80 - Ar

30 5 2
                                    

Lucas não se lembrava do tráfego, nem do trajeto, só sabia que chegara ao hospital em tempo recorde. Ele correu até o andar da UTI e foi instruído a aguardar na sala de espera.

Os minutos iam se arrastando enquanto, angustiado, ele tamborilava os dedos entranhados nos cabelos, concentrado no som que o dedilhar produzia em seu couro cabeludo. Seu peito ardia em expectativa. Depois de tantas emoções contraditórias, tudo o que ele precisava era de uma boa notícia.

– Sr. Lucas?

A enfermeira chamou seu nome com uma tranquilidade que o irritou. Ela parecia lenta, tudo parecia lento ao redor, como se ninguém tivesse mais nada a fazer além de fazer tudo muito devagar.

– Estou aqui. – Ele se aproximou rapidamente. A vontade que tinha era de passar por cima dela e correr até o quarto onde Ana estava.

Já esperara demais!

A enfermeira o levou até o corredor. Um médico o acompanhou até o quarto ao mesmo tempo em que explicava o procedimento:

– Os níveis de oxigênio no sangue de Ana atingiram um limiar seguro, então optamos por extubá-la para que possa recuperar a autonomia respiratória. É um teste inicial, ainda não há cem por cento de certeza de que ela reagirá positivamente, mas precisamos dar início ao processo. Estamos otimistas de que tudo dará certo. O pai, Antônio, aguarda para que você também possa acompanhar o procedimento.

Apreensivo e nervoso, Lucas seguiu o médico até o leito de Ana. Estava desesperado para ver aqueles lindos olhos amendoados se abrirem para ele. No quarto, outra enfermeira aguardava ao lado de Antônio, que sorriu largamente quando Lucas chegou. Lucas ficou profundamente agradecido pela atitude do homem.

– Vamos diminuir a sedação agora – sem demora, o médico iniciou o procedimento – o paciente costuma apresentar desorientação durante o processo, principalmente depois de um trauma agudo como o que ela viveu. É importante ter alguém conhecido por perto. Quem ficará junto com ela?

Lucas e Antônio se olharam, então Antônio deu um passo para o lado, abrindo caminho para Lucas, que até pensou em recuar, mas não conseguiu. Agradecido, ele se aproximou e segurou a mão de Ana. Os dedos estavam frios e ele sentiu o peito apertar ainda mais, como se fosse possível.

A primeira coisa que Ana sentiu ao recobrar a consciência, foi a dor na garganta. Parecia que tinha engolido um cabo de vassouras cheio de farpas. Depois veio o mal-estar súbito e a taquicardia. Com a mente confusa e uma necessidade de se soltar de alguma prisão invisível, começou a se debater em angústia. Ela sentiu mãos segurando-a pelos braços, o que aumentou ainda mais o seu tormento, até que uma voz, muito querida, perfurou a névoa do seu caos mental.

– Ana, minha sereia... Eu estou aqui.

"Lucas..."

Ao ouvir o som da voz, sua respiração ficou irregular e dificultosa, e a ansiedade se acentuou. Ela sentiu algo tocando seu rosto, cobrindo a boca e o nariz, e isso facilitou o fluxo de ar. Procurou pela voz sem saber de onde vinha; estariam no barco? Na praia? Lucas finalmente a encontrara?

Até que ela entendeu que precisava abrir os olhos, e ela o fez lentamente, sentindo as vistas arderem com a claridade.

Ao seu lado, curvado sobre seu corpo, a silhueta de Lucas surgia recortada pela luz de uma luminária no teto. Não era possível ver muito bem o seu rosto, mas dava para perceber que ele tinha o cabelo mais comprido do que o normal, como quem havia se esquecido de cortar, e obviamente, completamente despenteado.

Playboy... – a voz saiu num sibilo.

– Estou aqui. Fica calma, minha sereia... – Ele murmurava enquanto levava a mão dela até os lábios, beijando os dedos gelados.

MaresiaOnde histórias criam vida. Descubra agora