59 - Gaiola de Ouro

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Algumas horas mais tarde, Ana acordou com azia. Não tinha nada no estômago, não entendia o que estava acontecendo com seu corpo. Para ela, gestantes enjoadas não passavam de chatas arrumando desculpas para comer o que bem entendiam. Nada como estar do outro lado para pagar a língua.

Olhou em volta e percebeu que Lucas esteve ali porque a roupa do dia anterior estava no chão, perto do box. Ela achou estranho ele deixar a roupa assim, não era do feitio dele fazer bagunça. Foi até a cozinha em busca de um antiácido e conclui que Lucas não estava em casa; havia chegado e saído sem que ela visse, e isso a deixou ainda mais desanimada e apreensiva.

Ela adoraria saber em que pé estava a relação deles agora.

Conferiu as horas: 8h40. Estava atrasada e pensou se deveria ou não trabalhar, e acabou decidindo que não iria. Já tinha passado da hora de mandar a Donatore e todo o resto pro inferno.

Ao menos por hoje.

Uma hora mais tarde, ela tentou contato com Lucas, mas o telefone caiu na caixa-postal. Até onde ela sabia, não era para ele ter trabalhado no fim de semana e hoje só começaria o expediente à tarde. Como ele saiu, voltou, saiu de novo e não se deu ao trabalho de avisar qualquer mudança de planos, ela não conseguia imaginar onde ele estava.

Também não sabia pra que caralhos ele tinha um aparelho, já que ela nunca conseguia falar com ele.

Aborrecida e entediada, resolveu dar uma volta na praia, a manhã estava ensolarada e o mar, calmo. Colocou seu biquíni verde-água, uma saída de praia e seguiu pelo pavimento por dois quarteirões até um dos portões que dava acesso à faixa de areia.

– Bom dia! – Cumprimentou através do interfone do portão – poderia abrir para mim, por favor? Sou a Ana, estou na residência do Lucas.

– Ana! Fique onde está!

Ana levou um baita susto. Lucas? Ela tocou de novo, mas ninguém atendeu. Confusa, deu a volta para retornar à casa quando o viu correndo em sua direção, aparentemente muito nervoso.

– Onde você pensa que vai? – Ele perguntou, arfante. Seu rosto fechado e sua postura dura lembraram-na de quando ele a "sequestrara" nos portões da casa do Ricardo.

– Como assim, onde eu penso que vou?

– Volta pra dentro!

– Lucas, eu só quero dar uma volta na praia!

– Não! Nem pensar! – Ele a segurou pelo braço e começou a puxá-la pelo caminho de volta.

– Espera aí... Ei! Lucas, está me machucando...

Ele se deu conta do descontrole e a soltou. Ana notou o quanto ele estava nervoso, e havia algo inédito na expressão zangada, algo que ela não tinha visto ainda... seria medo?

Lucas respirou fundo, se concentrou e então falou com voz baixa e controlada.

– Eu preciso que você volte para dentro. Agora. Por favor.

Ana ficou assustada com o jeito dele e acabou obedecendo. Lucas caminhava aflito ao lado dela, olhando em todas as direções. Quando entraram na casa, ele se sentou no degrau da escada e levou as mãos à cabeça.

– Lucas... O que aconteceu?

Horas antes, quando Lucas estava retornando da corrida, encontrou um envelope prensado no vão entre o portão e o muro. Ele o pegou e, quando se deparou com o conteúdo, entrou em pânico.

Dentro havia várias fotografias impressas de Ana, na festa da piscina, surfando na praia ao lado dele, no luau de aniversário, tomando cerveja com ele num bar, e muitas outras; as últimas imagens eram deles tomando café numa parada de viajantes à beira da estrada. Junto havia um cartão com uma única palavra impressa a laser: "Garantia".

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