Capítulo 2

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  -- Eiiiii, não acelera tanto. Que mulher doida!

-- Ah, não me diga que tens medo de velocidade?

-- Acho que tenho medo é de ti e dessa minha faceta extemporânea.

-- Não consegui ouvir. Podes repetir?

-- Nada importante! Dirija com cuidado. Meu Deus, onde é que eu estava com a cabeça? Sabes o que estás a fazer? – Gritava nos ouvidos de Nimah, visto que o vento era muito forte.

--Vamos para Buracona. Ouvi dizer que fizeram obras de requalificação e que o paraíso ficou ainda mais perfeito. Aceitas?

--Eu lá estou em condições de contrariar-te?

--Ahhhhh...-Ela girou o pescoço e encarou Walkiria com aquele mesmo sorriso, que agora tinha um leve tom zombeteiro.

--Sim, quero ir e preste atenção nessa estrada, pelo amor de Deus.

Nimah manobrou e entrou na estrada de asfalto, para alívio de Walkiria. Enquanto a moto deslizava numa velocidade considerável, Walkiria se negava a pensar com clareza. Na realidade, não conseguia. Ninguém em sã consciência entraria numa loucura como aquela que estava a viver e muito menos ela, que desconfiava até da própria sombra. Vagar pelo deserto da ilha com uma desconhecida e numa moto? Só uma loucura instantânea justificaria tal ato...

O fato é que estava naquela moto e sem nenhum medo das consequências. Mas quais consequências? A mulher seguia na estrada certa, sem desvios, e o lugar para onde iam estava sempre lotado de turistas. Nenhuma razão para medos.

Na Buracona, que era quase um oásis em meio à aridez daquela região da ilha, Nimah parecia ainda mais encantada com tudo que via.

--Fizeram um milagre aqui!

--Sim! E tudo ideia de um nacional, um amigo meu. – Walkiria se orgulhava.

--Está lindo! Perfeito! - Encantava-se.

--E não sei que milagre aconteceu que não está lotado de turistas...

--A mim não me desagrada nada que esteja quase deserto. Sou turista, mas permita-me dizer que mais de 10 no mesmo espaço, ninguém merece.

Walkiria riu, concordando com a cabeça.

--Vamos ver Blue eye, com certeza que vai te surpreender. – Puxou Nimah pelo braço que a seguiu sem pestanejar.

--Ah eu quero mergulhar. Agora está muito mais seguro. Quero!

--Não quer nada. Estás doida? Eu vou embora...

--Calma! Está bem, vou outro dia...da próxima vez que vier para cá.

--Mas não ias embora hoje?

--Eu sempre volto para Cabo Verde...

Walkiria respirou fundo e esboçou um leve sorriso. Aquela mulher doida e de espirito aventureiro estava tirando a sua paz.

--Nesse horário a senhora já não pode mergulhar. O sol já não reflete na gruta e fica perigoso. – Avisou o guia do parque.

--Entendeu agora a minha aflição? Não sou exagerada, mas não gosto de correr riscos desnecessários.

--Entendi, e não sou inconsequente. Talvez um pouco impulsiva, só um pouquinho, ah e hás de convir que a tua terra é apaixonante. – Ela piscou e Walkiria só sabia rir.

Nas brumas do PicoOnde histórias criam vida. Descubra agora