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Os olhos de Bucky deixam um rastro quente nas costas de Andrew, que, em silêncio, retira a camiseta preta de gola alta e mangas longas que usava, que depois da luta ficou arruinada. Seus movimentos são acompanhados pelas dores que estão espalhadas em cada centímetro de seu corpo, os movimentos duros com as fisgadas dolorosas. Com a tatuagem do corvo visível para Bucky, Andrew se sente mais nu do que quando tirou a toalha para se trocar na frente dele.

Desde que Mônica permitiu que ele se trocasse para a reunião, ele e Bucky se organizaram no pequeno vestiário com chuveiro e roupas limpas, nenhum dos dois tendo coragem até então para começar o assunto. Andrew está inquieto, sentindo-se mais nu do que nunca e com novos hematomas cobrindo seu corpo, ele deseja que Barnes ao menos dissesse alguma coisa ao invés de ficar somente o observando no canto do vestiário, encostado na parede com os braços cruzados em frente ao corpo.

Por sorte, a cabine do chuveiro é privada e Andrew não terá que tomar banho sabendo que tem os malditos olhos azuis de Bucky vagando pelos seus machucados. Apesar do pensamento o fazer ter ideias ruins – no bom sentido da palavra –, Andrew retira a calça e entra na cabine, retirando a cueca e a colocando em cima da porta.

– Eu te convidaria aqui para dentro, mas, você sabe, muito pequeno aqui. – Andrew diz para quebrar a tensão entre eles quando liga o chuveiro, uma onda de coragem o atingindo junto com a água quente. Ele não quer sair dali e enfrentar um Barnes raivoso, que quebrou a mandíbula e mais alguns ossos do rosto de Jason.

De todas as possibilidades que Andrew imaginou que seria a reação de Bucky, ele não pensou na mera opção dele surtar e quebrar a cara do primeiro que encostasse nele. É o tipo de reação que Steve garantiu que nunca aconteceria, porque Bucky era um cara calmo, foram suas palavras e Andrew começa a perceber que talvez Rogers tivesse mentido sobre algumas coisas para que Andrew aceitasse Barnes em seu apartamento.

Tudo bem, ele tem a maldita maldição em seu corpo e o corvo em suas costas é lembrança de uma infância banhada do sangue de pobres pessoas que não faziam ideia que Andrew era o amuleto favorito da morte. Provavelmente, Tony Stark e muitos outros não iriam querer Andrew por perto se tivessem sido avisados antes sobre o mal presságio que ele carregava.

Talvez ele mesmo gostaria de evitar sua presença se pudesse .

– Abre a porta. – A forte batida na porta faz Andrew congelar, olhando aterrorizado para a madeira como se esperasse que Bucky a arrombasse.

– Eu estava brincando, cara. – Andrew sussurra, sentindo o rosto queimar de vergonha ao ouvir Bucky rir. – Seu idiota! Se achando particularmente engraçado hoje, não é?

– Você que me convidou, corvo. – Bucky usa o apelido com amargura em sua voz, o que faz Andrew estremecer.

Andrew se apressa para limpar todo o sangue em seu corpo, esfregando os ferimentos até ficarem vermelhos e enrugados pela água quente. Os dedos tremem ao chegarem perto dos ombros, onde as penas do corvo tatuado em suas costas o lembra dos anos no casarão de crianças esquecidas, era o nome carinhoso que os órfãos chamavam a casa deles. Os dias em que Andrew cortava os cabelos de todas as crianças, aparando os fios, raspando algumas cabeças a pedido da diretora, e até mesmo ignorando algumas por insistência da coordenação, que dizia que seria um breve castigo.

Engolindo em seco, Andrew desliga o chuveiro e bate duas vezes na porta.

– Passa a toalha, por favor. – pede.

Bucky não responde, mas a toalha passa por cima da porta e Andrew a pega antes que caia no piso molhado.

Ele se seca, enrola a toalha em volta da cintura e sai da cabine.

Lar, doce lar - Bucky BarnesOnde histórias criam vida. Descubra agora