51. Trinta & Quarenta e cinco

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Por inúmeros motivos o comandante foi instruído a permanecer na caverna do curandeiro para ficar em observação, Changbin cercou o lugar com uma cortina improvisada de folhas para o dar privacidade e informou que se ele descansasse bem poderia ir embora depois de dois ou três dias.

Durante esse tempo Minho chamou o outro 'pra conversar, ele explicou sobre a situação e pediu para que o mais baixo guardasse o segredo para evitar qualquer tipo de conflito e principalmente mortes. No final daquele dia Jeongin foi visita-los, então agora apenas quatro pessoas sabiam da situação.

Talvez fosse alguma benção dos deuses, mas o inverno chegou mais cedo do que o esperado e com ele a neve. Jisung acompanhou o cair da primeira neve enquanto amamentava a bebê, completamente perdido nos próprios pensamentos e no medo que sentia.

Eles teriam como sustentar a mentira e esconder a situação durante o inverno, mas e depois? Sequer gostava de pensar no assunto. Com um suspiro cansado ele se permitiu dormir abraçado com a recém nascida, ouvindo o sopro do vento lá fora e o ressoar baixo de Minho que já dormia no chão ao seu lado.

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A primeira coisa que fez ao ser liberado foi levar a bebê para conhecer o lar temporário, recebendo a ajuda de Jeongin sempre que precisava ir resolver alguma situação da tribo.

Minho até tentou segurar as pontas e conter a pequena rebelião que aos poucos se iniciava, mas ele não conseguiu. Adquiriu respeito de uma parte do povo e por mais que fosse casado com o líder ainda não era uma autoridade, pelo menos não oficialmente, então não tinha poder para interferir naquele tipo de situação. 

Por causa do ataque sofrido e da tentativa de assassinato o povo queria que Jisung julgasse e condenasse a mulher a morte, estavam pressionando ele há dias e fazendo um rebuliço do lado de fora da caverna do comandante. Jisung mal conseguia fazer a pequena dormir com todo aquele barulho, ele realmente estava tentando escapar de sua realidade e de seus compromissos pela primeira vez na vida, mas algo sempre o puxava para seus afazeres.

Agora ele estava do lado de fora, encarando todos os rostos conhecidos que pareciam irritados e confusos sobre o silêncio do comandante referente a aquela traição. Sim, para o seu povo aquilo foi sinal de traição. Não estava no costume deles se opor contra o líder e sua família,  na verdade eles nunca se opunham uns contra os outros a não ser que algum tipo de crime fosse cometido.

— Senhor... Prendemos ela, por favor a julgue.  — Um dos guerreiros esquentadinhos foi o primeiro a tomar a palavra. — Queremos a morte de Nayeon!

Jisung o olhou absorto, ouvindo os outros concordarem com o homem em meio a gritos. Suspirou cansado, apesar da situação delicada e de quase ter pedido seu bebê ele de certa forma não culpava a mulher e conseguia a entender.

Não saberia como iria reagir se estivesse no lugar dela, talvez poderia fazer pior, não seria justo tomar a vida dela por algo banal e uma consequência dos seus próprios atos.

— Acalmem-se. — Pediu, esbanjando cansaço. — Realmente me sinto grato pela preocupação de vocês, mas não pretendo julgar e condenar aquela mulher.

Os murmúrios se iniciaram enquanto eles cochichavam incrédulos, Minho olhou o comandante descrente e acabou deixando mais do que claro a sua indignação assim como a do povo.

— Eu sei que ela me machucou e teve intenções errôneas,  mas eu a machuquei antes quando matei o seu filho. — Murmurou. — Me sinto culpado pelo acontecimento,  não acho que é justo tomar a vida dela.

— Jisung! — A voz do Lee soou. — Ela tentou matar você e o nosso bebê, realmente não vai fazer nada a respeito?!

— Não irei mata-la, porém ela será deserdada. — O comandante respondeu,  olhando brevemente o marido. — É um bom castigo para o tipo de crime que ela cometeu.

— Ela tentou matar você e-

— Realmente não irei discutir minha decisão com você ou outra pessoa. — Jisung sentenciou, colocando um ponto final no assunto.  — Por falar em decisão,  gostaria de rever algumas leis. Ryujin você poderia reunir os líderes e sacerdotes?

A mulher concordou e então se afastou, enquanto as pessoas que se reuniram próximos à caverna se afastavam aos poucos também.  O comandante se virou para o marido e o viu suspirar, enquanto negava e se afastava em silêncio.

Jisung observou o Lee adentrar a caverna, virando levemente o corpo na direção da mulher que estava isolada e presa do lado contrario, seguindo logo depois o mesmo caminho que Ryujin traçou. Ele sabia que já era tarde e talvez poderia falhar na abominação de algumas leis, mas resolveu tentar de novo.

Não queria saber como, mas iria convencer todas as pessoas que fosse preciso para que as leis mudassem de acordo com o que eles viviam e tinham conhecimento atualmente.  Era injusto manter leis antigas e seguir cegamente a devoção de seus ancestrais já que muita coisa havia mudado. Ele iria quebrar aquela tradição e de uma vez por todas.

Por outro lado, enquanto Jisung se reunia com os ''cabeças caras'' para discutir assuntos importantes e melhoria para o povo, Minho estava com o adolescente e a bebê em casa.

Assim que adentrou a caverna pôde ver que o adolescente parecia brincar com a bebê,  fazendo uma voz fina sempre que se dirigia a ela e mostrava o pequeno brinquedo que havia esculpido para ela. Admirou em silêncio a cena e então se aproximou, sentando um tanto que desleixado na cama improvisada.

— Antes de sair o comandante me pediu para fazer ela arrotar, mas eu não consegui. — O adolescente comentou enquanto a balançava levemente para cima e para baixo, antes de entregar o bebê ao mais velho. — E ela está inquieta, talvez por causa da agitação lá fora.

Minho segurou a bebê, apoiou o corpo pequeno dela em seu peito deixando o rosto avermelhado próximo de seu ombro, dando pequenas batidinhas nas costas cobertas por um casaco grosso — presente de Christopher e Seungmin.  Ele balançava levemente o corpo para os lados no ritmo em que dava as batidinhas.

— Deve ser legal ser pai. — Jeongin comentou ao observar o outro, sorrindo. — Você leva jeito.

O mais velho apenas riu fracamente,  ouvindo o pequeno e fraco arroto da bebê. A afastou com cuidado segurando o corpo durinho que se mantinha em pé apesar dos poucos dias de nascida, deitando o corpinho sobre o braço enquanto começava a ninar a garotinha.

— Você pensa em ser pai?

— E-eu mesmo n-não. — O outro respondeu, nervoso. — Sei que não vou me casar...

— Por que não?

— Eu sou enfermo, ninguém quer casar com alguém como eu. — Murmurou cabisbaixo. 

— Claro que um dia vai achar alguém legal que te ame do jeito que você é para casar, mas enquanto esse dia não chega não precisa pensar nele ou querer apressar as coisas.  — O Lee não deixou de encorajar, sorrindo acolhedor. — Fora que terá minha benção para casar somente depois dos trinta.

— Trinta? Isso tudo?! — O adolescente falou exasperado. — E a Jun?

— Depois dos quarenta e cinco.

O queixo do adolescente foi ao chão de tamanha incredulidade,  bufando e fazendo um enorme bico ao ouvir a gargalhada muda do mais velho que tentou se manter sério mas não conseguiu, porém tentava não fazer barulho para não acordar a bebê que agora dormia.

Jeongin acabou dando um sorrisinho enquanto negava, suspirando em meio aos devaneios. Ele queria ser como Minho quando crescesse.

Tears [MINSUNG]Onde histórias criam vida. Descubra agora