Mentirosa Raposa - Andriel

Capítulo 29

Ichi:
não sei o que está acontecendo.

Ichi:
mas eu sou seu irmão e eu te amo.

Ichi:
então, por favor, pare de me ignorar.

Fechei a mensagem, deixando o telefone debaixo do travesseiro enquanto me levantava, tentando ignorar a dor que passou pelo meu corpo. Eu precisava que todos acreditassem que eu estava bem, que não era tão ruim quanto eles pensavam, então decidi sair para correr naquela manhã. Já havia passado por coisa pior, havia corrido em estado pior e com uma bala em meu corpo, mas isso não impediu aquela corrida de ser extremamente lenta e demorada.

Eu não queria pensar em meu irmão, não queria pensar em Riko e muito menos em Minyard.

Matt, que tinha ido para a academia antes que eu acordasse, me esperava na sala de estar assim que eu cheguei, com uma expressão incrédula em seu rosto.

— Você é louco, sabia? Você saiu mesmo desse jeito?

— Que horas chega o voo da Dan? — perguntei.

Por alguns instantes, eu achei que ele não entraria no jogo e não permitiria que mudassem de assunto. Matt franziu os lábios em uma linha fina de desaprovação. Mas em vez de dar um sermão, disse:

— Vou buscar elas às onze horas e vamos direto pra quadra. Você vai pegar carona com o Andrew?

— Vou. O treinador quer que eu fale com a Abby antes da reunião.

Eu me tranquei no banheiro para um banho rápido. Apesar de tomar muito cuidado, me secar foi quase tão doloroso quanto a corrida. Eu me vesti devagar, com uma careta sempre presente, e quando terminei precisei de alguns minutos para acalmar a respiração. Ganhei um pouco de tempo para trocar a atadura que cobria a tatuagem e a mordida, mas meu coração ainda parecia bater na boca quando saí do banheiro abafado pelo vapor.

Matt estava largado no sofá com a televisão ligada quando eu passei pelo quarto já todo vestido. Não disse nada ao me ver saindo, talvez presumindo que eu iria ao quarto que ficava a duas portas do deles, perturbar os primos. Mas eu saí do prédio e percorri a trilha sinuosa até a Perimeter Road.

Cortou caminho pelo campus até a biblioteca.

Cruzou com poucos estudantes na subida até o laboratório de computadores. Apesar da relativa privacidade, eu escolhi usar uma máquina na última fileira. Minha obsessão por se manter atualizado com as notícias tinha cessado em setembro, mas naquele dia não tinha a intenção de desenterrar o passado. Primeiro, passei a pesquisar sobre as outras equipes que haviam se qualificado para os campeonatos de primavera. Era um jeito simples de parar de pensar e de matar algumas horas.

Encontrei uma notícia essa manhã, relatando o "suicídio" de Luke e a saída de Jean dos Corvos, o que muitos estavam associando ao luto. Os Trojan ainda não soltaram a notícia da contratação de Jean, mas Jeremy já havia me informado que convenceu o francês a assinar o contrato a alguns dias atrás.

Muitas pessoas estavam postando condolências aos Corvos, muitos torcedores das Raposas até mesmo estavam postando sobre, o que me fez pular rapidamente, não querendo pensar em como essas pessoas reagiriam se descobrissem que não foi um suicídio a morte de Luke? Coloquei a mão no pescoço sobre a mordida dele, respirando fundo.

Não me lembrava de abaixar a cabeça e com certeza não me lembrava de pegar no sono. Acordei assustado quando senti os dedos cravados na parte de trás da cabeça. Procurei uma arma, uma faca, qualquer coisa próxima o bastante para ajudá-lo a ganhar tempo para fugir, e esbarrou no mouse do computador, que derrapou na mesa. Eu o encarou, inexpressivo, e então olhou para a tela à sua frente. Os dedos do meu cabelo se fecharam, e eu não resisti quando Andrew forçou minha cabeça para trás.