Sonhado dom de vulnerabilidade

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Mina foi o caminho inteiro amaldiçoando as duas. Claro, da boca pra fora, já que justamente quando estava cem por cento, nada funcionou nas duas mulheres. A facada ardia nas costas dela, e com tanta dificuldade em andar, mal acreditou quando entrou em casa. Ficou mais tranquila ao avistar Chaeyoung deitada no sofá.

— Que bom que você já está de volta. — A japonesa disse calma, até parecia um dia qualquer naquela casa. Quando viu o estado dela, Chaeyoung levantou correndo.

— O que aconteceu com você? Você tá sangrando pra caramba!

— Ah, não é muito comparado ao sangue que eu tirei da outra. — Mina forçou um sorriso. Tentava respirar fundo na tentativa de diminuir a dor. Mesmo sendo imortal sentia a mesma dor que um humano normal sentiria com um ferimento daqueles.

— Para de fazer graça, você tá toda ferrada! Tem alguma coisa de primeiros socorros aqui? Me diz como te ajudar! — Chaeyoung atropelou as palavras. Ela então correu pro quarto e pegou a primeira camiseta que viu. — Estanca esse sangue!

— Tem. Ali naquela caixa de madeira.

— Deita aí no sofá. — Chaeyoung disse com a caixa na mão.

— Aqui não vai dar certo.

— Então vai na mesa mesmo! — A Son toda afobada tirou o vaso e a toalha, pegou uma almofada e ajudou a japonesa a deitar em cima da mesa.

— Calma, Chaeng. Até parece que eu estou morrendo.

— É o que parece mesmo! Experimenta se olhar no espelho! — Chaeyoung suspirou e tentou se acalmar. Nunca tinha visto tanto sangue assim, muito menos alguém como Mina nessa situação. Foi lavar as mãos e só depois voltou pra perto dela. Afastou o tecido manchado da blusa e viu a gravidade do ferimento. — Primeiro termina de estancar, certo? Me dá as instruções porque foi você quem estudou medicina, não eu.

— Isso, faz pressão e espera mais um pouco. — Mina foi diminuindo o tom de voz. Aquilo preocupou ainda mais Chaeyoung, mesmo sabendo que ela se recuperaria, tinha certo desespero. Não era um corte longo, e sim fundo. — Depois você limpa com o soro e faz...O curativo.

Dor maldita.

— Ei, ei. Olha pra mim, isso. Foca em mim. — Chaeyoung se inclinou e olhou para ela. Mina grudou seus olhos o máximo que podia em Chaeyoung, sentia que estava a três passos de perder a consciência. Na rua não parecia tão terrível quanto realmente era. Foi só chegar em um lugar seguro, que a dor criou muito mais força. — Você não vai desmaiar, ok? Você não pode desmaiar.

— E eu também não posso morrer. — Mina respirou fundo. — Medo de perder a loirona aqui?

Chaeyoung voltou a sua posição inicial e continuou pressionando a camiseta contra o local.

— Tá muito engraçadinha pra quem acabou de ser esfaqueada. — Depois de mais uns minutos, Chaeyoung começou a limpar o ferimento. — Você é imortal, mas uma facada dessas mata fácil o primeiro que passar. E você tá quase se contorcendo de dor que eu sei.

— Eu não teria nem metade dos problemas que eu tenho, se eu tivesse esse sonhado dom de vulnerabilidade. — Mina mordeu o lábio e suas mãos apertaram mais a almofada. — Ainda assim...Já tomei piores. Sofri dois acidentes de trem sabia?

— É incrível essa tua capacidade de ser metida até nessas horas.

— É mesmo...Terminou ou está admirando a beleza das minhas costas?

Chaeyoung revirou os olhos. Foi pega. Até porque era difícil não notar, ficava se perguntando se existia algo que não fosse bonito em Mina.

— Eu aqui tentando te ajudar, e você falando que eu estou olhando pra suas costas.

A Bruxa Tá SoltaOnde histórias criam vida. Descubra agora