Capitulo 44

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RAFAEL.

Acordei no peito de Madu, dormi ontem e nem percebi. Olhei meu celular e vi que eram quase oito da manhã, mandei mensagem pra Ester e ela logo respondeu que as nove iria pro hospital.

Levantei devagar pra não acordar a Maria, ela estava tão tranquila dormindo que nem sentiu quando eu levantei. Preparei algo rápido pra comer, já que dei folga pra dona Jane a semana toda pra ela ficar com os filhos.

Antes de sair de casa deixei um bilhete escrito pra Madu que ainda estava sem celular.

"Tô indo no hospital ver Felipe, qualquer coisa me liga pelo telefone da casa, tem coisa pra comer na geladeira e fiz café caso você queira. Antes do almoço eu volto, minha linda."

Peguei a chave de um dos carros e fui até a garagem pelo elevador. Dirigi tranquilo até a rocinha, sempre atento ao retrovisor pra não dar merda. Andar na rua assim ainda é um risco, principalmente com Rei solto por aí.

Mandei uma mensagem pra Ester avisando que estava perto e que era pra ela ficar atenta, ela logo respondeu com uma figurinha.

Cheguei na Rocinha, estacionei na frente da casa dela e ela logo saiu, trancou a casa e entrou no carro.

- E aí, como tu tá? - perguntei e ela respirou fundo. Dei partida no carro até o hospital que Felipe estava.

- Essa criança chutou a noite inteira, parece que tá sentindo o que tá acontecendo aqui fora. - ela riu e passou a mão na barriga que já estava grande.

- Nasce quando?

- Faltam três meses, em março ele tá no mundo. - ela falou calma e me deu um riso nervoso. - E você, não quer ter filhos agora?

- Porra, acabei de assumir Madu. Vamos com calma. - ela gargalhou. - É meu sonho, mas quem vai engravidar é ela, não eu. Então é no tempo dela.

- Tá certíssimo. - ela alisou a barriga. - Mas vocês já falaram sobre? - assenti me lembrando da conversa que tivemos há alguns meses.

- Na verdade não falamos diretamente, mas já tocamos no assunto. - eu respondi e parei no sinal.

- Mas eu fico feliz que vocês estejam felizes. Desejo felicidades a vocês.

- Obrigado. - respondi com um meio sorriso. - Felipe acordou? - perguntei porque sabia que ela estava em contato com o médico.

- Ah, sim! Acordou perguntando por mim e estressado porque tava sozinho.

Rimos e fomos conversando no caminho até chegar no estacionamento do hospital. Entramos, demos nossos nomes e poderia entrar um por vez, mas depois de uma ameaça contra a recepcionista eu pude entrar.

- Finalmente alguém veio me ver. - ele falou quando entramos no quarto. Ester deu um selinho nele e depois aproximou a barriga dele pra que ele beijasse também. - Seu pai tá novinho em folha, filho, mais novo que nunca. - ele falou com a barriga e eu ri.

- Fala aí parceiro. - falei e fiz toque com ele.

- Agora só falta você levar um tiro irmão.

- Sai fora, vira essa boca pra lá. Chega de emoções pelos próximos dias, quero sossego.

- E a Dudinha tá como?

- Tá melhorando. Me autorizou matar o próprio pai. - eu disse respirando fundo e ele se espantou.

- E Rei? - Felipe perguntou receoso. - Foi mal, irmão, eu deveria ter segurado ele.

- A gente acha ele de novo, tem bronca não. - respondi e deixei ele interagir mais com a mulher. - Eu vou indo lá, ainda tenho que ver a questão do Roberto. Se der, ainda hoje eu volto.

Fizemos toque e eu voltei pra casa dirigindo atento. No meio do caminho meu celular tocou e eu atendi pelo painel do carro vendo que era Jota, o cara que eu entreguei as balas de Cauê pra investigar.

- Fala, patrão. Tá ocupado agora? - ele perguntou.

- Fala, Jota. To dirigindo, mas pode falar.

- Descobri de onde saíram as balas. Tem um tempo pra conversar hoje? - ele perguntei e eu olhei no relógio. Eram quase onze horas da manhã.

- Tenho, te encontro na Rocinha daqui a duas horas! - ele concordou e desligou a chamada.

Cheguei rápido no prédio, estacionei o carro, subi pelo elevador e cheguei em casa com a visão perfeita da minha mulher cozinhando pra gente.

- Cheguei, linda. Tá tudo bem? - perguntei e ela virou o rosto na minha direção enquanto ainda mexia na panela.

- To bem amor, e você? - me aproximei e deixei um selinho.

- To melhor agora. - cheirei o pescoço dela que ficou arrepiada.

- O que você vai fazer ainda hoje? - ela perguntou desligando o fogo e se virando pra mim, cruzando os dois braços ao redor do meu pescoço.

- Vou na Rocinha, ver como tá o Roberto. - ela ficou tensa. - Linda, você precisa pensar direito, eu não tenho problema nenhum em jogar ele na vala, mas ele é seu...

- Ele não é meu pai, Rafael. Nunca foi. - ela falou calma e eu assenti grudando nossas testas. - Ele foi o causador de quase todos os traumas da minha vida. Foi ele quem me deixou cicatrizes que ficarão na minha pele pra eu me lembrar pelo resto da minha existência.

- Você tem certeza? - perguntei uma ultima vez e ela me olhou firme e assentiu sem duvidar.

- E eu quero assistir. - eu afastei meu rosto do dela receoso. - Eu vou assistir, Rafael. Quero ter certeza de que ele vai estar morto. De que eu não vou precisar fugir mais e que vou sair na rua em segurança sem o perigo de ele me encontrar.

- Eu não vou te forçar a nada, linda. - beijei a testa dela e respirei fundo.

- Eu fiz lasanha pro almoço. Você vai almoçar aqui né? - ela perguntou e eu assenti. - Só preciso terminar ela.

Ela voltou a fazer o que estava fazendo e eu fui pra pia lavar a pouca louça, como sempre fazia, porque odiava qualquer coisa fora do lugar na minha casa. Depois disso, nos sentamos na mesa e comemos enquanto conversávamos assuntos aleatórios. Conversar com Madu era sempre leve, ela tinha um papo que envolvia qualquer um.

- Você tem certeza que não quer vir morar comigo? - eu perguntei e olhei pra ela com cara de cachorro sem dono, pra ver se ela se convencia.

- Tenho certeza, Rafael. Não vou morar com você, estamos namorando não tem nem uma semana.

- Mas você dorme melhor comigo. - e na verdade quem dormia melhor era eu.

- A gente já dorme junto todo dia, meu amor. - revirei os olhos. - Eu preciso de um emprego, preciso me manter sozinha. Depois eu penso em morar com você. - ela piscou um olho pra mim e saiu da mesa. - Vou trocar de roupa, já volto.

Esperei que ela trocasse de roupa e assim que ela apareceu na sala, me levantei e partimos pra Rocinha.

O CHEFE DO TRÁFICO [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora