Capítulo 24

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Novamente,
cuidado com os gatilhos.


O pronto-socorro do Hospital Geral de Richmond estava lotado, uma mistura de doenças e lamentação. As recepcionistas tentavam organizar o caos da melhor forma que podiam, mas havia gente demais para ser examinada e a quantidade de médicos não chegava nem perto de ser o suficiente. Eu estava longe demais para ouvir o que a recepcionista dizia, mas conseguia perceber pelo seu tom de voz que sua paciência estava por um fio. As reclamações estridentes e discussões dos futuros pacientes continuavam. Eu só estava prestando atenção porque precisava de alguma coisa que o distraísse de meus pensamentos.

As coisas foram de mal a pior quando a polícia de Colúmbia apareceu na casa dos Hemmick. A equipe de primeiros-socorros e os paramédicos chegaram quase no mesmo instante, mas atrás deles também apareceram duas viaturas. Eu não sabia se eles não tinham nada de melhor para fazer em um domingo à noite ou se vieram por ter escutado o nome de Kevin Day na radiopatrulha, ou se meu irmão havia se envolvido nisso. Eu duvidava seriamente se eram mesmo necessários seis policiais para declarar a morte de Drake como legítima defesa. Queria que eles fizessem anotações, examinassem os detalhes óbvios da cena horripilante e apertasse a mão de Aaron ao sair — mas, quando viu Aaron pela última vez, ele estava algemado e sendo levado escada abaixo, Kevin me impediu de ir atrás deles. Pouco depois, a polícia enfiou Andrew, que parecia se divertir, na parte de trás da ambulância e o levou para o hospital.

Não querendo chamar mais atenção, eu mandei Nicky e Kevin para a delegacia para esperar Aaron e disse para que me ligasse assim que falassem sobre a fiança que eu pagaria sem pensar duas vezes enquanto eu ficava esperando no hospital.

Meu irmão tinha me ligado um tempo atrás, dizendo que conseguiu afastar um pouco a mídia e me garantiu que o pai de Nicky estava preso e que eu poderia lidar com ele mais tarde.

Eu não sabia o que aquilo significava: puro azar das Raposas, se havia amaldiçoado a equipe inteira com sua presença ou se casos de estupro e assassinato eram sempre  complicados desse jeito. Eu não saberia dizer; mal conseguia pensar. Aaron já estava lá há quase quarenta minutos. Eu evitava
ficar o tempo inteiro olhando o relógio, mas era mais forte do que ele. A multidão à sua volta não mudava com tanta rapidez assim para ser uma boa fonte de distração.

Mas o homem que entrou pelas portas de vidro de correr dois minutos depois era. Sem nem perceber, eu me levantei, e o movimento repentino chamou a atenção de Wymack, que apontou o dedo para o chão à sua frente. Eu abri caminho pelo corredor lotado, e o treinador mal esperou que ele se aproximasse para sair novamente. Eu apertei o casaco com mais força e o acompanhei.

Wymack me guiou até a área de fumantes, que ficava a cerca de seis metros dali. Eu vi a sacola plástica pendurada no braço do treinador, mas, assim que Wymack tirou um maço de cigarro do bolso, eu me esqueci de perguntar o que era, esticando a mão em um pedido silencioso. Wymack arqueou a sobrancelha e disse:

— Até onde sei, você não fuma.

— Não fumo mesmo — digo.

Wymack entregou o cigarro para ele de todo modo e pegou outro para si. Estava ventando forte, então foi difícil para conseguirem acender os cigarros. Eu dei uma longa tragada para garantir que o cigarro estava mesmo aceso, então cobriu-o com as mãos. O cheiro ácido da fumaça, por mais fraco que fosse em uma noite como aquela, deveria ser reconfortante. Mas não era.

— O que você está fazendo aqui? — perguntei.

— Kevin me ligou — respondeu Wymack. — Trouxe roupas limpas para o Andrew.

Mentirosa Raposa - AndrielOnde histórias criam vida. Descubra agora