07. Napurē mal

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Depois da conversa desastrosa o jantar foi completamente silencioso, Minho ainda tentava digerir as informações juntamente a comida e o comandante não parecia interessado em falar sobre outro assunto.

E antes de se retirar do quarto Jisung fez questão de lembrar ao Lee que ele tinha duas opções. Casar ou casar.

Um novo dia havia se iniciado e tudo o que Minho pensava era em como iria fugir dali. Poderia pedir ajuda a Christopher, mas mesmo o loiro sendo legal e o tratado bem, ainda assim era amigo e também subordinado do comandante. Com um suspiro desanimado o Lee levantou da cama, encarando as próprias mãos amarradas enquanto pensava.

— Mandou me chamar? — Jisung abriu a porta de repente, adentrando o cômodo.

A única maneira de fugir dali era saindo de dentro daquela torre e para isso precisaria estar acompanhado, ninguém melhor do que o próprio comandante para lhe fazer companhia.

— Já que vamos casar ao pôr do sol acho justo o conhecer um pouco melhor. — O Lee se justificou. — Por isso pedi para que o chamasse, gostaria de passear com você.

Os olhos pequenos e analíticos de Jisung o observaram, concordando depois de alguns minutos em silêncio. O comandante se aproximou e tirou as algemas que prendiam as mãos do mais velho.

Minho sorriu ao se ver finalmente livre do aperto, tocando os pulsos machucados e olhando o menor logo depois. O Han também suspendeu o olhar para olha-lo, rindo fraco ao vê-lo tão feliz por estar livre, entendendo a situação.

— Se você tentar fugir ou qualquer outra coisa eu mato você. — Avisou, sorrindo presunçosamente. — Vamos? Irei te levar ao meu lugar favorito.

O Lee engoliu a seco e suspirou, andando ao lado de Jisung em silêncio. Esforçava-se para acompanhar o ritmo que o comandante caminhava, se irritando sempre que alguém aparecia para interromper a caminhada deles e perguntar algo ao menor.

Depois de certo tempo finalmente conseguiram sair da torre principal, agora estavam no meio do mercado junto ao povo do recanto que iam de um lado para o outro. Algumas crianças passaram correndo ao lado deles e uma delas se esbarrou em cheio no comandante e caiu no chão.

Jisung encarou a garotinha, percebendo o nervosismo dela e seu desespero ao reconhece-lo. O Lee se surpreendeu assim como ela quando o comandante se abaixou em sua frente e checou se ela estava machucada.

— Você está bem? — Jisung a questionou procurando por algum machucado nos joelhos dela, venda-a negar. — Tudo bem então, corra com cuidado. — Sorriu ao vê-la levantar e voltar a correr.

Quando se levantou encarou o Lee rapidamente, percebendo a expressão exageradamente surpresa que ele mantinha no rosto. Jisung voltou a caminhar enquanto ele voltou a segui-lo.

— Por que a surpresa? — O comandante questionou, parando na frente de uma barraca enquanto analisava as mercadorias expostas ali.

— Não esperava por esse tipo de reação... — Minho murmurou envergonhado.

Jisung o olhou por cima dos ombros com um sorriso contido, pagou por um broche com enfeite de coelho e então se virou para o Lee prendendo o acessório em sua camisa folgada.

Os olhos do comandante estavam focados no broche, enquanto os de Minho focaram em seu rosto. Ok, o Lee admitia que ele era bonitinho, porém ele também era extremamente assustador quando queria e talvez o mais velho tivesse um pouquinho de medo dele.

— Os noivos trocam presentes, aí está o seu. — Jisung comentou e o olhou sem se afastar. — Irei aguardar pelo meu.

— Não tenho moedas para lhe comprar algo. — Minho respondeu desanimado, analisando o acessório. — Obrigado.

Jisung deu de ombros e se afastou, voltando a caminhar. Os dois andavam um ao lado do outro em completo silêncio se distanciando do mercado. As conversas e pequenos gritos de crianças que brincavam ali próximas foi cessando aos poucos, conforme se afastavam do lugar movimentado.

Através dos portões do fundo do recanto eles saíram do lugar, ficando completamente expostos a floresta. O silêncio ainda os acompanhavam, até Minho decidi quebra-lo.

— Por que você resolveu se tornar o comandante de seu povo? — Questionou curioso, olhando tudo ao redor. A terra estava tão diferente do que conhecia, os enormes prédios e as casas já não existiam mais. A natureza tomou conta de tudo, mas era extremamente belo.

— Não foi uma escolha minha. — Ele respondeu, suspirando. — A linhagem dos Han's vem sendo o comandante do meu povo há séculos, então digamos que devido as tradições eu precisava assumir esse posto.

— Nossa...

— Como é o céu? — Jisung o olhou. — Minha avó dizia que dava para ver tudo que acontecia aqui embaixo de lá.

Minho riu e rapidamente negou, vendo a expressão confusa do menor.

— Da para ver a terra, mas não necessariamente o que acontece nela. É muito longe. — Minho explicou. — Mas a galáxia é incrível.

Ouviu o menor rir abertamente, sorrindo minimamente com isso. Era a primeira vez que via Jisung tão tranquilo daquela maneira. A primeira vez que o via rir.

Jisung desviou o olhar do mais velho para uma árvore, puxando Minho com a mão e trocando a direção que caminhavam. O Lee entreabriu os lábios surpreso ao ver um caminho envolta de bambus, conseguindo ouvir o barulho de água caindo e se quebrando em meio a pedras.

— Essas cicatrizes aconteceram no céu? — Jisung perguntou distraidamente, riscando um dos bambus com a ponta de sua facagoo.

— Hm, não. Foi durante a aterrissagem na terra... — Minho resmungou se abaixando ao ver uma flor violeta.

Iria pegar a flor, mas Jisung conseguiu o impedir antes enquanto negava com a cabeça.

— Ela tem um revestimento de veneno no caule, quando alguém toca a pele da mão queima e bem... — Comentou fazendo uma careta. — Napurē mal.

—Napurē mal... — Minho repetiu baixinho. — Então ela é como você?

— O que? — Jisung riu. Um riso surpreso.

— Eu tenho a impressão de que você é revestido com veneno e quem ousar lhe tocar acaba morrendo. — O Lee respondeu sério, encarando os olhos pequenos que estavam focados em si. — Eu estou errado?

— Onde quer chegar com isso? — Jisung retrucou sem se afastar, haviam se aproximado inconscientemente.

Minho sorriu minimamente e finalmente se afastou, pigarreando. O comandante soltou todo o ar que prendeu em seus pulmões, virando o corpo para o sentido contrário e começando a andar novamente. Ainda não haviam chegado ao destino deles.

O maior riu sem ânimo e se manteve parado por um tempo, negando com a cabeça e voltando a seguir o comandante novamente. Minho não entendia de onde havia tirado aquela ousadia muito menos o porquê de ter surgido aquela atitude, mas naquele passeio deles ele estava enxergando Jisung com outros olhos e por um momento se esqueceu o motivo real de estar ali com ele.

Entretanto, estava se sentindo dividido entre ir ou ficar. Ele queria muito voltar e reencontrar Felix, mas seu suposto casamento com o comandante e o próprio Jisung já não estava o assustando tanto quanto antes. Estava se sentindo perdido.


——

A língua nativa dos terráqueos vai ser o cingalês, não irei criar uma fictícia porque é um assunto meio irrelevante para a obra visto que a grande maioria vai falar o coreano normal e não vai ter essa dificuldade de comunicação. Eles normalmente falarão na língua nativa quando for algo ''confidencial'' ou algo assim.

Napurē mal = flor do mal.

Tears [MINSUNG]Onde histórias criam vida. Descubra agora