Dia de sorte pra umas, desgraça de dia pra outras

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Chaeyoung

Dormi tanto que só fui acordar quando ouvi o barulho da porta da sala abrindo. Mina ainda está apagada, e é muito fofo ver ela dormindo. Eu poderia fazer isso por dias e dias. Fiquei tão preocupada vendo o jeito que ela estava. Nunca vi ela tão vulnerável. Dava pra ver o medo estampado nos olhos dela. Não era só uma aranha. Ela parecia representar muito mais coisa.

Eu disse que ia ficar com ela. Mas a fome me obriga a sair do aconchego dela. Que é o melhor do mundo. Cubro ela com a manta e saio rápido do quarto. Que bom que como ela dorme pesado não vai acordar tão cedo.

— Essa sua ex é meio pancada da cabeça. — Sana diz risonha enquanto prepara um sanduíche. — Contei toda a verdade pra ela.

— E aí, o que rolou? — Começo a fazer um pra mim também.

— Ela quebrou a casa inteira em cima de mim. Só consegui fugir dela no terceiro quarteirão. — Me vem um baita de um clique na cabeça. Sana sempre foi muito simpática e muito acolhedora. Mas nos primeiros dias dava pra sentir um negócio frio vindo dela. Um olhar meio perdido. Desde que ela começou a fazer essas visitas a Tzuyu, ela parece mais feliz. — Quebrou um vaso em mim.

As coisas nunca foram tão clarinhas como agora. Isso. Elas fariam um casal lindo. E eu tenho certeza que é isso. Esse é o único motivo pelo qual a Sana continuou atrás dela esse tempo todo. E me vem uma felicidade quando eu percebo. Tzuyu sempre vai ser um pedaço de mal caminho, mas eu não sinto nem ciúmes.

Não mais.

— Até me lembra as criancinhas na escolinha. É assim que começa, sabia? — Quando eu digo, Sana me encara de boca cheia.

— Não obrigado. Eu não posso encostar em ninguém. — Sana dá de ombros. — Mas...E você? Gosta dela ainda?

— Não penso nela como antes. Acho que não.

— Sabe, faz anos que eu não vejo a Mina desse jeito. Chaeyoung, ela pode não ter dito. Talvez ela ainda nem saiba. — Ela chega rapidinho do final do sanduíche. Enquanto eu não cheguei nem na metade do meu. — Acho que ela está gostando de você. E não só querendo te dar uns beijos. Ela está gostando pra valer.

Não que eu não tenha percebido. Mas como eu lido com isso? Mina não é qualquer uma. E mesmo que eu tenha toda a certeza do mundo que eu também não quero só dar uns beijos nela, que eu quero muito mais, como eu devo proceder? Já me machuquei com a Tzuyu. Seria pior me machucar com ela. Ou acabar machucando ela.

— E você também. E olha, se vocês não agirem, vou ter que prender as duas no quarto até alguma coisa acontecer.

— Prefiro essa opção.

— São mesmo duas bananas.

Dou de ombros enquanto continuo o sanduíche.

— Ei, Sana. O que tem entre ela e...As aranhas?

Sana ergue as sobrancelhas e torce os lábios meio apreensiva.

— Apareceu alguma, não foi?

— No quarto dela. Ela ficou muito assustada. Mas eu matei.

— Não sei como pode ter aparecido. Mina não deixa uma única brecha. É tudo arejado. — A Minatozaki diz balançando a cabeça negativamente. — Quando aquela ordinária jogou ela no poço, eu não consegui tirá-la de lá. Ela nos separou. Mina ficou sete meses sem sequer ver a luz do sol. Era um poço fundo, cheio de bichos. Quando eu resgatei ela, nem parecia a mesma pessoa. Extremamente magra, pálida, doente. E cheia de picadas de aranha. — Sana suspirou. O ódio me sobe só de imaginar. É um tremendo de um trauma. — Ela não pode ver nem imagens, que tudo volta. Pegou uma fobia enorme. É por isso que estamos a tanto tempo buscando e buscando, é por ela também.

A Bruxa Tá SoltaOnde histórias criam vida. Descubra agora