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Aos dezenove anos de idade, Andrew havia ganhado seu primeiro carro.

Era um conversível preto, bancos de couro e tão raro que o preço que custou ainda assombrava as memórias de Andrew como um fantasma do dinheiro. Ele não estava acostumado a ganhar coisas caras. Não. Ele não estava acostumado a ganhar coisas. Sua vida inteira se resumiu a perder coisas, a perder pessoas, nunca ganhar. A diretora do casarão o lembrava com frequência que todas aquelas crianças que morreram deveriam ser tatuadas nas costas de Andrew em memória a suas vidas e Andrew, por sua vez, jamais discutiu sobre isso. Ele aceitava o peso. Aceitava a dor. Mas nunca recebeu coisas para aceitar, portanto não teve reação ao ver Happy estacionando o carro em sua frente, na faculdade.

– Belo carro. – Andrew se lembrava de ter dito, muito fascinado com a máquina de quatro carros que só parecia ser possível existir em filmes antigos e naqueles programas de televisão de colecionadores de carro.

Happy sorriu, apoiando o braço na porta do carro.

– Belo, não é? – Happy concordou, retirando a chave da ignição e a jogando para Andrew. – Ele é seu.

Até hoje Andrew fica feliz por ter reflexos rápidos, pois se abaixou a tempo de alcançar as chaves antes que chegassem ao chão.

Os olhos de Andrew se arregalaram quando a realização das palavras de Happy o atingem, a realidade de ter um carro daqueles o deixou sem ar. Não só pelo preço, mas porque era o carro mais incrível que já havia visto em toda a sua vida.

– O que?

– É, Tony pediu para que eu buscasse hoje. – Happy contou, abrindo a porta do carro. – Foi feito especialmente para você. Olha. – Happy aponta para a escritura de prata feita no capo do carro, letras delicadas e brilhantes anunciam o dono do carro.

Andrew Stark.

– É seu presente de aniversário. – Happy anunciou, sorrindo para Andrew como se ele fosse pai do garoto completamente paralisado. – Atrasado. – completou, como se precisasse enfatizar e lembrar a Andrew que Tony ainda não estava acostumado com a ideia de ter um filho e por essa razão esqueceu. Claro, essa não era a intenção de Happy, mas Andrew ainda sentia a dor perfurar seu peito. Faziam dois anos desde que Tony descobriu sobre seu filho e ainda assim a ideia não parecia agradá-lo. – Vem, vamos dar um passeio.

Happy deu um tapa suave em seu ombro, o retirando das memórias amargas e sentimentos dolorosos. O sorriso dele fez Andrew forçar um sorriso pelos lábios, contornando o carro e deixando a mochila aos seus pés ao sentar no banco.

Demorou três minutos para Andrew se acostumar com o carro, o banco de couro vermelho que havia sido feito proporcionalmente para ele, o volante de aro prateado que os dedos de Andrew envolveram com cuidado como se temesse amassá-lo. Os pés descansaram cuidadosamente sob o acelerador e o freio, a ideia de dirigir através das ruas de Nova York o entusiasmava mais do que deveria se levasse em conta o trânsito que o sufocaria.

– Podemos tomar sorvete? – Andrew perguntou, as bochechas doendo de tanto sorrir.

Não importava que Tony tivesse esquecido seu aniversário.

Não havia menor importância porque ele havia feito aquele carro para Andrew, especialmente para ele. Cada centímetro, cada detalhe foi escolhido porque Tony acreditou que Andrew gostaria e só isso importava.

Happy ainda sorria, aparentemente muito orgulhoso do garoto que Andrew se tornou.

– Qualquer coisa que você quiser, Andrew.

Demorou dois dias para que Andrew descobrisse a verdade.

Foi um dia estranho, na verdade.

Andrew apareceu com carro na torre dos Vingadores após a semana de provas e o Tony o esperava no estacionamento. Os óculos escuros que Tony usava foram rapidamente retirados ao ver o carro de Andrew.

Lar, doce lar - Bucky BarnesOnde histórias criam vida. Descubra agora