Capítulo 16 - Babi

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1 semana depois:

Nunca imaginei que fazer minha mudança fosse ser tão cansativo e tão difícil assim. Apenas antes de ontem eu fui terminar de desempacotar a última caixa e organizar. Tive que aplicar papel de parede, o pintor veio a mando de TH, tive que fazer tanta coisa, que estou aqui morta de cansada.

Meus dias estão tão corridos, peguei mais contratos do que deveria e aguentava. Até meu dia de folga do call-center está corrido, o que geralmente não acontecia, eu sempre deixava o dia de folga totalmente livre. Mas eu me ferrei amigos e amigas.

Acabei de descer do uber, pleno sábado às 22:35 e algo de errado não está certo para mim, hoje é dia de baile, e aqui na barreira está deserto, tudo completamente diferente. Não tem moto-taxi e nem vapor aqui na barreira. Pego meu celular e ligo pro sombra, mas só chama, ele com certeza tá no baile, e não vai ouvir.

Resolvo então mandar mensagem:

WhatsApp on:

BABI: Sombra, tá rolando alguma coisa? Desci do uber aqui na barreira e não tem nenhum vapor, nem os Moto-taxistas.

BárbaraAlmeida: Ta tudo um breu, e eu tô ficando com medo.

Vou andando, subindo a ladeira. Até o celular vibrar com uma nova mensagem.

Sombra: Onde tu tá? Vou descer aí.

Bárbara Almeida: Tô subindo a ladeira principal. Vem logo, por favor. com medo real.

WhatsApp off:

Quardo o celular no cóis da calça e continuo andando morrendo de medo, as ruas estão claras porém com pouco movimento, vejo um farol de moto em alta velocidade vindo em minha direção, com certeza é o sombra. Ele para do meu lado na pista enquanto eu tô na calçada e me olha de cima a baixo.

Ele tá lindão com uma calça jeans preta, tênis da Nike branco com preto e camisa da Lacoste azul marinho. Que pedaço de mal caminho é esse Senhooooor????

Ele me olha de cima a baixo, e dá aquele sorrisinho sacana que ele sempre dá, e que me deixa com muito tesão nele.

SOMBRA: O baile acabou de começar. Sobe aí que vou lá na barreira rapidinho.

BABI: Desculpa ter lhe atrapalhado. Só que achei tudo muito estranho.

SOMBRA: E tá estranho mesmo. Eu tenho que ver isso de perto. - Subo na moto e ele pilota descendo a ladeira de novo. Ao chegarmos na barreira, ele vê que não tem ninguém e liga no rádio pra os vapores.

BABI: Sombra, posso te perguntar uma coisa? - Falo depois dele desligar o rádio.

SOMBRA: Pode!

BABI: Por que não coloca câmeras naquela - aponto pra uma loja que fica de frente pra barreira. - aquela - aponto pra uma lanchonete que fica já esquina bem na saída da favela - e naquela loja? - outra loja na saída.

SOMBRA: Pra quê? - ele pergunta parecendo bem interessado no que tenho a dizer.

BABI: Pra poder saber das coisas antes que aconteça - Falo apontando pras lojas da saída do morro - e essa de frente pra barreira é pra não se repetir isso de hoje.

Os vapor chegam, tudo com o rabinho entre as pernas, com um medo estampado na face deles. Me deu pena, por que pra o sombra ser dono da rocinha, a maior favela da América Latina, não foi sendo bonzinho e relevando as coisas.

SOMBRA: AMANHÃ EU QUERO TODOS, NA MINHA SALA SEM EXCEÇÃO AS 19HS. BORA! FIQUEM ATENTOS, PAGO VOCÊS PRA ISSO. PRA PROTEGER A COMUNIDADE. FÉ AÍ!

Vapores: Fé, chefe!

Cria da RocinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora