O som dos seus saltos batendo contra o chão frio daquela capela, soavam como os trambores do purgatório toda vez que uma nova alma chegasse.
E talvez ela estivesse se direcionando à um. Mas diferente daquilo que acreditava, Eunkyung não teve a chan...
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Página 12
27 de Outubro de 1916
Te amar sempre foi algo estranho. Não irei mentir, por anos achei que me estava obrigando a olhar para ti de uma forma mais maternalmente amorosa, mas há momentos em que sinto que Deus te trouxe para mim com algum propósito.
Hayoon não ficou muito feliz com o teu nascimento, seu sonho sempre foi ter dois filhos homens; tenho fé que em algum dia ele olhará para ti com todo o amor existente em seu coração.
Agora, tu tens apenas três anos; neste momento dormes calmamente ao meu lado. Os teus cabelos estão soltos pela cama; a tua respiração é serena; teus dedos gordinhos agarram a manta costurada por mim.
Tu és perfeita!
O diário foi rapidamente fechado. Eunkyung o colocou no meio da sua cama e respirou se levantando. Após ter chegado a casa, trancou-se em seu quarto, precisava ver com os próprios olhos o conteúdo daquelas folhas. Ler as palavras escritas por sua mãe a fazia sentir como se estivesse vendo o mundo sob a perspetiva dela, algumas páginas demonstravam o mundo como um lugar repleto de amor, e outras descreviam o que era um verdadeiro inferno.
A sua vontade de finalmente descobrir o que Hyemin sentia pela sua pessoa, a fez ler doze páginas seguidas sem quase pestanejar. Para se acalmar, ela caminhava de um lado para o outro, sentindo o tapete macio em seus pés descalços.
Os pensamentos de sua mãe eram contraditórios, chegavam mesmo a não fazer sentido, mas de alguma forma, Eunkyung entendia o que ela estava tentando expressar.
Hyemin perdera a família muito cedo, encontrou aconchego nos braços de um homem atormentado por segredos e fantasmas, ainda assim, ela o amou de todo o coração. Nas primeiras páginas do diário, ela explica como se apaixonou por Hayoon, e como teve que se esforçar para ele a deixar entrar em sua vida.
Parecia que ela estava explicando a sua relação com Jungkook.
Ambos feridos por acontecimentos do passado; um desprezado pela mãe, e outra pelo pai; pessoas que tinham mais em comum do que imaginavam, mas que viviam presos nos próprios segredos. Eunkyung prometeu que o deixaria entrar em sua vida, mas morria de medo que ele a odiasse assim que descobrisse tudo o que a sua família guarda.
Por outro lado, ela não deseja ter a vida que sua mãe teve. Apesar de ter vivido em boas condições financeiras, Hyemin nunca foi amada romanticamente por Hayoon, e morreu desejando esse sentimento.
Eunkyung não ambicionava isso.
Parou de caminhar ao ouvir batidas na porta. Jungkook entrou a seguir carregando uma bandeja com comida. Eunkyung apressou-se a caminhar até ele e ajudou-lhe a pousar o objeto na sua penteadeira.
