-- Eiiiii, não acelera tanto. Que mulher doida!
-- Ah, não me diga que tens medo de velocidade?
-- Acho que tenho medo é de ti e dessa minha faceta extemporânea.
-- Não consegui ouvir. Podes repetir?
-- Nada importante! Dirija com cuidado. Meu Deus, onde é que eu estava com a cabeça? Sabes o que estás a fazer? – Gritava nos ouvidos de Nimah, visto que o vento era muito forte.
--Vamos para Buracona. Ouvi dizer que fizeram obras de requalificação e que o paraíso ficou ainda mais perfeito. Aceitas?
--Eu lá estou em condições de contrariar-te?
--Ahhhhh...-Ela girou o pescoço e encarou Walkiria com aquele mesmo sorriso, que agora tinha um leve tom zombeteiro.
--Sim, quero ir e preste atenção nessa estrada, pelo amor de Deus.
Nimah manobrou e entrou na estrada de asfalto, para alívio de Walkiria. Enquanto a moto deslizava numa velocidade considerável, Walkiria se negava a pensar com clareza. Na realidade, não conseguia. Ninguém em sã consciência entraria numa loucura como aquela que estava a viver e muito menos ela, que desconfiava até da própria sombra. Vagar pelo deserto da ilha com uma desconhecida e numa moto? Só uma loucura instantânea justificaria tal ato...
O fato é que estava naquela moto e sem nenhum medo das consequências. Mas quais consequências? A mulher seguia na estrada certa, sem desvios, e o lugar para onde iam estava sempre lotado de turistas. Nenhuma razão para medos.
Na Buracona, que era quase um oásis em meio à aridez daquela região da ilha, Nimah parecia ainda mais encantada com tudo que via.
--Fizeram um milagre aqui!
--Sim! E tudo ideia de um nacional, um amigo meu. – Walkiria se orgulhava.
--Está lindo! Perfeito! - Encantava-se.
--E não sei que milagre aconteceu que não está lotado de turistas...
--A mim não me desagrada nada que esteja quase deserto. Sou turista, mas permita-me dizer que mais de 10 no mesmo espaço, ninguém merece.
Walkiria riu, concordando com a cabeça.
--Vamos ver Blue eye, com certeza que vai te surpreender. – Puxou Nimah pelo braço que a seguiu sem pestanejar.
--Ah eu quero mergulhar. Agora está muito mais seguro. Quero!
--Não quer nada. Estás doida? Eu vou embora...
--Calma! Está bem, vou outro dia...da próxima vez que vier para cá.
--Mas não ias embora hoje?
--Eu sempre volto para Cabo Verde...
Walkiria respirou fundo e esboçou um leve sorriso. Aquela mulher doida e de espirito aventureiro estava tirando a sua paz.
--Nesse horário a senhora já não pode mergulhar. O sol já não reflete na gruta e fica perigoso. – Avisou o guia do parque.
--Entendeu agora a minha aflição? Não sou exagerada, mas não gosto de correr riscos desnecessários.
--Entendi, e não sou inconsequente. Talvez um pouco impulsiva, só um pouquinho, ah e hás de convir que a tua terra é apaixonante. – Ela piscou e Walkiria só sabia rir.
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Nas brumas do Pico
Roman d'amourAproximando-se dos 30 anos, Walkiria vive uma vida que pode ser considerada de sonho para muita gente. Vive numa ilha paradisíaca, trabalha com o turismo que é a base da economia local e aparentemente não tem problemas. Tudo parece perfeito, menos p...