55. O acordo da paz

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E o grande dia havia finalmente chegado. O plano para o ataque dos terráqueos seria simples, eles iriam intimidar os inimigos logo cedo ao raiar do sol ordenando que o líder se rendesse e suspendesse a bandeira branca e caso Hendery nem seu povo colaborasse, eles os atacariam no final do dia iniciando a chacina.

Para essa intimação que fariam apenas o comandante e outros dois terráqueos iriam e os outros ficariam no recanto improvisado para se preparar 'pro ataque se um acordo não fosse feito. E assim aconteceu.

O comandante estava na frente dos muros do Linpo,  encarando os vigias que olhavam para ele completamente assustados enquanto tinham suas lanças voltadas para fora dos muros. Jisung não se intimidou, permaneceu em pé os olhando seriamente aparentando estar com a guarda baixa.

— O que faz aqui?! — Um dos vigias gritou a plenos pulmões. — Vá para longe de nossas terras se quiser evitar um novo ataque!

Jisung riu desanimado e cruzou os braços, olhando nos olhos acinzentados que o fitava com seriedade.

— Eu não falo com os ratinhos, onde está Hendery?

— Já mandei ir embora.  Se afaste! — Bradou ao ver o comandante se aproximar alguns passos. — Hendery tem muito o que fazer, ele não virá até você.

— Esta insinuando que devo esperar? — Questionou,  olhando para os outros dois que o acompanhavam. — Tudo bem. Eu dou uma hora para que ele dê as caras 'pra fora desses muros fracos.

Dito isso o comandante caminhou até uma árvore e se encostou no tronco enorme, focando os olhos nos dois vigias que se olhavam enquanto falavam baixo um com o outro.

O sol quase invisível do inverno pintava no céu uma imagem opaca, além do frio que fazia por causa do vento gélido e toda a neve ao redor deles.

— Um saiu. — Jooheon murmurou, olhando o outro vigia que por um momento se distraiu em cima do muro. — Devo ir?

— Sim. — O Han respondeu no mesmo tom, vendo o rapaz se afastar de maneira sorrateira e sumir dentre as árvore. Ele iria olhar ao redor dos muros para ver se havia alguma brecha, qualquer coisa seria crucial para facilitar o ataque que fariam.

— Apenas dois na guarita... — Shownu comentou baixinho, ele estava abaixado ao lado do comandante.  — Não é intrigante?

O comandante apenas sorriu minimamente,  mordendo o inferior de sua bochecha. 

— A segurança desse lugar nunca foi uma das melhores, tanto que eles sempre tiveram medo do nosso ataque e por isso fizeram essa aliança com povos mais fortes... — Jisung comentou ao se espreguiçar.  — Ele esta vindo.

Os olhos escuros estavam focados na figura de Hendery que praticamente marchava em sua direção. O líder estava acompanhado de dez pessoas e todos vinham fortemente armados com lanças e espadas.

Jisung teve vontade de rir ao ver aquilo, tentando focar apenas no motivo pelo qual ele havia ido aquele lugar tão cedo. Aparentemente Hendery continuava sendo um grande nada sem os aliados por perto para o livrar dos problemas e lhe garantir a "vitória".

Quando Hendery se aproximou o rapaz que acompanhava o comandante levantou, ele era bem maior e mais forte do que Jisung e seu rosto tinha tanto piercing que o tornava assustador aos olhos dos meio sangues.  Ele parecia brutal assim como todos os terráqueos.

— O que veio fazer aqui? — Hendery questionou impaciente.  — 'Pra que toda essa cena em minhas terras?

— Essas terras não são suas, Hendery. — O comandante se pronunciou calmamente.  — Você que a tomou e se escondeu aqui.

— Não guarde tanto rancor, Susu.

Jisung rosnou baixinho ao ouvir aquele apelido, ouvindo o outro rir de si. Ele já havia apagado totalmente de sua vida e suas memórias a época de sua adolescência e do rápido romance que havia tido com aquele homem. Era um dos seus maiores erros e arrependimentos.

— A cova da sua mãe ainda esta lá atrás. — O líder voltou a comentar, encarando seriamente o Han. — Não sei o que veio fazer aqui, mas é melhor você sair e voltar a sumir se quiser permanecer vivo.

Originalmente aquele lugar era habitado por uma de suas tribos, ele cresceu naquelas terras e foi lá que sua mãe morreu e todas as desgraças aconteceram. Hendery havia se envolvido consigo justamente para o enganar e tomar aquele terreno do seu povo, foi uma das piores épocas que o povo de Tears enfrentou.

— Hendery. — O comandante o chamou. — Eu não vim aqui falar do passado até porque nada do que fizemos irá mudar, foram as nossas escolhas na época e já sofremos nossas consequências.  — Falou sincero.  — Mas precisamos colocar um ponto final nessa história.

— Eu concordo. Está me chamando para um duelo?

— Não. Na verdade,  não exatamente.  —  Resmungou, retomando rapidamente a postura. — Eu vim propor um acordo.

— Acordo? — O outro questionou explodindo em gargalhadas alta, olhou ao redor e logo depois para trás vendo uma grande quantidade dos meio sangue os observando de longe. — Ele veio me propor um acordo, pessoal! — Gritou, rindo.

Jisung nada falou, apenas esperou em silêncio que a crise de riso do outro cessasse.

— E qual seria esse acordo, comandante?

— Você vem comigo em troca da liberdade e da vida do seu povo. — Jisung começou, olhando seriamente o outro que retirou o sorrisinho irônico dos lábios ao ouvir aquilo.

— Desculpe?

— Você vem comigo e o seu povo vive, Hendery. A proposta é essa.

— E por que você acha que eu iria ir com você? — O outro questionou, estreitando os olhos. — Quem se daria aos lobos assim? Acha que sou otário?

— Não depende somente de você, não percebeu que graças a sua crise de riso todos estão prestando atenção em nós? — O comandante questionou e deu um passo a frente olhando nos olhos do outro. — É bem simples na verdade,  não precisamos ter uma guerra e muitas perdas, eles precisam apenas dar você a mim. 

— Eu não irei a lugar nenhum. — Hendery retrucou. — Ninguém daria um líder assim.

— Mas você não se sacrificaria pela vida do seu próprio povo? — Jisung questionou de maneira audível, ouvindo os murmúrios ao redor deles. — Não está pensando como um líder, Hendery. Você pensa como um garotinho que tem sede de poder e é extremamente egoísta com os seus.

— Eu vou matar você. — O meio sangue sussurrou, trincando a mandíbula ao sentir os dedos do comandante limparem seu ombro.

— Não, eu vou matar você. — O comandante falou no mesmo tom enquanto encarava os olhos vermelhos do outro. — Bem lentamente, mas vou. E depois irei tomar banho com o seu sangue, afinal você é apenas uma escória.

Jisung se afastou e então encarou a quantidade de meio sangue que prestava atenção neles, sorrindo ironicamente antes de virar as costas e sair tranquilo.

O vento soprou forte bagunçando o cabelo longo do comandante, Jooheon surgiu de trás de uma árvore arrastando o corpo de um garoto mais novo que estava com um corte profundo de degola no pescoço e a cabeça pendia levemente,  não estava totalmente presa ao corpo. Jogou o cadáver aos pés de Hendery e então seguiu seu líder,  consequentemente sendo seguido por Shownu que apenas os olhou uma última vez antes de se virar.

Aquele povo infeliz teve sua chance, mas ninguém se pronunciou e Hendery claramente negou a proposta, Jisung não iria dar para trás agora. Deveria ter acabado com aquilo há muito tempo.

Tears [MINSUNG]Onde histórias criam vida. Descubra agora