Meio caminho andado

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[...]

O plano era fazer planos para então poder fazer planos.

Era o que deveria fazer.

Mas Jihyo não conseguia formular nenhuma boa ideia. Nada na verdade. Só conseguia sorrir boba pra televisão. Era amor a primeira vista. Aquilo era o avanço preferido dela. Ainda nem conhecia todas as maravilhas e facilidades do século 21, mas nada iria ganhar tanto seu coração quanto uma televisão.

— Como pode...Isso é tão lindo. É um mecanismo extraordinário. — Jihyo comentou, Nayeon preferiu ignorar e não levar a sério.

Tanto esse comentário como os comentários sobre o microondas, a fascinação com o chuveiro, os olhinhos curiosos quando via o celular, ou os olhinhos tremendamente apaixonados encarando a TV.

Jeongyeon respirou fundo antes de entrar em casa. Depois de um dia que começou com uma desmemoriada, passou por um bandido psicótico e terminou com um barraco em frente a um lar de idosos, ainda tinha a parte inicial.

E pior. Im Nayeon.

— Boa noite.

— Boa noite. — Jeongyeon avistou Jihyo responder sorridente. Ela estava com outras roupas, um conjunto de moletom de Nayeon. E com uma cara bem melhor do que quando tinha a encontrado. Era até um bom sinal, longe do desastre que havia imaginado.

— Boa noite, Yoo Jeongyeon. — Nayeon cumprimentou carregada de deboche. Levantou e a arrastou da sala para o quarto. Fechou a porta, enquanto Jeongyeon já se preparava pra vê-la soltar fogo pelas ventas. — O que deu nessa sua cabeça espaçosa hein? Eu pelo menos conheci a Momo em um barzinho, e ela não era uma sem teto! Não pode pegar qualquer uma na rua e trazer pra casa! — A Im tentou imitar a voz de Jeongyeon na última parte. — De que buraco você tirou ela? Eu passei o dia inteiro com esse...Esse ser humano! E até agora eu não consegui descobrir! Porque drogada ela não tá, mas tá adorando agir como uma!

— Eu sei que não deveria ter trazido ela pra cá. Mas ficar na rua seria pior. Sei também que ela é muito estranha, mas ela precisa de ajuda, Nayeon. — Jeongyeon levantou da cama e até passou por sua cabeça tentar a carinha de cachorro sofrido, até lembrar da discussão dias atrás como a própria Nayeon tinha acabado de fazer. — E como você mesma disse, metade minha, metade sua. Portanto, a Jihyo não é um problema seu.

— Ah não é? Eu fiquei esse tempo todo com ela, eu que emprestei roupa, dei comida e tudo mais!

— Fez porque quis, eu não pedi nada e garanto que ela também não pediu. — Nayeon fechou os olhos. Deveria ter se convidado para passar uma temporada no apartamento das bruxas. Com certeza passaria menos irritação. — Jihyo vai ficar aqui até eu conseguir ajudar ela.

Dessa vez Jeongyeon foi firme. Apesar de não ter a mínima ideia de quanto tempo isso levaria. Nayeon desistiu de qualquer tentativa de reverter o cenário. Jihyo era mesmo estranha em todos os sentidos da palavra, com grandes chances de ser uma doida foragida do manicômio, mas até o momento não tinha feito nada grave.

— Tudo bem, Jeongyeon. Mas eu não me responsabilizo se ela gritar de novo amanhã no banho.

— Ela gritou? Que tipo de grito?

— Ela gritou. Um grito de surpresa. — Nayeon soltou um suspiro. De repente dava até vontade de rir lembrando da cena. Jihyo parecendo um verdadeiro pingo molhado embaixo da toalha, com um sorriso de orelha a orelha. — E ficou falando meia hora como era boa a existência do chuveiro.

As duas saíram do quarto, e ficaram paradas observando ela.

Jihyo estava quieta, como uma criança que só quer ficar no seu cantinho assistindo desenho. Mesmo que nesse caso, ela estivesse agora assistindo um canal de videoclipes de música.

A Bruxa Tá SoltaOnde histórias criam vida. Descubra agora