18 - Condomínio

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Três semanas se passaram sem que Lucas cruzasse com Ana. Ele evitou circular nos horários em que supostamente poderia encontrá-la, utilizava as manhãs para resolver questões fora da pousada e jantava qualquer coisa no próprio quarto no fim do dia. Apesar de saber ser essa a melhor decisão, em vez de fazê-lo parar de pensar nela, causou um efeito contrário.

Ele poderia ter ido para outra pousada? Poderia. Mas não foi.

A parte boa foi que o foco o ajudou a reunir um bom volume de informações relacionadas à investigação, contudo, os pesadelos passaram a assombrá-lo todas as noites, sem folga. Sem os escapes para nadar, surfar ou passar algum tempo com Ana, os efeitos dos distúrbios com o sono triplicaram.

Lucas sabia que deveria encontrar um equilíbrio, separar tempo para relaxar e, principalmente, se render e fazer a terapia, afinal, não era a primeira vez que ele precisava de acompanhamento psicológico. Sem contar a infância e adolescência cujas crises de pânico eram algo rotineiro, a primeira vez que de fato ele teve que lidar com isso foi quando participou ativamente de uma missão que resultou na morte de um policial inexperiente.

Lucas não puxou o gatilho, mas foi o responsável pela operação, também foi quem tentou conter o sangramento do policial baleado até a chegada do socorro. Infelizmente, o colega não chegou vivo ao hospital, e Lucas precisou fazer terapia para lidar com a culpa e o trauma.

Da segunda vez, a vítima foi ele mesmo, alvejado à queima roupa por um bandido. Lucas teve pesadelos enquanto ficou internado, e os sonhos perduraram nas semanas posteriores. Não foi isso que o levou à terapia, porque ele nunca abriu o assunto, mas era um procedimento padrão que um policial envolvido num tiroteio fosse obrigado a passar por sessões com o psicólogo.

Apenas desta última vez Lucas não aceitou fazer as sessões obrigatórias. Não que tivesse levado a sério as anteriores. Ele detestava o exercício; ele definitivamente nunca gostou de falar de si mesmo, de se expor e ter sua vida vasculhada por alguém que vivia de manipular sentimentos.

Talvez ele não passasse de um idiota preconceituoso.

A resistência em aceitar ajuda o vinha fazendo dar voltas e voltas nos mesmos problemas. Com os pesadelos, a falta de sono e a irritação constantes, o cansaço dos primeiros dias voltou, e isso ampliou a falta que ele sentia de Ana.

Era uma pena, porque de fato ela o ajudara a relaxar. Era linda, interessante e o sexo... impressionante; ele só não achava que justificava tanto interesse por parte dele. Ou não justificaria se ele estivesse em plenas condições emocionais para lidar com qualquer tipo de drama.

Era por isso que ele a vinha evitando, por mais que se sentisse tentado. Ele precisava minimizar o interesse para que pudesse se concentrar nos seus problemas originais, mas nesta tarde em particular, ele precisava sair e, inevitavelmente, teria que cruzar com ela.

O pensamento o enchia de expectativa e de receio ao mesmo tempo. Talvez fosse bom reencontrá-la, até mesmo para saber como reagiria e finalmente tirar essa ideia da cabeça.

Lucas desceu as escadas pensando em como isso se parecia muito mais com uma desculpa esfarrapada, e ficou surpreso quando ao invés de Ana, ele se deparou com uma garota loira no balcão da recepção.

Ela era bonita, o corte estilo pixie revelava que o loiro não era natural, parecia bem jovem e animada e tinha olhos brilhantes. Assim que o viu, abriu um sorriso caloroso, no entanto, o sorriso não fez nem cócegas no seu mau-humor.

– Onde está a Ana? − Lucas nem se deu conta de que fez a pergunta de forma rude, sem ao menos cumprimentá-la. A garota diminui o sorriso, constrangida.

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