Capítulo 25

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Walkiria tentava prestar atenção no relato entusiasmado de Nahima, mas a realidade era que se perdia nela, nos seus trejeitos com as mãos, no sorriso escancarado e luminoso, no tique de prender o cabelo atrás da orelha a cada minuto. Cada pequeno detalhe que lhe cativava e prendia a atenção ao ponto de negligenciar qualquer sentido que não fosse a visão.

—Não é maravilhoso?

—É...muito, mas não sei se entendi muito bem... - Não tinha ouvido nada, mas sabia que seria deselegante admiti-lo.

—Claro que não, eu falei como uma doida e sem respirar.

Riram juntas e Walkiria respirou de alívio.

—Conte...com calma...- Walkiria sorriu segurando-lhe as mãos entre as suas.

—Lembras do Valdir? Meu assistente no projeto...

—Sim, claro.

—Ele é muito proactivo e adora esse universo de projetos e estudos, e quando ia embora, ele perguntou se podia colocar meu currículo em candidaturas que faria dali em diante. Eu aceitei, mas mais por educação e cortesia, afinal tínhamos trabalhado bem juntos. Muito bem. Nossa candidatura foi selecionada para um trabalho maravilhoso. Ainda não sei os detalhes, mas o resumo me agradou a ponto de ficar nesse estado.

—Estado de perfeita alegria e satisfação...empolgação...

Riram muito.

—O trabalho é para agora?

—Sim! É um projeto da Unesco e vamos trabalhar na Cidade Velha...

—Wow! Teu lugar de excelência na ilha...

—E tu lembras disso?

—Hum-hum...disseste-o algumas vezes, inclusive que adorarias fazer por lá, alguma coisa parecida com o que fizeste na aldeia...

—É impressionante...preciso ter cuidado com o que falo à tua frente.

Gargalhadas.

—Até hoje, nada comprometedor...então, vais ficar mais tempo por aqui?

—Mas eu não tinha prazo para ir embora...ou tinha?

—Ah, entendeste muito bem o que eu disse...

—Dona Walkiria, eu vim sem prazo para voltar. Claro que sem dinheiro eu não consigo me manter por aqui, mas desde que cheguei, as surpresas geradoras de renda têm se multiplicado. Se eu acreditasse em milagres...

—E não acreditas?

—Se me prometeres que não vais embora agora...quem sabe...

Gargalhadas altas.

—O hotel...

—Ele sobrevive até à hora do almoço...prometo que não abuso mais da tua boa vontade...prometeste pular da falésia comigo...

—Eu não resisto a esse olhar...tu ganhas até do Zuri e olha que aquele lá quando quer se fazer de coitado...

Gargalhadas.

Nahima tentou empurrar Wiki para a cama, mas ela rapidamente se esquivou e trancou-se no banheiro.

—Wiki...só um beijinho – Implorou batendo levemente na porta.

Nas brumas do PicoOnde histórias criam vida. Descubra agora