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31 de Outubro de 1916
Não sei como explicar para ti o que é o amor, pois nem sei mesmo se o tenho em minha vida. Conheço muito bem o pai que tens, mas ainda me é difícil saber o que ele sente por mim, Hayoon não é um homem muito afetuoso, nunca foi e acredito que nunca será, porém, a minha opinião nada é próximo aos planos que Deus tem para ele.
O amor é estranho. Nasce em lugares estranhos, se desenvolve em lugares estranhos e consegue juntar pessoas que nada têm a ver uma com a outra. Sei do que falo, num dia eu estava vivendo a minha vida normalmente; noutro estava conhecendo o teu pai e quando despertei, já estávamos casados, esperando a vinda do teu irmão.
O amor é inexplicável, minha pequena Eunkyung, mas tudo passava a fazer sentindo quando o teu coração começa a afogar-se nele. Por isso, não o deixes escapar, agarra-o e o vê florescer entre ti e a tua pessoa amada.
Ama e deixa-te amar, ainda que não faça sentindo.
Aquela última linha parecia estar falando especificamente da situação atual de Eunkyung. Ela não podia dizer exatamente o que sentia por Jungkook, mas tinha a certeza de que havia algo entre eles. O diário foi guardado numa das gavetas de sua cómoda, enquanto isso, Jungkook estava deitado ao seu lado, sem roupa, apenas cobrindo as suas pernas com o lençol branco.
Eles haviam passado a noite juntos. O casamento estava finalmente consumado, mas por vontade deles e não por obrigação.
Nenhum dos dois sabia como se sentir com relação a isso, não eram santos virgens, sabiam o que tinham feito, ainda assim, o clima tenso era quase apalpável. Eunkyung voltou a se aconchegar na cama, e sem vergonha alguma, abraçou o tronco nu de seu marido.
— Algum arrependimento? — indagou acariciando o seu peito. Jungkook sorriu e negou. — Então, alguma reclamação?
— Não, foi perfeito. — disse também a abraçando. — Apenas não sei o que fazer.
— Acho que nenhum de nós sabe.
A noite foi agradável, Eunkyung não se sentia tão desejada a muito tempo. Jungkook sabia exatamente o que fazer, como fazer e até que ponto era necessário fazer. Houve momentos em que ele sentiu perdido, quase pediu para que parassem. O corpo de Eunkyung tinha mais cicatrizes do que ele esperava, a que ela tinha nas costas já era conhecida, mas ele não esperou ver mais nas suas pernas; costelas e pulsos.
E não foi difícil imaginar o que havia causado aquelas cicatrizes nos seus pulsos.
— Pode perguntar! — Eunkyung disse o encarando. Jungkook franziu o cenho. — Você está com aquela cara de quem está perdido em seus pensamentos, e eu sei que tem a ver como o que aconteceu neste quarto.
Jungkook suspirou.
— Perdoe-me se for algo pessoal de mais, mas, o que causou todas essas cicatrizes?
— Algumas foram pelo meu pai, e outras por mim mesma. — respondeu calmamente. — Os anos após a morte de minha mãe o tornaram mais agressivo, chegou ao ponto de eu ficar quase três semanas acamada e sofrendo com dores. No princípio, a cicatriz que tenho nas costas era pequena, impercetível a quem a visse de longe, mas as surras foram aumentando com o tempo, porque quando mais eu crescia, mais respostas eu procurava.
— Resposta para que pergunta?
— Quem era o homem que havia dito ao mundo que a causa da morte de Yan Hyemin fora suicídio. Ambos sabíamos o que havia acontecido naquela noite, mas eu não conseguia me lembrar de certas partes e Hayoon achou que seria assim para sempre. — soltou uma risada. — Uma outra mulher no lugar de minha mãe foi o gatilho que eu precisava para recuperar certas memórias. Passei a ter pesadelos com aquela noite, mas acordava antes mesmo de olhar para o rosto da pessoa que estava empurrado Hyemin escadas abaixo.
Jungkook se sentou trazendo o corpo dela para perto. Ele tinha treze anos quando isso aconteceu, seu pai ainda era vivo e comentou sobre esse caso durante um jantar. Eles mal conheciam Yan Hyemin, mas nos poucos momentos em que a viram, notaram uma mulher cheia de luz, com sede de viver uma vida feliz.
Quase ninguém acreditou naquela história de suicídio, principalmente a mídia que infernizou a vida de Hayoon durante quase dois anos. A única pessoa que alguma vez esteve perto da verdade, foi encontrada morta em sua casa.
— E não te lembras até hoje?
Eunkyung deu de ombros agarrada ao corpo dele.
— É como se fosse uma mistura de rostos, hora vejo Hayoon; hora vejo o médico que apareceu na casa para analisar corpo; e hora vejo um homem que eu preferia esquecer.
— Quem é esse homem?
— Ainda não posso dizer, mas se o meu plano estiver correndo do jeito certo, ele dará as caras mais cedo que o esperado.
— A minha mãe sabe disso?
— Ela sabe o básico, por isso me fez tantas perguntas no outro dia. Acredito que ela queira usar isso como arma contra Hayoon, e não irá descansar até encontrar todas as respostas.
— Mas, o que ela poderia querer de seu pai? — murmurou. — Sem querer ofender, mais nós temos muitas mais terras que vocês.
Eunkyung negou e a sua bochecha.
— Estás errado, coelhinho. Os Jeon são mais ricos que os Wang, isso é verdade, mas a vossa riqueza não se aproxima a fortuna deixada por Yan Hyemin. Minha mãe era filha de empresários internacionais, os mais influentes do continente, a herança deixada por eles, nem se compara a fortuna dos Jeon e dos Wang juntas. — explicou. — Para se resolver todo esse mistério da morte de minha mãe, basta que uma pessoa abra a boca para ela. O mesmo homem que eu vi na casa anos antes de minha mãe morrer; o mesmo homem que esteve presente na noite de sua morte; o mesmo homem que estava presente no funeral e o mesmo homem que... — "ajudou Jackson a fugir da cidade", completou na sua mente.
— O que você iria falar?
— Existem certas partes dessa história que ainda não posso contar, preciso esperar pelo tempo certo. Mas eu prometo que saberás de tudo o mais rápido possível
— E quando será?
Eunkyung acariciou o seu rosto, e beijou delicadamente os seus lábios.
— Daqui há alguns dias.
[•••]
Não fugirei mais dos fantasmas que me assombram, e acho que deverias fazer o mesmo. Os teus filhos merecem a justiça que Hyemin não teve, principalmente Eunkyung que fora obrigada a assistir aquele show de horrores.
Não procurarei nem a mídia e muito menos Eunah, irei atrás das pessoas que merecem o meu pedido de desculpa.
Está na hora de fazer o certo, Hayoon.
Saudações, Jinhwa.
Hayoon suspirou e atirou a carta para o meio da mesa. A sua garrafa de vinho estava quase vazia, e sua visão cada vez mais turva. A história estava vindo a tona mais uma vez, Eunah estava investigando; Jinhwa estava a caminho de Seoul, e Eunkyung não estava disposta a ajudar.
A hora da verdade estava cada vez mais próxima, e todos os seus fantasmas esperavam a hora de atacar.
[•••]
Temos mais informações sobre a infância de Eunkyung. Migalhas? Sim, mas são informações.
No próximo capítulo, será a vez de Jungkook falar mais sobre o seu passado. Será que ele contará tudo sobre a Aruka, ou irá contar outra história?
Não se esqueçam de votar, e nos vemos no próximo capítulo😗
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Eunkyung •Jeon Jungkook•
FanfictionO som dos seus saltos batendo contra o chão frio daquela capela, soavam como os trambores do purgatório toda vez que uma nova alma chegasse. E talvez ela estivesse se direcionando à um. Mas diferente daquilo que acreditava, Eunkyung não teve a chan...