Capítulo 32

1.2K 126 129
                                    

⠀𓃦

As aulas do dia 12 de janeiro foram o mais puro desperdício de tempo das Raposas. Eu tinha duas aulas logo cedo e, apesar de ter comparecido, não absorveu nada do que foi falado. As vozes dos professores estavam mais para um ruído de fundo; os textos que escreviam na lousa se transformavam em táticas em jogo. Ainda que estivesse com a caneta na mão, o caderno permaneceu em branco. Teria que pegar as anotações dos colegas de classe emprestadas depois, mas nada daquilo importava naquele dia. Tudo o que importava era que tinham um voo às 13h20 saindo do Aeroporto Regional.

O jogo estava marcado para começar às 19h30, mas Wymack queria que estivessem em Austin duas horas antes. De acordo com ele, não confiava no tempo no inverno. Eu tinha certeza de que a paranoia do treinador trouxe azar. Chovia sem parar, e a baixa temperatura fazia parecer que as ruas congelariam, o que o deixou preocupado com a possibilidade de o voo atrasar. Graças a uma escala de noventa minutos em Atlanta, tinham um tempo extra, mas eu estava com medo mesmo assim. Se perdemos o primeiro jogo do campeonato por um motivo tão bobo quanto a mudança de tempo, jamais me perdoaria.

A chuva era tão intensa que de nada adiantava usar um guarda-chuva, então eu coloquei o capuz na cabeça e corri de volta até a Torre das Raposas. Olhei de relance para o céu na esperança de enxergar onde as nuvens escuras acabavam, e fui recompensado com uma chuva intensa nos olhos. Eu esfreguei a mão no rosto e disparei quando encontrei uma brecha no trânsito da Perimeter Road. Um atleta que descia em direção à aula escorregou e caiu, xingando. Já estava de pé de novo antes que eu o alcançasse, mas aquilo serviu de lição para que eu diminuísse a velocidade. Não sobrevivera à crueldade de Riko para ser incapacitado pela própria falta de paciência.

Aproveitei um lugar coberto durante a minha corrida, pegando meu novo telefone — que era idêntico ao outro e que Wymack comprou e me obrigou a pagar de volta — e entrar na mensagem para meu irmão.

Japa falso:
Como assim tem alguém te seguindo?

Japa falso:
Acha que é alguém do seu pai?

Eu:

Se fosse alguém do meu pai, eu já estaria morto

Japa falso:
Talvez seja Riko brincando com você

Desliguei o telefone, decidi continuar meu caminho antes que a chuva piorasse. As quatro placas de CUIDADO no lounge soavam como um exagero, mas ainda assim eu derrapei um pouco no chão molhado. Eu me apoiei na parede para me equilibrar e passei a carteira embaixo do sensor próximo ao elevador. O sensor em minha carteirinha de estudante era tão forte que fez a conexão mesmo através do couro. Quando os botões se iluminaram, eu apertei a seta para cima e entrou no primeiro que chegou.

O chão estava cheio de água, então eu me segurei firme no corrimão até o terceiro andar. Pegadas molhadas mancharam o corredor. Eu acrescentei as minhas próprias
pegadas ao caos enquanto caminhava a passos pesados para o quarto.

Coloquei roupas secas, mas mesmo assim não me senti aquecido, então me esparramar no sofá com um cobertor. Não me lembrava de ter adormecido, mas acordei com o barulho da porta. Matt parecia alguns centímetros mais baixo com o cabelo molhado grudado na cabeça. Apesar do estado deplorável, sorria ao entrar. Chamou a minha atenção com um gesto, mas não falou
nada até fechar a porta.

— Acabei de ver a Allison — comentou Matt.

— Encharcada? — adivinhei.

— Seria o eufemismo do ano. Acho que o guarda-chuva dela quebrou. Estava num estado terrível. Eu disse que ia tirar uma foto para colocar no anuário, e ela falou que ia cortar minhas bolas fora com as unhas. Aposto cinco dólares que a Dan vai ter que empurrar ela porta afora quando a gente
tiver que sair.

Mentirosa Raposa - AndrielOnde histórias criam vida. Descubra agora