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(Capítulo da versão antiga, não revisado)


Há momentos em que a vida de Andrew não parece ser real, como se ele assistisse a outra pessoa vivendo com a sua aparência, mas era tão distante de sua realidade que não poderia se colocar no lugar dele. Quando Tony Stark apareceu na porta da casa, Andrew sentiu isso. Era uma sensação nova, porque, pela primeira vez, ele realmente se sentiu sortudo o suficiente para ter inveja dele. Ele não conheceu alguém que tinha inveja dele, porém imaginou que em algum lugar do mundo existia alguém que queria ser filho de Tony Stark. Ele podia saborear a sorte, a felicidade finalmente sendo presenteada a ele após tantos anos no casarão, carregando mortes em suas costas e se contorcendo na maca todos os fins de semana que a diretora o obrigava a tatuar mais penas. E, agora, Andrew aprecia o momento com mais suavidade e menos arrogância do que quando o experimentou pela primeira vez na adolescência.

Na grande mesa, que eles precisaram juntar mais uma mesa para que todos coubessem, pizzas são servidas e pedaços são consumidos com tanta velocidade por Anne Annenberg e Alexander Esposito, que Andrew se pergunta se perdeu algum tipo de aposta. Ele não sabe dizer, na maior parte do tempo ele riu, bebeu e admirou cada segundo em que a felicidade o inundou. O gosto de queijo e pepperoni pega cada centímetro de sua boca, o vinho fazendo o trabalho de deixar um mero vestígio da pizza.

O anel que Beatrice deu a ele pesa com mais presença em seu dedo do que qualquer outra peça de roupa em seu corpo, sua mente ciente de que, impressionante, Beatrice buscou saber seu aniversário e ainda comprou um presente. Isso não deveria emocioná-lo tanto, ele culpa o vinho por isso, o brilho em seus olhos recebe a culpa das luzes amarelas e não das lágrimas.

- Como Sam está, Barnes? - Anne pergunta, jogando o braço por cima das costas da cadeira de Bucky, um sorriso afiado estendendo-se por seus lábios.

Andrew ri com a falta de descrição de Annenberg, a maneira ansiosa que os dedos dela batem contra a madeira da mesa e o foco intensivo que seus olhos tem sobre Barnes como se quisesse ter certeza que ele seria sincero.

- Ele está bem, trabalhando em uma missão com Steve. - Bucky diz.

Isaac Malenty se levanta da mesa em silêncio, uma expressão sombria escondida em seus olhos, os lábios reprimidos em frustração. Ele se afasta da mesa, entrando no banheiro. Andrew não passa muito tempo focado depois disso, Beatrice levanta alguns minutos depois e desaparece no banheiro masculino. Por um segundo, Stark pensa nos sinais que pode ter perdido nos últimos meses que revelassem que havia um relacionamento entre Beatrice e Isaac, porém, quando não se lembra de nada que indicasse uma aproximação incomum entre os dois, ele levanta da cadeira e vai em direção ao banheiro.

Novamente, a sensação de ser um mero espectador de si mesmo volta e as cores morrem conforme Andrew percebe o quão violentamente suas mãos estão tremendo. O cinza, branco e uma cor que é muito semelhante e uma flor morta pinta a visão de Andrew sobre si mesmo, essa percepção o faz ver que ao passar por aquela porta, ele espera encontrar a pior notícia de sua vida. Hesitando com a mão na maçaneta, Andrew pensa na razão de ir atrás de um problema quando toda a sua felicidade o espera na mesa, não há porquê ele colocar um ponto final tão cedo sabendo que daqui a uma semana sua vida voltaria ao infernal edifício dos Vingadores onde a tecnologia o sufocava e os ataques da Arqueira contra a população roubavam suas noites de sono.

Andrew respira fundo, gira a maçaneta e entra no banheiro.

Beatrice está sentada na bancada da pia, os óculos de aros dourados descansam na ponta de seu nariz e seus olhos castanhos encaram o reflexo do espelho. Nas mãos, o celular toca várias e várias vezes, milhões mensagens chegando ao mesmo tempo e ocasionando em vibrações. As sobrancelhas erguidas, o nariz franzido, os lábios meio retorcidos são os principais sinais que denunciam a frustração que corrói Beatrice Esposito. Andrew não se lembra da última vez que viu Beatrice demonstrar frustração. Ela já mostrou raiva, ódio, profunda repulsa pelas atitudes de Laila Cooper, indignação por Anne e suas apostas, porém nunca teve aquela perfurante frustração atravessando seus olhos como se ela não soubesse o favor. Beatrice sempre sabia o que fazer, ela era a hacker da equipe, uma passo à frente de qualquer. Andrew não sabe como lidar com isso.

Lar, doce lar - Bucky BarnesOnde histórias criam vida. Descubra agora