Capítulo 18

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Desde que minha mãe me abandonou, tenho convivido com os Moriyama constantemente, mas isso não era algo que eu pudesse escolher ou evitar. Aquela era minha vida como uma peça de um jogo de xadrez muito maior.

Mas eu não sou uma peça descartável, não mais. Eu sou uma das peças mais importantes de um jogo, possivelmente um Cavalo que estará sempre pronto para se sacrificar para dar um xeque-mate.

Mas eu não poderia negar a ansiedade que domina meu peito em estar no mesmo campo que Riko, sabendo que qualquer ação minha resultaria na raiva dos corvos que possivelmente descontaram nas Raposas.

Wymack abriu o portão. Dan deu a sua equipe um sorriso de lábios comprimidos por sobre o ombro antes de levá-los para a quadra. Eu não conseguia ver as arquibancadas, até que estivéssemos quase no pátio interno, mas o barulho que me atingiu, parecia duas vezes mais alto do que nunca. O rugido aumentou para gritos quando as Raposas finalmente apareceram. As Lupinas acenaram com seus pompons em saudação de êxtase. A banda marcial da escola, Orange Notes, executou o grito de guerra mais alto que puderam. De alguma forma, ainda soava abafado pelo resto do barulho.

Eu olhei para o mar de laranja. Consegui detectar os visitantes pelos cartazes "1 - 2" que levaram em homenagem a Riko e Kevin. Os torcedores dos Corvos foram ainda mais fáceis de encontrar. Vieram todos de preto e ocuparam uma seção inteira reservada diretamente em frente ao banco das Raposas. Era como se um buraco negro tivesse engolido parte do estádio.

Meu olhar se fixou em um cartaz, um desenho meu utilizando o uniforme dos corvos com o número "3" tatuado em meu rosto.

Babacas.

Com todo o barulho, eu perdi o anúncio que sinalizava a entrada dos Corvos, mas não perdeu o súbito compasso pesado da bateria. A música pareceu-me estranhamente familiar, mas demorou um segundo para lembrar-se. Era a música que anunciava a chegada de Riko ao programa de Kathy: o grito de guerra de Edgar Allan. Não era otimista e confiante como qualquer outra música que eu ouvira nos jogos. Esta era uma melodia sombria e pesada, uma mensagem intimidadora de morte e dominação.

Kevin ficou ao meu lado e eu logo o olhei com atenção antes que ele colocasse a mão em meu ombro e apertou levemente.

As equipes foram enviadas para correr voltas de aquecimento. Wymack cedeu o pátio interno para os Corvos, já que tinham a maior equipe. As Raposas correram dentro da quadra seguindo as paredes de acrílico, indo na direção oposta de seus oponentes. Em sua visão periférica, eu vi Os Corvos passar em uma fila infinita de preto e vermelho, recusando-se a olhar diretamente para nós. Eu mantive os olhos na camisa laranja e branca à sua frente. Nos seguiram dando voltas, então Moriyama enviou parte de sua equipe para a quadra. A defesa dos Corvos continuou correndo enquanto os sete atacantes e cinco negociantes treinavam tiros no gol. Mesmo com cerca da metade da equipe em quadra eles ainda superaram as Raposas em número.

Os árbitros nos expulsaram da quadra muito antes de eu estar preparado, deixando apenas Dan e Riko para trás. De alguma forma, os capitães conseguiram um aperto de mão civilizado no centro da quadra. O
árbitro principal jogou a moeda e sinalizou Edgar Allan para iniciar a partida. Ele ficou onde estava, parado, enquanto Dan e Riko deixavam a quadra.

Antes que qualquer coisa acontecesse, Riko me encarou pelo canto de olho e sorriu como se fosse a rainha do jogo, mas não passava do rei. Uma peça inútil que, se cair, desmoronará todo o jogo.

- pela primeira vez, a verdadeira Corte jogará uma contra a outra em campo. - disse o locutor, fazendo o estádio vibrar e imagens do telão começaram a focar em Riko, Jean, Kevin e por último e mais demorado, eu. - Neil Josten, pupilo da dupla dinâmica. Hoje veremos se o garoto tem o talento que seus treinadores falam.

Mentirosa Raposa - AndrielOnde histórias criam vida. Descubra agora