Cria da Rocinha

44 - Sombra

Já fazem 2 semanas que a Babi está em coma, a pressão dela subiu muito e muito rápido, e deu uma eclâmpsia, fazendo com que os médicos a colocassem em coma induzido para poder fazer o parto da minha filha o mais rápido que podiam e preservar assim as duas.

Minha sogra coitada, tá em desespero desde o dia do parto. Sophia nasceu bem, saudável e linda, a minha cara a cria kkkkkkk. Já minha dama ainda não acordou.

Durmo aqui com ela todos os dias, eu, ela e Sophia. No começo minha sogra não gostou da ideia, mas ela não tinha que gostar, eu sou o marido e o pai, eu sei o que estou fazendo. Então comprei um berço mais simples pra colocar aqui junto com umas paradas pra enfeitar.

Durante o dia vem uma enfermeira da confiança da minha sogra ficar com elas, e a noite, quando saio da boca eu venho pra cá. Minha vida se resume a isso, tenho nem cabeça pra realizar baile, a comunidade está triste, todos gostavam da Babi, e estavam ansiosos para a  chegada da Sophia.

Agora é madrugada, e não consigo dormir, a Sophia é um anjinho e dorme a noite quase toda, o relógio dela desperta as 04:50 todo santo dia pra mamar e trocar a fralda. Ela toma o leite do copinho, mas sempre acho que seja pouco pra ela. Então tomo uma decisão meio bosta, vou colocar ela no peito da Babi.

Parece que não tem leite, os enfermeiros me disseram, que o corpo dela não tá produzindo por causa que está em coma, mas vi um negocio na Internet dizendo que tem que colocar o bebê pra mamar pra poder produzir o leite. Então, coloco minha filha o mais confortável que consigo em cima da mãe dela, abaixo o pano da camisola de Babi, e a Sophia automaticamente abre a boca e procura o seio.

Assim que coloca o bico na boca ela já começa a sugar, mas logo solta empurrada e chora, eu coloco novamente e ela tenta de novo. Ficamos assim por muitos momentos, até que vejo algo: um movimento nos dedos da Bárbara quase imperceptivelmente.

SOMBRA: Amor? - Sussurro. - amor, você tá acordada? - falo encarando suas mãos. - Amor se estiver me ouvindo mexa um dedinho. E passam- se alguns segundos até que um dedinho mexe devagar. - Amor acorda. Nossa filha precisa de você, eu preciso de você. Por favor, você tem que acordar.

As lagrimas caem dos meus olhos, quem disse que bandido não chora mentiu, mentiu feio. Por que desde o parto da minha filha que eu choro direto, não na frente dos outros mas aqui nesse quartinho é tudo o que eu mais faço. Ouço duas batidas na porta e trato logo de enxugar meu choro e trazer a Sophia pra perto de mim.

Ao tirar Sophia noto um pouquinho de leite no bico da Babi. Então a enfermeira entra.

NATASHA: Boa noite sombra. Vim ver os sinais vitais da Bárbara.

SOMBRA: Ok! - essa menina vive dando em cima de mim, nunca dei confiança. Mas ela insiste.

NATASHA: Sabe, eu ouvi os médicos dizerem que não tem esperanças dela acordar.

Isso foi como uma bomba explodindo dentro de mim.

SOMBRA: O QUÊ?

NATASHA: Isso mesmo sombra, terá de arrumar alguém pra cuidar de tu e da bebê. E saiba que eu estou aqui.

Ela fala descaradamente, sem se importar da minha esposa estar no mesmo quarto. Ela não é feia, pelo contrário, se fosse em outros tempos, antes de conhecer a Babi, eu teria ficado com ela, teria mesmo, mas depois da Babi tudo mudou.

SOMBRA: Primeiro, não estou procurando mulher, nem mãe pra minha filha, porque nós ja temos. Segundo que minha mulher ainda está viva, ela tem pulsação, então ela tá viva.

NATASHA: Ela não vai mais acordar. - fala e se aproxima de mim. - Eu posso cuidar de vocês dois, serei sua fiel e mãe da Sophia.

De repente ouço uma voz rouca e bem baixinho: Você vai morrer.

Olho pra o lado e vejo a Bárbara de olhos abertos e tentando se levantar. Corro até ela e a deito de volta.

SOMBRA: AMOR! - Me viro pra enfermeira atirada que está de olhos arregalados de surpresa - VÁ CHAMAR UM MÉDICO! AGORA!!  Amor, amor sou eu, você tá acordada.

De repente o quarto enche de médicos e enfermeiros, e me mandam sair com a Sophia. Então vou pra recepção, e fico lá pelo que parece ser uma eternidade, enquanto fazem exames e testes com ela pra saber se está tudo bem.

Horas depois, o sol já raiou, o hospital começa a entrar gente, e ficam espantados quando me vêem aqui sentado com minha bebê no colo. Vejo a mãe da Bárbara vir andando quase que correndo em minha direção, me levanto da cadeira e ando em sua direção.

HELENA: Ela tá acordada - ela me abraça e começa a chorar. - Ela tá acordada sombra, e graças a Deus ela está bem, está saudável.

SOMBRA: Graças a Deus - me controlo para não chorar e o povo da comunidade não ver a cena. - Posso ir lá pra ver ela?

HELENA: Vim te chamar, ela pediu pra ver vocês dois.

Andamos de volta para o quarto e parece que os corredores ficaram maiores, que porra é essa? Demoro 2 horas na minha mente para chegar até a porta do quarto. Olho pra porta branca e entro sem bater, olho diretamente pra cama onde ela está. E ali vejo minha mulher acordada, sentada na cama apoiada pelo travesseiro nas costas.

Seus olhos diferente dos meus não tem olheiras, já que dormiu 2 semanas, apenas seu cabelo está um pouco sem brilho, devido aos dias que não se tem como lavar adequadamente. A pele está bonita por que minha sogra faz questão de todos os dias vir aqui passar creme e manda a enfermeira passar também.

BABI: Pode vir mais pra perto, não sou fantasma. Me deixe pegar minha filha. - Ela fala baixinho. E só então percebo que ainda estou na porta contemplando ela.

Fecho a porta e vou até ela, quando chego pertinho, eu a Puxo para um beijo, no começo é um beijo calmo, mas que logo se torna feroz, desconto toda a saudade e desespero que senti nessas 2 semanas, apenas nesse beijo. Quando o ar nos falta eu a solto e encosto nossas testas, e fico observando seu olhar.

Ela me dá um sorrisinho, e logo olha pra Sophia, seus olhos enxem de lágrimas que escorrendo rapidamente. Meu coração se quebra em mil pedaços, então coloco Sophia no colo dela, que fica hipnotizada com nossa filha.

BABI: Ela é tão linda..

SOMBRA: Sim, é minha cara.

BABI: Ta querendo dizer que sou feia?

SOMBRA: Não, só tô dizendo que ela é linda mesmo, mas que se parece comigo.

BABI: Passei duas semanas em coma?

SOMBRA: Sim, parece que foram 2 anos. Todos os dias eu ia trampa e depois vinha dormir aqui com vocês duas.

BABI: E a enfermeira?

SOMBRA: Impressão minha, ou você só acordou por causa da enfermeira dando em cima de mim?

BABI: Impressão não, foi exatamente isso.

Caímos na risada, e a Sophia acordou, a Babi olhou pra mim, como se tivesse perguntando o que deveria fazer.

SOMBRA: Coloque ela no seu peito, pra mamar.

Ela então colocou e Sophia imediatamente começou a sugar, e diferente da madrugada, ela mamou muito e já dormiu novamente.