Um pacto, mas não com o diabo

299 55 34
                                    


Chaeyoung

Você está segura agora.

Era uma voz tão doce, uma que eu nunca tinha ouvido na vida. E ficou ecoando na minha mente. É tão bom a sensação de acordar de um sonho terrível, no conforto de uma cama maravilhosa. Mas quando eu abro os olhos, as provas vão sendo jogadas na minha cara.

A minha roupa de cama definitivamente não tem essas estampas indianas vermelhas com dourado. Eu mal tenho dois travesseiros, quem dera os cinco que tem aqui. Onde carambas eu vim parar?

Ok. Eu tenho que descobrir. Hora de parar de ser medrosa e me virar pra ver. Seja o que for, não se compara ao cativeiro em que eu deveria estar.

Quando tiro a cabeça dos travesseiros, tenho mais certeza ainda. Fui sequestrada. E por algum fulano bem das pernas. Porque com um quarto bonito desses deve ser no mínimo cheio da grana. Tem uma decoração retrô mas ao mesmo tempo chique.

Meu deus. É mesmo um quarto dos sonhos. A sacada tem até uma vista do parque.

E bem quando olho, uma figura surge do lado de fora. Parece que tomo uma pancada na cabeça nessa hora. Porque todos os flashes da noite passada voltam com força total. Tudo daquela noite desgraçada.

O meu apartamento, a cena da Tzuyu se engolindo com uma piranha da fraternidade, o maldito do Ivan, o beco. E ela.

É ela.

A loira da biblioteca. Dos olhos magnéticos. A mulher do beco. A dona da voz.

E nesse momento, ela tem um sorriso discreto no rosto. Parece feliz ao me ver. Foi ela que me catou daquele beco. É ela a minha sequestradora!

— O que você fez comigo?

— Te trouxe pra minha casa. — Ela dá de ombros. — Ah, e antes disso, salvei a sua vida. De nada.

É incrível como ela ignora que me sequestrou. Mesmo que, bom, isso seja tipo um sequestro gourmet. Estou em ótimas condições sem nada para reclamar, mas ainda sequestrada. Se bem que para o meu padrão, eu deveria estar agradecendo.

— Dormiu bem, Chaeyoung? Ficou apagada desde que desmaiou no beco.

Meus pensamentos param por alguns minutos quando eu reparo melhor nela. Tem algo misterioso nessa mulher, só de olhar para ela, todos os meus neurônios ficam atiçados de tanta curiosidade. Os cabelos loiros e longos caindo pelo ombro esquerdo. Os olhos inexplicáveis que ela tem. O sorrisinho de canto.

Como essa bicha é bonita.

Não consigo mais ter medo dela. O meu lado carnal me impede de ter medo dela. Eu só posso perder meu tempo tentando adivinhar que ser ela é, e pensar que independente do que for, ela é uma obra de arte.

— Por que me trouxe pra cá? Você nem me conhece.

— Ia ser muita falta de educação eu te deixar lá, não é? — Ela se aproxima de mim e se senta na beirada da cama.

— Poderia ter me levado para um hospital.

Eu, uma sem teto, reclamando de ter acordado nesse paraíso. Você ia adorar acordar com o fedor de remédios no hospital ao invés do cheirinho bom de amaciante dos lençóis da cama da loirona né Chaeyoung?

— Foi um desmaio, não um ataque cardíaco. E se eu deixasse você no beco, outra pessoa te levava. — Ela fica em silêncio depois disso. Me olha fixamente, como se estivesse formulando mil pensamentos sobre o que vê. — Te deixar lá não estava nos meus planos, de qualquer maneira.

A Bruxa Tá SoltaOnde histórias criam vida. Descubra agora