A casa caiu

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Para Sana, não poder encostar em seres vivos, e em consequência não poder sentir o mísero calor das mãos de Chou Tzuyu, ainda era uma coisa horrorosa. Mas naquele momento havia se tornado um mero detalhe infeliz.

Porque pelo menos estava com ela por perto. E isso já valia.

Sana estava deitada de lado com uma parte do corpo no monte de travesseiros na cama. Tzuyu sentada mais longe, com as pernas afastadas, e a cadelinha no meio. Já com uma muda de roupa, os cabelos presos e nenhuma maquiagem horrível.

— Era difícil dividir corpo com você, viu. — Tzuyu resmungou em meio a risadas. Nada melhor do que fazer carinho naquela barriguinha de cachorro. — Me fazendo ir pro outro lado só por causa de comida! — Tzuyu parou apenas para ver a doguinha mexendo as patinhas pedindo mais carinho. — É uma pena que a Sana tenha te dado um péssimo nome. — Tzuyu levantou o olhar pra japonesa.

— Você e a Lobinha não paravam de uivar. Aliás, isso era você ou ela?

— Eu na maior parte do tempo. Menos na lambeção de rosto na Mina. Seria estranho. — A Chou deu risada. — Ser uma cachorra de rua é viver com fome. Foi complicado. Não sei nem explicar como é cansativo. Primeiro eu...Apaguei lá no apartamento. Jurava que era você fazendo as idiotices de assombração, não era. Depois eu acordei na frente de uma lojinha. Não dava pra levantar. — Tzuyu deitou na cama e colocou Lobinha deitada em sua barriga. — Aí parecia que o meu corpo não me respondia totalmente. Aí eu vi o reflexo.

— Você teve sorte. Sua alma deve ter vagado até encontrar um corpo para habitar. Isso não devia ter acontecido. — Sana disse pensativa. — Talvez deu certo porque ela estava fraquinha. Você sentia isso de alguma maneira?

— Acho que sim. Pela fome. Era difícil correr ou andar rápido. Aí fiquei vagando e vagando. Lembro que um homem deu uma metade de um cachorro quente. Nem sei quanto tempo perambulando pela rua até sentir o seu cheiro. — A Chou ergueu um pouco a cabeça para ver os lábios da Minatozaki formando um sorrisinho. — Obrigada por se encher de perfume. Claro, o faro de cachorro mais parece um superpoder.

Lobinha não pegou no sono, apenas tinha ficado quietinha sentindo a mão de sua segunda mamãe. Mas o dever da sede lhe chamava, então pulou da cama e saiu do quarto.

— Temos que arrumar o cantinho da sujeira dela. E também ver se a outra bolinha de pelo já se acostumou com a ideia de dividir atenção. — Sana se espreguiçou, sendo olhada pelo visor atento de Tzuyu.

— Obrigada mesmo, Sana.

— Tzuyu, eu falei sério em todas as nossas conversas. Não precisa me agradecer. — Sua mão não poderia tocar na de Tzuyu ainda. Então a japonesa aproximava o máximo que podia. Essa era sua maneira. — Eu amo você. Não faria nada menos do que isso. E não faria nada sem a ajuda delas.

— Eu sei. — Tzuyu balançou a cabeça. Teve tempo para se familiarizar pelo menos um pouquinho com a situação entre elas. Infelizmente isso não ajudava muito. Toda vez que chegava um pouco mais perto de Sana, e quase era capaz de sentir o calor do seu corpo, poderia se esquecer do que as impedia.

Fechou os olhos e respirou fundo. Afastando a ideia de se aproximar mais um pouquinho, na esperança de algo ter mudado de repente.

— Eu amo você também, Minatozaki Sana. Não se esqueça disso.

— Eu não vou.

As duas seguiram pra sala em busca da doguinha, onde a nova assembleia se organizava.

— A gente vai ser mesmo...Cúmplice do apocalipse? — Quem perguntou dessa vez foi Nayeon. Já que a mesma pergunta foi feita a uma hora atrás com outras palavras, por Momo.

A Bruxa Tá SoltaOnde histórias criam vida. Descubra agora