Capítulo 22

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No sábado, eu e Matt estávamos almoçando e assistindo à televisão juntos quando levamos um susto com batidas frenéticas na porta do quarto. Matt revirou as almofadas para encontrar o controle remoto, e eu deixei o prato de lado e me levantei em um pulo para atender a porta. As meninas sabiam que Matt deixava a porta destrancada quando estava no quarto, então eu imaginei que daria de cara com alguém que tinha se perdido no caminho para os quartos de outra equipe. Mas quem estava no corredor esperando era Nicky, de olhos arregalados.

— Nossa, graças a Deus — disse Nicky, estendendo as mãos para mim. — Me ajuda.

Matt finalmente encontrou o controle remoto e pausou o filme enquanto eu erguia uma sobrancelha.

— Que merda é essa? Você está bem?

— Estou a um passo de morrer — disse Nicky. — Minha mãe acabou de ligar pra desejar feliz aniversário para Andrew e Aaron.

— E isso é ruim? — perguntou Matt.

Nicky ficou de queixo caído com a pergunta de Matt, mas a surpresa logo fez a incredulidade desaparecer. Ele coçou a nuca; estava nitidamente desconfortável. Eu achei que ele fosse dar uma risada para disfarçar. Sempre que surgiam problemas pessoais, a primeira reação dos primos era se unir contra os veteranos. Nicky poderia não gostar disso, mas repetirá o comportamento várias vezes ao longo da temporada. Tanto eu quanto Matt ficaram surpresos com a resposta de Nicky.

— Hum, sim — balbuciou Nicky. — A gente não é muito de falar com a minha família, sabe? Meu pai nunca mais falou comigo desde que descobriu que Erik é mais do que meu melhor amigo. Minha mãe liga todo Natal pra ver se voltei pro caminho de Deus e desliga quando digo que não. Acho que Aaron não fala com eles desde o funeral da tia Tilda, e Andrew os evita como se fossem alguma doença contagiosa. Ele e meu pai não se deram muito bem quando se conheceram no reformatório.

— o que significa "voltar para o caminho de Deus"? — pergunto e Nicky sorri sem graça.

— se eu virei hetero e arrumei uma namorada. — respondeu.

Tudo bem, os pais de Nicky eram pessoas piores do que eu imaginava. Eu havia notado que sempre que tocamos no assunto "pais" ele se escolhia e esperava o assunto passar para comentar algo para mudar de assunto.

— Não deve ter sido tão ruim assim — argumentou Matt. — Quer dizer, seu pai
apoiou que ele fosse liberado antes, não?

— Sim, mas... — Nicky disse, hesitante.

— Qual foi o motivo real da ligação? — perguntei.

— Pra convidar a gente pro jantar do Dia de Ação de Graças.

— E?

— E eu desliguei na cara dela! — Nicky agitava os braços. — O que mais eu podia fazer? Não dava pra dizer não, né?

— Você devia ter dito que sim — disse Matt. — Que porra é essa, Nicky?

— Não é tão simples assim. — Nicky parecia angustiado. — O convite só vale se Aaron e Andrew também forem. Minha mãe fez questão de frisar isso. E nem fodendo que Andrew vai topar.

— Só dá pra saber se você tentar — argumentou Matt.

— Acho que você não entende o quanto Andrew odeia meus pais — disse Nicky.

— ainda não entendi o que isso tem haver comigo. — corto a conversa deles, sabendo que ela não daria em nada.

— Me dê apoio moral e suporte — respondeu Nicky. — Se eu for pedir isso pro Andrew ele vai rir na minha cara ou fingir que não ouviu. Mas ele escuta o que você diz, certo? Quer dizer, você o convenceu a irmos juntos na festa, como um time. Talvez dê um jeito de convencê-lo a ir no jantar de família.

Mentirosa Raposa - AndrielOnde histórias criam vida. Descubra agora