ela mantinha uma expressão atordoada. Com o telefone na mão e os olhos grudados na tela, ansiava por um milagre. Greta a observava e tentava lembrar como se rezava. Nada podia acontecer à Nahima. Nenhum arranhão, ou restariam apenas fiapos de Walkiria. Nunca a vira assim. Não imaginava que a italiana tivesse tamanha importância. Wiki disfarçava muito bem suas emoções. Tinha controle quando tudo seguia num ritmo mais ou menos previsível. Mas existem acasos, e às vezes podem fazer nosso mundo desabar. Precisava rezar. Apertou os olhos em busca de lembranças distantes...
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Nas brumas do Pico
RomanceAproximando-se dos 30 anos, Walkiria vive uma vida que pode ser considerada de sonho para muita gente. Vive numa ilha paradisíaca, trabalha com o turismo que é a base da economia local e aparentemente não tem problemas. Tudo parece perfeito, menos p...