10. Amar é fraqueza

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Jisung o levou para seu próprio quarto, precisariam dividir os aposentados agora que estavam casados. O Lee ainda aparentava estar em choque e ele tremia levemente sempre que lembrava da cena ou que seu corpo ainda estava sujo de sangue.

Quando adentraram o quarto o comandante fechou a porta, virando para o Lee que olhava tudo com certa curiosidade e apreensão. Era bem maior do que o cômodo que estava ficando, fora que havia alguns detalhes decorativos em ouro.

Os olhos se focaram no rosto do menor e ao ver o sangue misturado a pintura da face alheia ele se lembrou da cena de minutos atras, balançando a cabeça na tentativa de tirar a imagem de sua memória. Jisung lavou o rosto e foi até o maior com um pano molhado em mãos, jogando-o para Minho.

Com as mãos levemente trêmulas o Lee tentou se limpar, esfregando o pano no rosto com certa força e desespero. Vendo a tentativa falha do outro o comandante suspirou, pegando com certa brutalidade o lenço e suspendendo o rosto de Minho obrigando-o a lhe olhar.

Deslizou o pano na pele do rosto alheio, limpando suas bochechas, testa, nariz e queixo com cuidado e uma leveza que surpreendeu Minho. Ao terminar Jisung pegou a mão cortada do maior, limpando o pouco do sangue que ainda expelia do corte.

— Por que ele se matou? — Minho finalmente questionou o que tanto queria.

— Ele não se matou, ele voltou para a casa dele. — Jisung respondeu, concentrado em amarrar um pano seco em cima do corte alheio. — Acho que há séculos ele espera por esse dia.

— O dia de se matar?

— Não, Minho. — Jisung suspirou cansado. — Ele libertou o próprio espírito com a nossa união, faz parte de nossa cultura e nossa crença. Ele não morreu, apenas voltou para o plano espiritual para cuidar de nós de lá.

O Lee concordou meio incerto e então suspirou, segurando a mão cortada do menor impedindo que ele se afastasse. Minho rasgou um pedaço do pano que abafava seu corte, enrolando na destra de Jisung e o amarrando.

— Eu queria ter perguntado mais cedo, mas fiquei com medo. — Minho resmungou, suspendendo levemente a manga longa da túnica branca que o Han usava. — O que as tatuagens significam?  Percebi que todo o seu povo tem.

— Uma tatuagem para cada pessoa morta por minha lâmina. — Jisung explicou, mostrando algumas que tinha em um dos braços. — E essa representa cinquenta. — Mostrou uma foice cravada em um coração que tinha no pulso. — Todo muito que possui ela já matou mais de cinquenta inimigos, quando se passa desse número não fazemos mais tatuagens.

— Interessante... — Minho cochichou analisando o desenho e olhando nos olhos do Han. — Então você já matou mais de cinquenta pessoas?

— Cento e dezoito.

— Por quê? — O Lee questionou.

— Muitos motivos, Minho. — Jisung respondeu indiferente. — Isso te faz me temer ainda mais?

— Sinceramente, não. — O Lee retrucou ao dar de ombros. — Acho que consegui conhecer um lado do Jisung que me faz lembrar que apesar de todas as mortes e do seu reinado, você não é uma pessoa ruim como tenta aparentar ser.

— Ninguém tenta parecer ser uma pessoa ruim, Minho. — Jisung se afastou, dedilhando as madeixas pronto para trançar o cabelo longo. — As pessoas são apenas elas mesmas.

— Eu concordo, mas não significa que você seja um assassino ou alguém ruim.

Jisung riu e o olhou, negando. O Lee se levantou e se aproximou do menor, ficando na frente dele.

— Então 'pra você sou o que?

— Um ser humano pequeno que parece carregar o peso do mundo nas costas. — Minho resmungou, desviando do Han ao passar por ele.

Jisung a princípio não teve reação para aquilo, apenas se virou para o rapaz perplexo e então o ignorou, terminando de arrumar seu cabelo enquanto ouvia Minho adentrar a banheira para se banhar.

Aquilo não estava certo. Não sabia o porquê, mas Jisung se sentiu inquieto ao ouvir aquelas palavras. Um ser humano pequeno que carrega o peso do mundo nas costas, ele realmente era aquilo? Se fosse, parecia ser tão... Exaustivo.

🚀

As horas passaram rapidamente e mais uma vez naquele dia Jisung estava completamente pensativo. Já havia se banhado novamente e jantado, agora observava as ruas desertas do recanto e as estrelas no céu.

Tentou parar de pensar nas palavras de Minho, mas simplesmente não conseguia. Estava se martirizando e viajando nos próprios pensamentos, sofrendo calado com os sentimentos confusos que se afloravam de si sempre que pensava um pouco mais sobre o assunto.

Já Minho, estava deitado na cama em completo silêncio observando o teto, tentando decifrar os desenhos que estavam pintados ali.

Cansado de pensar demais no mesmo assunto o Han suspirou e se levantou, deixando a sacada fria do quarto e caminhando até a cama onde o outro estava. O comandante ficou parado na frente do Lee por longos minutos, vendo-o olha-lo confuso.

— Aconteceu alguma coisa? — Minho perguntou ao se sentar no colchão.

— Não. — Jisung respondeu. — Você prefere se deitar comigo hoje ou amanhã?

— O que?! — Minho perguntou, rindo nervoso.

— Não irei repetir o que você entendeu bem, Minho. — O comandante falou um pouco rude.

— Desculpe, mas eu não irei... Você sabe. — O moreno falou levemente confuso, sem conseguir encarar o rosto do menor que o fitava.

— O propósito do nosso casamento é justamente unir a linhagem perdida, precisamos prosseguir com essa linhagem. — Jisung falou breve. — Para isso é necessário descendentes.

Minho quase deixou o queixo cair ao chão, negando rapidamente e segurando as mãos de Jisung quando ele fez menção em se despir. O Lee levantou da cama em um pulo, rindo ainda mais nervoso.

— Eu sei disso, mas acho que está tudo tão recente. — Falou sincero. — Eu não conseguiria me deitar com você agora.

— Por quê?

— Eu... Eu não sei bem como funciona o relacionamento do seu povo, mas para o meu povo é algo... Diferente. — Falou, incerto. — Provém de minha criação aprofundar contato mais íntimo quando sentir algo pela pessoa e-

— Você acha que precisa gostar de mim para se deitar comigo uma única noite? — Jisung o cortou.

— Não é apenas achismo, Jisung. — O Lee falou levemente irritado, odiou o tom de voz alheio. — Eu tento entender o costume estranho de seu povo e suas crenças, custa alguma coisa você tentar entender meus costumes e o jeito o qual fui criado?

— Eu não quero que goste de mim, Minho. — O comandante falou e se afastou, sentando na cama.

— Por que não?

— Porque não tenho o intuito de gostar de você. — Admitiu ao dar de ombros. —  Não crie esperanças em sentimentos que surjam dessa união. Eu me casei somente pelo meu povo, preciso de descentes desse linhagem para que minha tribo não pereça futuramente.

— Não gostar de mim é escolha sua, mas não entendo porque não posso gostar de você. — O Lee retrucou menos irritado. — Só porque escolhe não sentir nada não pode me obrigar a não sentir também.

— Amar é uma fraqueza e você já é fraco o suficiente. — Jisung retrucou e o olhou.

Minho o encarou em silêncio e então riu sem ânimo, virando as costas e saindo do quarto logo depois. O comandante suspirou e então se deitou, encarando o teto do quarto. Não queria ter pegado tão pesado, mas precisava cortar qualquer tipo de raiz de sentimentos antes que ela crescesse e se tornasse um problema. Amar é fraqueza.

Tears [MINSUNG]Onde histórias criam vida. Descubra agora