Capitulo 18

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MARIA EDUARDA.

Eu só queria sumir.

Desaparecer.

Seria ingratidão se eu dissesse que meu pai poderia ter me matado que seria melhor?

A surra que eu tomei até hoje dói em algumas partes do meu corpo, as marcas ainda estavam bem roxas porque eu não fazia questão de fazer com que elas se curassem rápido. Eu não fazia questão de nada.

Eu não tinha forças pra levantar, meu corpo inteiro tinham marcas, machucados não cicatrizados. Minha pressão estava baixa pela falta de alimento no meu organismo.

Agradeci todos os dias por não ter visto meus pais. Clara vinha aqui todos os dias, mas eu não queria que ela me visse nesse estado. A única que me vê assim é Diana, que tem me ajudado a sobreviver.

Eu estava no meu quarto com os olhos fechados, todas as luzes estavam apagadas e eu estava tentando manter minha mente bem longe da minha realidade. Ouvi a porta do andar de baixo abrir e estranhei por ser domingo a noite, os funcionários não trabalham. Mas provavelmente era Diana me trazendo coisa pra comer, como sempre fazia.

Ouvi passos e logo em seguida duas batidas baixas na minha porta.

- Hoje não, Diana. Me deixa quietinha. - falei baixo e melancólica.

A porta estava trancada porque eu tinha medo de alguém entrar no meu quarto, meus pais principalmente. Eu não faço ideia de quando eles voltam de viagem, por isso mantenho trancada pra que eles não entrem pra acabar comigo de novo.

- Abre pra mim, linda. - a voz rouca e inconfundível do outro lado da porta me assustou.

O que diabos Rafael estava fazendo aqui?

Seria ser um sonho? Provavelmente sim, Rafael não entraria na minha casa em pleno domingo a noite.

- Madu? - ele me chamou de novo e eu me levantei devagar, caminhei bem lentamente até a porta e a destranquei esperando que ele abrisse.

A maçaneta rodou devagar e eu tentei cobrir meu corpo com os braços pra que ele não visse o quão fragilizada eu estava. Talvez ele me olhasse e pensasse que eu era uma fraca, ou me olhasse com pena.

Ele estava ali realmente, em carne e osso. Seus olhos se arregalaram e ele entrou no quarto fechando a porta atrás de si.

- Rafa...

- Porra, Maria. Porque não me ligou? - ele me olha preocupado e meus olhos se enchem de lágrimas.

- Eu... estou sem meu celular. - respirei fundo.

- Vamos logo, não temos muito tempo. Diana tá esperando a gente lá embaixo.

- Diana? Ela chamou você? - ele assentiu e percebeu que eu estava fraca demais pra andar, por isso me pegou no colo e correu comigo até o carro dele.

- Pra onde vamos? - perguntei assim que ele entrou em casa.

- Pra minha casa. - ele olhou pra mim e colocou a mão na minha perna.

- Rafael, você não precisa...

- Fica quietinha, linda. Vamos deixar Diana na casa dela e depois você vai pra minha casa.

- Eu só não quero incomodar.

- Você não incomoda. - me encolhi no banco sentindo frio, vi Diana saindo da minha casa com uma mochila e um cobertor em mãos.

Ela entrou no banco de trás do carro, e Rafael deu partida pra onde Diana morava, que descobri ser na Penha.

Ele estacionou bem na frente da casa dela e ela desceu, contornou o carro e falou algo baixinho pra Rafael que assentiu e ela entrou em casa.

Em silêncio, Rafael seguiu caminho rumo a sua casa. Eu estava sonolenta, apaguei algumas vezes no caminho e despertei de vez quando entramos no elevador do prédio. Ele ainda me segurava no colo, tomando todo cuidado como se eu fosse quebrar.

- Linda? - ele me chamou e eu o olhei. - Eu tô com dois amigos no apartamento, mas eles não vão te incomodar, você pode ficar no meu quatro enquanto eles estiverem lá.

- Rafael, eu não quero incomodar, de verdade. - ele me olhou com cara de tédio. - E eu acho que consigo andar, pode me pôr no chão.

Ele fez e segurou minha cintura pra me apoiar.

Assim que chegamos no seu andar, o elevador se abriu e ele passou na minha frente pra abrir a porta da casa. Ele caminhou na minha frente e eu me escondi atrás dele, ouvi vozes masculinas. Tinham dois homens na sala, como Rafael havia falado, eram seus amigos. Eles se calaram quando ouviram a porta abrindo e viram que era Rafael.

Íamos passando por eles, mas meu olho parou no moreno sentado no sofá, eu o encarei como se o conhecesse de algum lugar. E realmente o conhecia. Ele me dopou.

- Você... - apontei pra ele que me olhava e pareceu me reconhecer também porque ficou pálido. - Eu te conheço. - os três me olhavam curiosos. - Você me dopou na festa, há algumas semanas atrás, lembra disso?

- Sim, eu lembro. - ele baixou a cabeça. - Desculpa aí, loirinha.

Não respondi nada e olhei pra Rafael que olhava pra o rapaz com um olhar de repreensão. Ele me olhou depois e indicou o quarto dele com a cabeça. Eu o segui, queria saber porque ele está com esse cara, porque ele recebe esse tipo de pessoa na casa dele e ainda chama de "amigo". Mas minha mente estava cansada demais, eu só queria deitar e ficar quietinha.

- Você não vai falar nada? - perguntei quando me deitei na sua cama macia e com seu cheiro.

- É complicado, linda. Se você quiser, eu explico tudo, mas primeiro descansa. Se quiser tomar um banho, a casa é sua.

Eu agradeci e fui tomar um banho pra tentar lavar minha alma e levar também as memórias ruins pelo ralo.

O CHEFE DO TRÁFICO [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora