53 - Tarjas Carmesim

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Lucas passou o domingo sob efeito de fortes analgésicos receitados no hospital, e por esse motivo, dormiu o resto do dia. Ana aproveitou para dar um jeito no closet; dobrou algumas roupas espalhadas e, quando separou a calça jeans que Lucas havia usado mais cedo, o cartão micro SD de Alice caiu de um dos bolsos. Ela o pegou e o colocou numa prateleira bem à vista dele para que ele guardasse o dispositivo quando o encontrasse.

"Um negócio desses, aparentemente tão importante, e ele deixa esquecido dentro do bolso..."

No fim do dia, ela recebeu um telefonema de Pablo.

– Ei Ana, beleza? Eu fui te procurar na pousada, achei que você tinha dito que ficaria por lá neste fim de semana.

– Oi Pablo. Eu ia sim, mas surgiu um imprevisto. Está tudo bem?

– Está sim. É que eu precisava te mostrar uma coisa, sobre aquele nosso assunto.

Ana ficou apreensiva. Eles não conversaram mais sobre a mensagem que ela recebera, Pablo ainda não sabia sobre Lucas, não oficialmente, mas ela tinha quase certeza de que ele sabia, contudo mantinha a discrição.

– É algo sério?

– Você sabe que não posso falar por telefone. A gente pode almoçar juntos essa semana e conversar?

– Ok. A gente se fala amanhã ou depois.

Na manhã seguinte, Lucas pareceu bem melhor.

– Tem certeza de que precisa ir, Lucas? Você não deveria ficar afastado do trabalho?

– Está de boa, Ana. Quando acontece essas coisas a gente fica na DP fazendo trabalho burocrático. Não se preocupe comigo, é bem melhor estar trabalhando, e eu sei que você entende.

Sim, ela entendia, mas continuava aborrecida. Sentia a cabeça doendo desde o dia anterior, quando soubera da história toda. Sabia que estava reagindo ao mal-estar dele.

Ana sempre fora assim. Muito empática, absorvia tudo à sua volta como uma esponja, e acabava refletindo isso de muitas maneiras, boas ou ruins. Talvez por essa razão tivesse tantas enxaquecas.

– Você não tem que colocar a farda? – ela riu de si mesma por ficar imaginando que a farda era algum tipo de roupa de super-herói

– Não. Hoje não preciso usar a farda. Vou ficar direto na delegacia. Vamos, eu te deixo na Donatore.

– Espera um minutinho, preciso pegar uma coisa.

Ana correu até a cozinha na busca por um analgésico. Ela evitava se automedicar, mas quando a dor atingia um certo limiar, ela precisava tomar uma atitude, caso contrário a dor acabaria com seu dia.

Vasculhando em uma das gavetas, finalmente encontrou o medicamento, e se deteve repentinamente quando seus dedos esbarraram em algo. Ao lado da caixa de analgésicos, a cartela de anticoncepcional que ela havia adquirido no dia em que Lucas retomou a terapia, descansava, intocada.

Ana congelou.

Ela fez as contas rapidamente e concluiu que era para ela ter começado a tomar o contraceptivo há mais de duas semanas, quando viesse sua menstruação, o que não ocorreu. Ainda estática, fez contas de novo, pensando, relembrando, e inferiu que estava com no mínimo vinte dias de atraso menstrual. Suas mãos começaram a tremer.

Vinte dias. VINTE DIAS! Puta merda!

Lucas, notando a demora dela, deixou o carro ligado e foi procurá-la, e a encontrou na cozinha, com a mão dentro da gaveta.

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