Vocês só se conhecem a duas horas?!

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[...]

— Como estamos? O caso da agente 704 foi resolvido? — Ela parecia de muito bom humor. E isso geralmente não era um bom sinal. Poderia fazer coisas piores com um sorriso despreocupado no rosto, do que fazia com a cara fechada. — Que pena, esse silêncio fala por vocês. O que aconteceu? — A loira se encostou na janela, olhando a altura daquele andar do prédio. Uma das muitas bases da Ordem espalhadas pelo continente, no pleno coração de Nova York.

— Perdemos a comunicação com ambas agentes. Os rastreadores foram encontrados em um cemitério.

— O que significa que tanto a 704, quanto a 683, continuam vagando por aí. — Ela caminhou e descansou as mãos na cadeira em que um dos agentes estava sentado. — Não preciso dizer o que vai acontecer se em 24 horas, os corpos das duas não estiverem na ala dos indigentes.

— Agentes de campo já foram enviados em busca delas, senhora. — Enquanto o homem era alguém que prezava por sua vida e pelo salário que recebia da organização, a mulher não estava nada contente com a mudança na cadeia de comando. Na hierarquia da Ordem, eles eram chefes de segurança. Não muito importantes no geral, mas vigiavam o caminho e as missões de cada agente de campo. No meio dos muitos na sala cheia, os dois eram os encarregados por Momo e Dahyun.

Juraram proteger e manter o equilíbrio entre todos os seres enquanto humanos vivos. Agora recebiam ordens logo de uma bruxa?

— Amanhã uma representante minha virá aqui, e se o serviço não estiver completo, eu mesma vou retornar. — A loira disse sem tirar aquele sorriso do rosto. As coisas estavam dando certo demais para se estressar com meras agentes fugitivas. Encarou os dois próximos a ela, que não tiravam os olhos de seus computadores.

— Estará completo, senhora Isla. — O homem disse sério.

Isla então deu as costas e saiu da sala.

— Eu estou cheia disso. Não sei quem foi o maldito que vendeu a alma pra essa demônia, mas eu não sou obrigada a fazer o mesmo. — A mulher de madeixas ruivas levantou da cadeira e caminhou até a máquina de café.

— Mudanças são mudanças, não temos muito o que fazer. A não ser que a gente queira continuar vivo. — O agente da mesa vizinha comentou.

— Porque 90% dessa sala, não está aqui por obrigação. Está aqui pelo dinheiro. Não por não ter outra alternativa, não pelos princípios da Ordem. Mas por serem todos uns vendidos. — Ela deu um gole no café. — Tanto faz se quem dá as cartas é um velho rico, uma ex-militar, ou uma bruxa.

A conversa quase se deu por encerrada quando a agente retornou a sua cadeira, voltando as suas funções. Naquela sala enorme entre papos paralelos, ordens sendo dadas, tudo o que se ouvia eram cliques de mouse e de teclados.

— Você tem razão. Não precisa vender a sua alma para mim. — Se Isla não aparecesse perfeitamente parada no corredor de saída, como se estivesse ali há horas. Com seu ar de ser superior, e seus olhos verdes carregados de desdém. — Você só é obrigada a fazer o seu trabalho, o que por sinal não está fazendo. Mas tanto faz, vocês são mesmo todos uns vendidos. Então se quer deixar essa organização, sinta se a vontade para ir embora. Não só você. Os demais se quiserem, podem ir em frente.

Como se fosse a chefe de um mero escritório qualquer, ela deu de ombros e caminhou até a máquina de café. Encheu o copo e permaneceu no mesmo lugar. Observando todos pararem o que faziam e se entreolharem. Finalmente o silêncio correu pelo lugar.

— Eu falei sério. A porta da rua é serventia da casa.

A ruiva foi a primeira corajosa. Três caras e mais uma mulher fizeram o mesmo.

A Bruxa Tá SoltaOnde histórias criam vida. Descubra agora