Mentirosa Raposa - Andriel

Capítulo 30

Eu nunca tinha voltado para o ruivo, odiava aquela cor e de quem eu havia herdado. Odiava cada traço meu que me lembrava meus pais, odiavam desde o cabelo e olhos até as pequenas pintas espalhadas pelo meu corpo, como constelações, que eu havia herdado de minha mãe.

Me lembro de me sentir patético enquanto Riko pintava meu cabelo, sem desejo nenhum de lutar. Lembro dele cortando meu cabelo, o chamando de ridículo antes de forçar aquela maquinista de tatuagem em meu rosto, a fazendo mais profunda do que qualquer tatuagem. Eu era patético, eu era patético por ter deixado ele fazer isso comigo.

Como teria sido se eu não tivesse tirado Jean de lá? Ele faria Jean assistir tudo e me consertar depois como antes? Ou era sádico o suficiente para forçar ele a o ajudar a me agredir?

Acordar todas as manhãs, com a dor me fazendo estremecer, já deveria ser comum para mim. A mordida em meu pescoço às vezes latejava, como se tivesse sido feita a pouco tempo e eu sabia que não iria me esquecer dela, mesmo quando ela se cicatrizasse.

Meu irmão parou de me mandar mensagem, provável que já estava a caminho, e o treinador parou de me questionar o motivo de eu o estar ignorando, parecendo apenas se importar com as ligações incessantes que meu irmão fazia para ele para saber de meu estado.

Eu esperava me sentir rejeitado ao ser banido da academia na quinta-feira de manhã, mas Wymack me deu a gravação de uma das partidas mais interessantes da UT para eu assistir. O treinador viu uma partida diferente em seu escritório, e nós dois se reuniram depois para discutir os estilos de jogo dos atletas. As meninas foram me buscar no estádio para que Allison pudesse me maquiar de novo. O processo foi mais rápido, uma vez que ela se lembrava dos tons corretos e já sabia o que fazer.

As aulas passaram que nem um borrão; eu ficava mais tempo preocupado em saber se as pessoas conseguiam enxergar os hematomas sob a maquiagem do que de fato prestando atenção nos professores. Foi um alívio quando a segunda aula acabou às 13h45 e eu pude voltar para a Torre das Raposas. Matt não estava quando eu entrei na suíte. Ao dar uma olhada na grade horária fixada na porta da geladeira, eu percebi que, quando o colega voltasse, já estaria quase na hora de ele sair.

Eu esvaziei a mochila sobre a mesa. Os livros de matemática e espanhol do último semestre ainda estavam guardados na prateleira debaixo da mesa. Eu tirei as anotações de matemática, limpou a poeira da pasta e se sentou para revisá-las. A maior parte era apenas vagamente familiar, mas quanto mais páginas virava, mais se lembrava. Eu tive a sensação melancólica de que sabia como passaria o fim de semana.

Às 14h45, me encontrei com o grupo de Andrew para uma carona até o estádio. As Raposas costumavam ir para os treinos divididas em dois grupos e eu em minha moto, mas estavam em três carros naquele dia, já que iriam para Reddin Hall durante o treino da tarde. Andrew e Kevin seriam os primeiros a se consultar com Betsy Dobson e iriam direto para lá, então Aaron e Nicky se amontoaram na caçamba da caminhonete de Matt com Renee. Eu achava que não conseguiria subir tão alto sem distender algum músculo, mas não precisava me preocupar. Allison o colocou em seu conversível rosa assim que eu me aproximou.

Eu me preparei para responder às perguntas, mas Allison não conversou comigo durante todo o trajeto. Assim que saiu do carro, eu a agradeci, e recebeu um olhar perplexo como resposta. Eu esperei na calçada até que os outros chegassem.

O treino da tarde foi tão horrível quanto o esperado. Eu peguei CD que Wymack me entregou, mas fiquei parado no corredor, perdido enquanto os companheiros trocavam de roupa. Eu os observei entrar no estádio para o aquecimento e precisei de todas as suas forças para não segui-los. Usei o autocontrole que tinha para se sentar no sofá, na esperança de que a partida o distraísse. Só funcionou até que as Raposas voltassem ao vestiário para colocar o equipamento. Eu perdi a noção do que estava acontecendo na tela e olhei para a parede.