MARIA EDUARDA - Segunda.
Levantei da cama com meu corpo dolorido, meus pais não pegaram leve comigo ontem. Enquanto minha mãe gritava comigo meu pai me batia com um cinto de couro. Eu chorava de dor e não prestava atenção em nenhuma palavra do que minha mãe dizia.
Meu pai batia em todas as partes do meu corpo, menos no rosto, pra que eu saísse em público sem que ninguém percebesse o que acontecia dentro de casa.
Ao sair de casa, fiz o mesmo caminho até a casa de Clara, buzinei e ela saiu de casa correndo e vindo até o carro.
- Como você tá? - eu sei que a pergunta dela não é sobre a minha saúde física, mas a psicóloga.
Levantei o moletom que eu usava e as marcas ficaram visíveis pra que ela visse e seus olhos ficaram arregalados.
- Eu... Meu Deus Duda, me desculpa. É tudo culpa minha. Eu fiquei tão preocupada com você e fui te procurar na sua casa pela manhã, seus pais estavam lá e me fizeram falar tudo o que eu sabia, mas eu falei que você tinha sumido e eu não sabia onde você tava. É tudo culpa mi...
- Não, não Clara! É culpa dos meus pais narcisistas. Você não tem culpa de nada, não se preocupe. - a abracei e ela me abraçou de volta com cuidado, por conta dos meus ferimentos. Dei partida no carro logo em seguida e ela colocou suas músicas pra tocar no carro.
- Você pode passar uns dias na minha casa se quiser.
- Eles me deixaram de castigo, é de casa pra faculdade e da faculdade pra casa. Eu nem ia essa semana, mas é a pré semana de provas, não posso faltar.
- Tem razão. Mas se quiser ficar em casa esses dias, eu pego o material da aula com o Lucas.
- NÃO! Não precisa! - falei rápido, mais do que poderia.
- Anh... Tudo bem. - ela me olhou estranho e olhou pra frente.
Eu continuei dirigindo e logo chegamos na faculdade. Estacionei na vaga de sempre, no estacionamento que ficava bem em frente e entramos no prédio.
Caminhávamos enquanto alguns alunos estavam nos corredores.
- Vou indo pra minha sala, amiga. Qualquer coisa me liga! - ela beijou minha bochecha e saiu para o lado oposto ao que eu ia.
Continuei andando e sem querer esbarrei com um rapaz e acabei quase derrubando o copo do café dele.
- Oh, me desculpe. Eu sinto muito!
- Não se preocupe, eu estava distraído. - ele falou sorrindo. Um sorriso muito bonito e verdadeiro, difícil de ver por aqui. - Acho que você pode me ajudar! Eu sou o Leonardo, sou aluno novo e ainda não encontrei minha sala.
- Eu sou a Maria Eduarda, posso te ajudar sim. Qual seu curso?
- Administração, começo hoje.
- Ah, eu também faço administração. A turma do primeiro período está no segundo piso, na sala 20.
- Obrigado, Maria! - sorri retribuindo seu agradecimento e fui pra minha sala.
Me sentei em outro lugar, bem longe do perigo chamado Lucas, eu só queria paz na minha vida, não aguentava mais problemas. Mas acabou que ele nem apareceu na aula.
A aula como sempre foi chata, mas me mantive atenta pra entender o assunto e me dar bem nas provas. Assim evitaria mais conflitos com meus pais.
No momento do intervalo, encontrei com Clara, nos sentamos na nossa mesa e ela foi pegar nossos lanches.
- Agora que a parte mais traumática passou, você vai me contar o que rolou esse fim de semana? - ela perguntou quando voltou pra perto de mim.
- Eu não me lembro de muita coisa, minha bebida foi batizada.
- Batizada? Caraca Duda, mas quem fez isso?
- Lucas... - ela me olhou chocada. - Na verdade foi outro cara, mas eu sei que foi a mando do Lucas.
- O Lucas da sua sala? - eu concordei com a cabeça e ela me olhou. - Eita! E o que aconteceu? Ele te... - fez um gesto e eu entendi o que ela queria perguntar mas ficou com receio.
- Não, eu acredito que não. Eu acordei na casa de um cara desconhecido chamado Rafael, que eu nunca vi na vida. Ele me ajudou quando me viu desacordada, até pediu uber pra que eu voltasse pra minha casa.
- Ele estava na festa? Não me lembro de ninguém com esse nome, e olha que eu falei com mais da metade da festa. Será que é aluno novo aqui da faculdade?
- Eu realmente não sei. Só me arrependo de ter deixado meu Saint Laurent na casa dele, aquele sapato custa um rim.
- Falando nele, Caio achou um lado só do seu querido salto no lado de fora da festa e deixou comigo, tá lá em casa. Só falta você recuperar esse que falta e seus saltos estão de volta no seu closet.
- Espero que o tal Rafael não tenha vendido ou jogado no lixo.
Continuamos conversando e quando deu a hora, voltamos cada uma pra sua sala e mais uma vez tive que forçar a minha mente na aula, já que eu só queria pensar como eu iria recuperar meu saint laurent.
A aula acabou num instante e eu fui caminhando direto pra saída da faculdade. Clara me avisou que ia ficar pra estudar com uns amigos e iria depois de uber.
No meio do caminho senti um aperto leve no meu braço e me virei rápido vendo que era Leonardo.
- Ah, oi Leonardo. Como foi o primeiro dia? Gostando do curso? - perguntei.
- Adorando. Agora entendo porque esse lugar é o mais renomado da cidade. - ele ri.
- O ensino é excelente mesmo. - sorri sem graça.
- Obrigada pela ajuda mais cedo, acho que estaria até agora perdido se não fosse você. - eu ri e ele olhou pra um ponto atrás de mim e olhou estranho. - Rafael?
- Quem? - perguntei
- É um conhecido. Foi bom te ver, Maria! Até mais.
- Até, Léo.
Acompanhei ele com os olhos e o vi indo até o outro lado da rua onde estava o tal Rafael. Gelei ao associar o nome á pessoa, como eles se conhecem?
Eles fizeram um toque com as mãos e trocaram algumas palavras, Rafael deu um sorriso pra ele e daqui eu consigo ver algumas meninas os olhando e babando neles e eu até as entendo, dois homens muito bonitos e chamativos, quem não olharia?
Gelei ainda mais quando Leonardo virou e apontou na minha direção como se sinalizasse algo pra Rafael. Ele olhou pra mim e mesmo de longe senti seu olhar queimando minha pele. Mesmo por baixo dos óculos de sol.
Suas tatuagens estavam muito mais visíveis agora e a camisa preta lisa destacavam ainda mais cada um dos desenhos. Ontem eu não me permiti observar direito, mas agora vendo de longe eu percebia o quão bonito ele é.
Leonardo acenou pra mim e me chamou pra ir até eles, eu fui morrendo de medo do que poderia ser, mas fui mesmo assim.
- Oi, Cinderela. - eu ri sem graça com o comentário e a referência.
- Oi, Rafael. Procura alguém?
- Eu vou indo, até amanhã Maria Eduarda! - Leonardo simplesmente me deixou ali e foi até sua moto estacionada perto dali.
- Procuro você, Maria Eduarda! - deu ênfase no meu nome e me lembrei que no dia anterior eu não me apresentei pra ele. - Valeu a pena ter vindo, pelo menos descobri teu nome. Mas vim te devolver isso, você deixou lá em casa ontem e eu sei que um desse custa caro. - ele abriu a porta do passageiro do carro e tirou uma sacola de papel com meu salto dentro.
- Ah, obrigada! Eu já estava tentando recuperar ele mesmo.
- É o seguinte, Eduarda. Ontem não nos apresentamos direito, mas seria legal te conhecer. Vamos sair qualquer dia?
- Ahn... - pensei bem e porque não? Não vejo maldade em uma saída. - Sim, pode ser, estou te devendo uma de qualquer forma.
- Perfeito então, esse é meu número. Me manda uma mensagem pra gente marcar algo.
Peguei o cartão que ele estendeu e vi o contato escrito à mão.
- Vou mandar sim, e obrigada, Rafael. - ele assentiu e entrou no carro dando partida e me deixando ali.
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O CHEFE DO TRÁFICO [CONCLUÍDA]
RomanceMaria Eduarda passou uma vida difícil nas mãos dos pais. É uma jovem que sempre fez de tudo pra esconder o que vivia dentro de casa, mas quando chega Rafael, ele se sente na obrigação de proteger e tirar Maria Eduarda da casa onde ela tanto sofria...