MARIA EDUARDA.
*Alerta pra quem é sensível a tortura e violência.*
Chegamos na Rocinha e eu estava nervosa. Minhas mãos suavam e meus ombros estavam tensos. Rafael abriu a porta do carro pra mim e eu desci olhando pra porta da salinha que meu pai estava.
- Pronta? - assenti.
Ele foi andando na frente e eu fui atrás, tentando não transparecer meu nervosismo. Passamos por um corredor escuro e com cheiro de mofo, e no fim do corredor tinha uma porta trancada. Rafael tirou a chave da porta do bolso e abriu. Me mantive neutra, e assim que entrei vi Roberto amarrado numa cadeira que era a única coisa dentro da sala.
- Finalmente chegaram pra deixar a família completa. Seja bem vindo á nossa família, Rafael. - ele falou meio fraco mas deu pra entender perfeitamente suas provocações.
- Cala a boca, Roberto. Não tenho tempo pra gracinha. - Rafael falou e subiu a manga da camisa que tava usando. - Hoje tu vai pagar por todas as merdas que tu fez na vida.
Ele foi até uma mesa que tinham umas ferramentas. Era assustador ver a feição de Rafael mudar completamente quando ele estava comigo e quando ele tratava de coisas do trabalho. Ele olhava com ódio pras ferramentos e alternava o olhar entre meu pai e a mesa.
Cauê entrou na sala com um sorriso macabro e já foi cumprimentar Rafael que pegou um martelo e deu na mão dele.
- Faz o que tu sabe fazer, irmão. Se divirta. - Rafael deu dois tapinhas no ombro dele e veio pra perto de mim.
- Fala, baixinha. - ele acenou da distância que tava e eu acenei com um mini sorriso de lado.
- Achei que você que ia fazer... isso. - eu falei e ele negou com a cabeça.
- Não quero que você tenha essa visão de mim. E Cauê faz melhor que eu.
Olhei pra direção de onde ele tinha ido e foi quando ouvi o primeiro grito do meu pai com uma martelada que Cauê deu no dedão do pé dele. Logo em seguida no joelho onde ouvi se quebrar o osso.
Meu estomago se embrulhou mas me mantive ali. Ele merecia isso, pode ser egoísmo da minha parte, mas eu sentia que ele merecia sofrer da pior forma possível.
- Tá gostando, velho? - Cauê perguntou debochado.
- Filho da puta. - Cauê acertou um soco no rosto dele, e o sangue escorreu pelo nariz.
- Tu não tá no direito de me xingar não, vagabundo. - deu outro soco e ele cuspiu sangue.
Cauê voltou na mesa e deixou o martelo, pegou um balde com água e jogou todo no Roberto que se afogou momentaneamente por ter sido pego de surpresa. Depois ele pegou um par de fios desencapados, ligou na tomada e jogou por cima do meu pai que gritava. O corpo dele se remexia com os choques e ele não conseguia formular uma frase sequer.
Olhei pra Rafa que olhava tudo com os braços cruzados. Ele não tinha expressão nenhuma, pois já estava acostumado com aquele cenário, mas eu estava aterrorizada e tentando me manter neutra.
Alguns segundos depois de deixar meu pai lá agonizando, Cauê tirou o fio da tomada e desamarrou Roberto que estava fraco. Ele empurrou o homem da cadeira em direção ao chão e amarrou os dois pés juntos com o mesmo fio que estava em cima dele segundos atrás.
- Me mata logo, porra!
- Quanto mais tu pedir, mais demorado vai ser. Cala a porra da boca, caralho. - Cauê falou e ele se calou.
Foram cerca de trinta minutos usando cada um daquelas ferramentas, os gritos de Roberto eram frequentes, já tinham vários ossos quebrados, ele tirou todos os dentes da boca do meu pai e quando ele já não aguentava mais nada, já estava desacordado e fraco, foi aí que Cauê me olhou e estendeu a arma pra mim.
- Quer fazer as honras? - olhei pra ele e em seguida olhei pra Rafael que me encarava atento e fez uma expressão como quem dizia "a decisão é sua".
Mas eu neguei com a cabeça e deixei que ele finalizasse o serviço. Eu não queria carregar isso comigo, não queria sentir a culpa. Eles já estavam acostumados, eu não.
Ele engatilhou a arma e estendeu pra Rafael que rapidamente atirou na cabeça três vezes.
Acabou.
Eu saí da sala ás pressas e vomitei tudo o que tinha no meu estômago, coloquei tudo pra fora junto com a angústia e o medo. Senti Rafael pegando meus cabelos e juntando em um rabo de cavalo enquanto alisava minhas costas.
- Acabou, linda. - ele falou quando eu me acalmei. - Senta ali na frente que vou buscar uma água pra ti.
- Vou chamar os moleques pra vir limpar essa bagunça. - Cauê apareceu limpando as mãos num pano e saiu na nossa frente.
Eu fiquei sozinha com meus pensamentos sentada num puff velho que tinha ali, apoiei meus cotovelos nos joelhos e coloquei minha cabeça entre minhas mãos.
Rafa logo voltou com uma garrafa d'água e agachou na minha frente.
- Tá bem? - ele perguntou olhando no meu olho.
Afirmei com a cabeça e bebi alguns goles da água. Mas não durou muito até que estivesse novamente vomitando tudo.
- Tá bem mesmo, Madu? Vamos, vou te levar em casa. Tu viu coisa demais por hoje.
- Não, tá tranquilo. - eu fui levantando mas minha pressão caiu e eu me escorei na parede ali perto até que normalizasse.
- Porra Maria, não tá tranquilo não. Bora, vamos pra casa.
- Me deixa lá e vai resolver as outras coisas q você ainda tem pra resolver. Eu to bem, só preciso me recompor.
Ele assentiu e eu andei na direção do carro e ele abriu a porta pra que eu entrasse e deu a volta em seguida, dirigindo até a casa dele no morro.
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O CHEFE DO TRÁFICO [CONCLUÍDA]
RomansaMaria Eduarda passou uma vida difícil nas mãos dos pais. É uma jovem que sempre fez de tudo pra esconder o que vivia dentro de casa, mas quando chega Rafael, ele se sente na obrigação de proteger e tirar Maria Eduarda da casa onde ela tanto sofria...