Olho mais uma vez pro relógio e já são 02:33 da madrugada e nada do sombra chegar, eu já tô preocupada, ele deve ter se entupido de droga pra não ter que lidar com essa situação agora.
Conversei muito com a psicóloga, disse que meu marido não tinha reagido da maneira que eu esperava, que nós nunca tínhamos falado sobre filhos, se queríamos... ela me perguntou se eu estava feliz e eu não soube responder.
Então ela disse: da mesma forma que ele reagiu, você está reagindo, e tá tudo bem! Vocês não queriam essa notícia agora, então ficar preocupado ou preocupada com o futuro, é completamente normal. Tenha calma e dê tempo para ele colocar a cabeça no lugar.
Minha mãe também veio aqui com a Luana, ficaram me fazendo companhia, conversamos, e embora a Luana tenha perdido seu bebê, ela conseguiu ficar feliz por mim, e eu sou muito grata por nossa amizade. Elas também pediram pra mim ter calma.
Mas o problema, é que eu preciso dele pra ficar calma, preciso que ele diga que está tudo bem, e que ficará melhor ainda após a chegada desse bebê. Depois da minha conversa com mãe e Lu, e com a médica, minha mente abriu, e eu agora sei sobre as diferentes formas de aceitar as notícias.
Mas quero ele aqui, já é madrugada, e ele não chegou. Não sei se está bêbado ou drogado por aí, ou se simplesmente ele foi pra alguma missão sem me avisar e sem passar em casa.
Lembro das câmeras de segurança, ele colocou por toda a favela, principalmente nos pontos que eu falei pra ele que seria bom. As imagens das câmeras so tem ascesso da sala dele da boca e no meu notebook.
Abro o app das câmeras, e coloco logo na boca. Do lado de fora nem nas salinhas ele tá, olho na sua sala, e lá está ele. Deitado sobre a mesa dormindo, mas vejo os pacotinhos de pó perto dele. Ele se drogou. Essa foi a forma que ele digeriu a notícia.
Eu aqui preocupada com ele, achando que estava preocupado com o nosso futuro, e ele simplesmente está cheio de droga. Queria não me importar com ele. Queria conseguir virar as costas pra ele e ir embora.
Mas eu o amo de mais para ir embora. Infelizmente, apenas a ideia de ir embora e o deixar, me assombra e me faz sentir uma dor no peito uma falta de ar.
Mas agora tenho esse bebê, e eu tenho que concentrar todas as minhas forças para ele(a), essa criança é a minha prioridade agora.
Me levanto da cama, troco de roupa colocando uma calça moletom e uma blusa, pego a chave do carro, e vou até a garagem. Vejo os 2 vapor que ficam de guarda aqui em casa rondando os muros.
BABI: Boa noite, vou na boca buscar o sombra.
TAVINHO: Quer que vá algum com a senhora?
BABI: Não precisa, é aqui pertinho, dá pra mim ir. Eu já volto, e eu vou pegar o blindado só por precaução.
Eles concordam e voltam pra segurança, eu entro no carro e vou em direção ao portão, abro com a chave eletrônica e saio na rua, indo em direção a boca. As ruas em um breu total, hoje é madrugada de terça pra quarta, não tem nenhum movimento na comunidade.
Chego em frente a boca, estaciono o carro, e os vapor que ficam na frente na contenção me cumprimentam, todos eles tem muito respeito por mim, em partes por que se não tiver o sombra mata qualquer um deles, e eu também não sou de tá reclamando ou exigindo nada.
Entro na casa e subo as escadas, ando no corredor até a última sala do sombra. A porta tá trancada, então volto até o andar o de baixo pra perguntar a algum dos vapores se tem chave reserva.
BABI: A porta tá trancada, tem alguma chave reserva?
MINDINHO: Patroa, só tem a chave do patrão mesmo. Mas tem um chaveiro de confiança que mora aqui pertinho, posso ir lá chamar ele. - Não queria incomodar ninguém a essa hora da madrugada, mas vai ser o jeito.
BABI: Va lá mindinho por favor, chame ele e diga que irei pagar por ele ter vindo a essa hora.
MINDINHO: Tô indo patroa.
O mindinho sai e eu fico aqui fora com os outros vapores, mas fico sentada dentro do carro, esperando o mindinho voltar com o chaveiro.
Vejo o Mateus aqui na boca também. Ele é o único vapor que não pode ficar de vigia lá em casa. Todos fazem rodízio, mas ele não. O sombra diz que ele não é de confiança para ficar lá. Talvez seja insegurança do sombra por saber que o Mateus foi meu primeiro namoradinho e que tirou minha virgindade.
Vejo o Mateus receber uma chamada no celular, ele atende e vai pra um beco na lateral da boca, deve ser alguma mulher dele.
Lembro que gostava muito dele, que imaginava a gente juntos morando na casa dele. E quando ele desapareceu após tirar minha virgindade, percebi o quão tola eu era, por acreditar nesse imbecil.
Alguns minutos depois ele volta do beco com um sorriso falso no rosto, olha diretamente pra mim, e balança a cabeça em um cumprimento silencioso, ainda com o sorriso do capeta nos lábios.
Pouco tempo depois o mindinho e o senhor voltam e o senhor vem trazendo uma maletinha de ferramentas. Desço do carro. E o cumprimento.
BABI: Boa noite, desculpe incomodar o senhor a essa hora. Mas é que o sombra ta lá dentro dormindo. E preciso levar ele pra casa.
CHAVEIRO: Sim senhora. Vamos lá.
O senhor já sabia o caminho e foi andando na frente, parou na porta certa e já começou a mexer em lugares específicos para abrir a porta, após alguns poucos minutos ele abriu a porta e entramos.
A cena é horrível, o sombra largado na mesa com ela toda suja de pó, com vários saquinhos soltos pelo chao e mesa. Indicando que ele cheirou muito.
BABI: Quanto é o serviço?
CHAVEIRO: 200,00.
BABI: Me mande seu pix.
Faço a transferência para ele, e peço ajuda ao mindinho para levar o sombra até o carro. O mindinho me ajuda sem pestanejar e reclamar. Ele pega o sombra o colocando de pé, e passa o braço do sombra pelo seu pescoço. O chaveiro faz o mesmo do outro lado. E saem em direção ao carro.
Eu pego a carteira, celular e chaves do sombra, que estavam em cima da mesa e coloco no meu bolso, olho se tem muito dinheiro por aqui, mas como sempre não tem. O sombra não dá essa bobeira, apago as luzes, pego a chave do lado de dentro e fecho a porta.
Desço as escadas e os homens já colocaram meu marido no banco do carro.
BABI: Obrigada pela ajuda.
Ao abrir a porta do carro, ouço todos os radinhos dos vapores tocarem, e um grito soar:
XXXX: INVASÃÃÃOOOOOOO.
Olho espantada pro mindinho, e ele me empurra pra dentro do carro. Ligo o carro e dirijo a toda velocidade para casa, o mindinho vem seguindo na moto. Chego na frente de casa e o portão automático abre.
Desco do carro desesperada. E ouço os foguetes.
BABI: MINDINHO VOCÊ FICA PRA AJUDAR OS MENINOS. MAS ME AJUDEM COM O SOMBRA LOGO.
Eles me ajudam sem questionar e levam o sombra pro quarto, e voltam pra suas posições lá fora.
Tiros e mais tiros são ouvidos, sons estridentes, insuportavelmente altos. Eu tô morrendo de medo e pra piorar, sozinha. Por que o sombra nesse estado não me serve de nada.
Próximo capítulo irei lançar na sexta-feira.
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Cria da Rocinha
Literatura FemininaCapa feita por @lydia_tavares Venha conhecer minha história de amor e ódio com o dono da Rocinha. ♡♤♡♤ - EU NÃO VOU ADMITIR ISSO SOMBRA, OU VOCÊ VIRA HOMEM E ME ASSUME, OU PODE SAIR DA DROGA DA MINHA CASA. - Grito já estressada, o que ele pensa que...