14 - Triângulos

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Com uma porção de peixe e fritas nas mãos, Lucas olhou em volta em busca de um local tranquilo para degustar seu almoço, e foi quando avistou Ana com o corpo parcamente coberto por um biquíni verde-água minúsculo, de conversa com um rapaz alto e musculoso. Uma pontada de desejo percorreu sua virilha, e ele se segurou para não ir até onde ela estava.

Ana ria enquanto o rapaz conversava e repousava a mão no braço dela de modo displicente. Lucas ficou imediatamente tenso e afirmou para si mesmo que Ana era apenas uma nova conhecida com quem ele estava "curtindo as férias".

Pensar nisso não ajudou em nada, principalmente porque ele sabia que nunca conseguiria apagar a imagem da boca dela em volta do... ''Não viaja, Lucas!"

No meio da conversa, de alguma forma Ana percebeu que ele estava por perto. Ela o encarou brevemente e o sorriso diminuiu, e ele se aborreceu pela falta do sorriso e por ter atrapalhado o momento de diversão. Pegou mais uma cerveja e se distanciou do quiosque em busca de um lugar à sombra de um coqueiro para terminar sua refeição.

Mesmo afastado, ele não tirou os olhos dela.

Ana jogava conversa fora quando avistou Lucas no quiosque. Seu coração deu um salto acompanhado de uma onda de calor intenso e formigamento nas extremidades. A sensação foi tão exagerada que ela ficou se imaginando de conversa com um paramédico:

"Então, foi assim que eu infartei..."

"Moça, que ridículo se sentir assim! Até parece que nunca fez sexo casual antes!"

"Defina casual..."

Ela riu da conversa hipotética, depois ficou sem graça. Guilherme, o rapaz que a acompanhava, percebeu a mudança de clima e olhou ao redor, tentando entender o motivo do riso.

– Ei, linda. Está de boa?

– Estou sim, Gui; é que me lembrei de uma piada – ela ficou ainda mais sem graça pela mentira e ajeitou uma mecha de cabelo atrás da orelha. Sem dúvida, ela era a piada.

– Sei... – Guilherme se aproximou e segurou a mão que ela levara à orelha, depois entrelaçou os dedos aos dela – e aquele nosso lance, Ana? Já pensou a respeito?

Guilherme já estava na cola dela há um mês. Ana o achava lindo com aqueles olhos castanhos profundos, o rosto perfeito e liso emoldurado por um cabelo volumoso e encaracolado que derretia o coração das garotas, um físico de tirar o fôlego e uma destreza no surfe digna de chamar a atenção de patrocinadores; e não era só isso, Guilherme era um rapaz gentil e de bom caráter. Ele era todo perfeito, adorável e, apaixonado, queria ficar com ela.

Constrangida, ela puxou a mão que segurava a sua e se afastou um pouco. Saber que Lucas estava logo ali aumentava seu desconforto. Ainda que não houvesse nada definido entre eles, ela se sentia estranha, como se estivesse fazendo algo de errado.

– Ah, Gui, estamos aqui na praia aproveitando o dia, não é hora de pensar nisso.

– Para mim o momento é perfeito, Ana.

Embora tivessem trocado alguns beijos apimentados semanas atrás, Ana não sentia uma conexão verdadeira ou um desejo de estar com ele de forma romântica. Gostava muito dele, mas não desse jeito. O problema era que ela não tinha coragem de ser honesta com ele. Esse sempre foi o problema, ela não conseguia dizer "não" e acabava fazendo a vontade dos outros porque não queria se indispor ou ferir os sentimentos das pessoas.

– Gui, eu gosto muito de você. Mas ainda não sei o que eu quero.

– Diferente de você, eu sei bem o que eu quero, e sou muito paciente quando quero algo de verdade.

MaresiaOnde histórias criam vida. Descubra agora