Tudo aconteceu rápido demais. Quando Minho se tocou, estava no meio do acampamento ouvindo os risos alegres e as conversas a sua volta, todos pareciam comemorar pelo seu retorno.
Ele não falou com ninguém que estava ali, nenhum rosto era familiar fora o de seu irmão, então realmente não entendia o porque pareciam tão felizes com sua suposta volta. Felix tinha motivos para festejar, eles não.
Ao se aproximar da fogueira com Felix ao seu enlace seus olhos se focaram no grande pedaço de carne que estava sendo assado, enquanto ao lado e não muito longe a carcaça com o resto dos pedaços, incluindo a cabeça do dragão estavam jogados ao chão. Era... Era Minji!
Por um momento Minho se desesperou e avançou alguns passos, mas foi parado pelo irmão que o olhava confuso ao vê-lo tão atordoado.
— Vem, vamos a minha barraca para conversamos melhor. — Felix cochichou. — Tenho tanta coisa para contar!
Minho não se opôs, apenas o seguiu em silêncio, adentrando a barraca exageradamente espaçosa para apenas uma pessoa utilizar. Diferente do quarto que dividia com o comandante, aquele lugar estava uma zona. Era roupa por todo lado e o moreno estranhou visto que o irmão nunca foi bagunceiro.
— Pode sentar na cama. — Felix falou, sentando cuidadosamente. O irmão mais velho fez o mesmo. — Eu divido ela com meus namorados...
— Namorados? — Perguntou, surpreso com o plural.
— Uhum... É. — Felix respondeu. — Muita coisa aconteceu enquanto você esteve desaparecido, acabei me apaixonando por Hyunjin e também por Changbin e como eles já tinham um caso, apenas me incluíram. — Deu de ombros, rindo fraco. — Vou apresenta-los a você.
Minho concordou sem dar muita importância, amava seu irmão, mas não queria conhecer ninguém daquele lugar. Na verdade aquela informação poderia fazer as coisas se tornarem mais difíceis, como iria convencer alguém apaixonado a ir consigo?
— O que você falou sobre ter visitado o comandante Han?
— Ah. Eu não sei exatamente quando, mas acredito que sete noites atrás quando ele escoltava alguns dos seus homens eu me encontrei com ele. — Felix respondeu pensativo. — Ele é tão cara de pau, acredita que estava me convidando para se juntar a ele e seu povo? Esses terráqueos insolentes...
Minho travou a mandíbula ao ouvir as últimas palavras, suspendendo o olhar para fitar o irmão. Felix estava mudado e ele não sabia dizer se aquilo era algo positivo, ele parecia tão diferente, estava irreconhecível para si.
— Por que não aceitou? Ele o convidou, afinal.
— Aceitar? — Riu. — Você perdeu o juízo? Ele o sequestrou sem mais nem menos e matou algumas pessoas aquele dia, são um bando de selvagens que só pensam em derramar sangue! Claro, não foi a primeira vez que fizeram isso contra meu povo.
— Seu... povo?
— Nosso povo. Todos estão felizes com sua volta. — Felix se corrigiu, sorrindo ternamente antes de voltar a ficar sério. — Eu o ameacei, você fugiu ou ele lhe libertou?
— Você realmente o ameaçou? Como assim, Felix? — Minho soou quase desesperado com a pergunta, vendo a rápida mudança de expressão do irmão.
— Eu joguei uma lança contra ele e falei que se não o libertasse por espontânea vontade iríamos invadir o território dele declarando guerra. — Respondeu neutro. — Mas, felizmente ele foi sensato e o deixou vir.
— Então foi você quem machucou ele? — Minho soou desapontado, lembrando do corte de raspão no braço do comandante. Ele realmente mentiu para si somente para evitar que Minho descobrisse que na verdade seu irmão o feriu? — Você machucou o Jisung?
— Jisung? — O mais novo resmungou o nome, confuso.
— Felix! — Minho esbravejou, levantando. — Você não era assim, definitivamente não era! Olha para as coisas que você fala, olha as coisas que anda fazendo! Que tipo de lavagem cerebral esse povo fez em você? O Lee Felix que eu conheço não seria capaz de levantar a mão contra um mosquito!
— O Lee Felix que você conhece morreu, Minho hyung! — O rapaz respondeu no mesmo tom, levantando. — Qual o seu problema? Não está feliz por ver que me tornei um sobrevivente?
— ''Um sobrevivente''? — Minho riu, desacreditado. — Você se tornou um deles, um assassino, ou quase um!
— Assassino? Olha as coisas que está falando! — Felix rebateu. — Sabe quantas pessoas morreram aquele dia que o levaram? O San, Jennie, Naeyon e o Vernon! Acha pouco, não é? Eles vem nos matando há séculos somente porque os ancestrais não tinham dinheiro para os proteger da radiação em um bunker!
— Você está completamente errado sobre eles! — Minho defendeu, dando dois passos para a frente. — São e tem costumes diferentes, mas não deixam de serem humanos como todos nós!
Felix ficou em silêncio, cruzou os braços e encarou o irmão como se conseguisse ler sua alma. A sensação que Minho sentiu percorrer por toda a sua espinha o fez ficar em alerta, inconscientemente.
— Oh. — Por fim riu. — Não me diga que você se apaixonou por um dos monstros que levou você? — Perguntou entre risos, negando com a cabeça. — Eu não acredito! Isso é uma piada?
O Lee mais velho se manteve em silêncio. Apaixonado? Ele não estava apaixonado por Jisung, apenas se acostumou e aprendeu a gostar dele inconscientemente, mas admitir estar apaixonado era demais. Agora eram uma família, nada mais, nada menos.
— Seria o Jisung? — Felix questionou depois de se recompor da sua crise ridícula de riso.
— Já não sei mais se interessa falar qualquer coisa da minha vida a você. — Minho respondeu magoado, vendo o outro diminuir o sorriso aos poucos. — Nem sei também se vale a pena traze-lo comigo.
—Como assim "traze-lo comigo"? Pretende voltar?
— Eu não vim hoje porque fui libertado pelo comandante ou fugi dele e de seu povo. — Minho respondeu breve. — Tenho a opção de ir e vir quando eu quiser, não sou um prisioneiro como você acha. Eu vim hoje aqui com o propósito de levar você comigo, mas não sei mais se vale a pena.
— Hyung, você não pode estar falando sério... — Felix chiou. — Realmente pretende voltar para quem sequestrou você e matou seus amigos?
— Eu não tenho amigos aqui, nunca tive nenhum vínculo com esse povo a não ser você. — Minho retrucou. — O meu amigo foi capturado e ninguém sabe se realmente está vivo ou não. A minha amiga está lá fora morta, sendo servida como um pedaço de carne insignificante!
— Você é realmente um mal agradecido, sempre foi. — Felix respondeu baixo. — Em pensar que eu me espelhava em você... Quando se tornou um lixo desprezível, Minho?
— Mal agradecido é você que nunca soube reconhecer as pessoas que sempre estiveram ao seu lado e estavam dispostas a te ajudar, assim como apunhalou a mamãe anos atrás está me apunhalado hoje!
— A mamãe está morta e para mim você também morreu. — Felix respondeu totalmente rude.
— Felix! O prisioneiro sumiu! — Um garoto baixinho apareceu na barraca ofegante, falando em um tom desesperado e atraindo a atenção dos dois irmãos.
— Então quer dizer que você era uma distração para nos fazer baixar a guarda? — O Lee mais novo questionou, negando e rindo. — Vocês são patéticos.
Foi a última coisa que disse antes de segurar uma lança em uma das mãos e sair da barraca, deixando o Lee mais velho para trás.
Minho sentiu uma enorme vontade de desabar no chão e chorar como um garotinho, estava sentindo tanta coisa que sequer saberia descrever. Entretanto, não era hora para aquilo. O comunicado do rapaz foi claro, com certeza os outros conseguiram achar Christopher e o resgataram, agora ele precisava sair dali também.
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Tears [MINSUNG]
FantasiaLee Minho e seu irmão Felix são dois astronautas que estavam em uma missão no espaço quando o mundo em que viviam foi bombardeado por uma radiação que matou milhares de pessoas. Depois de anos presos dentro de uma nave no espaço, os rapazes acabam s...