Andrew olha para a rua pouco movimentada através da janela do segundo andar da cafeteria, um pouco distante da realidade, perdido nas consequências de suas terríveis escolhas. Se pensar, depende do quão terríveis suas escolhas foram. Do ponto de vista de Steve Rogers, Andrew fez a escolha que achou ser melhor no momento, o que ajudaria a equipe – ou o que restou dela –, e somente isso era o suficiente para fazê-lo não sentir o peso da culpa tão doloroso sob seus ombros. No entanto, ele sabe que pelos olhos de Tony o que ele fez é imperdoável, e nunca verá mais o brilho em seus olhos castanhos-escuros. Não é um jogo de balança, não há como balancear as ações com as consequências; um sempre irá pesar mais que o outro. E isso o faz se sentir mal, mas não o suficiente para admitir a Tony, que está sentado à sua frente com uma expressão preocupada.
– Você parece cansado. – Tony comenta, e Andrew reprime a vontade de levar a mão ao rosto para checar a maquiagem. Não existe nenhuma evidência que revele o uso da maquiagem, é sutil demais, embora tenha sido necessário uma quantidade considerável de base e corretivo para esconder as linhas de expressão exausta em seu rosto. – Tem dormido mal?
– Estou tentando alcançar os trabalhos da faculdade, são muitos. – É uma mentira fácil, manipulável e que se encaixa perfeitamente com a sua realidade no momento. Tony aceita ela com facilidade.
– Você pode trancá-la por um semestre se tiver muito puxado, você sabe. – a sugestão soa estranha vindo de Tony, que sempre fora insistente quanto ao assunto de Andrew ter o melhor ensino, estudar no colégio mais prestigiado, e se matricular na melhor faculdade que Washington pode oferecer. E, agora, ele está simplesmente sugerindo a possibilidade de Andrew descansar da faculdade por um semestre inteiro parece uma cilada. – Você poderia voltar para a casa, descansar um pouco. Faz um tempo que Pepper quer planejar uma pequena comemoração.
– Para o que exatamente? Você odeia festas. – Andrew percebe que isso soa quase acusador demais, porém Tony não repara, então ele não pede desculpas.
– Apenas pela sua volta. E eu odeio festas com pessoas que eu não gosto, estaremos entre conhecidos. – Tony faz questão de olhar o prato de comida de Andrew, finalmente notando o quão intocável ele está. Se Andrew fosse sincero, ele diria que não está com fome, mas ele não é sincero. Força um pequeno sorriso, alcançando um pedaço do waffle com o garfo e o leva à boca. – Também eu queria te oferecer um trabalho, mas não queria fazer aqui. Queria que fosse uma coisa especial.
– Eu odeio surpresas, igual a Pepper. – Ele não é filho de Pepper, não exatamente, mas eles gostam de tratar como se fosse, ignorando completamente o câncer que matou sua mãe biológica. Andrew não a chama de mãe, é uma coisa íntima demais e jamais quis pressionar Pepper a tratá-lo como filho, não era sua obrigação e ele estava velho demais para isso também. Ele a ama, ela também o ama, e ainda assim tem esse obstáculo entre eles.
– Bem, talvez essa você goste.
Não, ele não vai. Sabe disso porque esteve evitando a proposta há semanas, ele não é do tipo pessimista, talvez realista com um toque de otimismo exagerado, porém sabe quando desviar de uma possível bomba. Esse é o tipo de coisa que deveria fugir. E lá está, bem na sua frente, pronta para explodir em seu rosto.
– Nick Fury falou que tentou te contatar, mas que você estava distante. – Tony fala, alheio aos olhos verdes de Andrew se arregalaram minimamente. – É uma coisa nova, entende? Uma segunda chance.
– Para quem exatamente? – A acusação sai mais clara dessa vez, Tony ergue as sobrancelhas.
– Para todos, é claro. – Ele soa mais mentiroso que Andrew, ele teve a quem puxar no fim das contas. – A iniciativa Jovens Vingadores tem a intenção de restaurar o que foi destruído: a confiança das pessoas. Desde o último confronto, as pessoas têm estado receosas sobre se podem ou não confiar nos Vingadores.

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Lar, doce lar - Bucky Barnes
Fiksi PenggemarContinuação de "Stark" Andrew Stark guarda inúmeros segredos. O pior deles? Bucky Barnens dormindo em sua cama.