Secret

Capítulo XXXI Reis e Peões

(Yoru)

Saindo daquele quarto, atravessei o mesmo corredor que antes eu e Kokonoi atravessamos juntos, porém dessa vez não parecia tão claro, parecia triste, escuro, interminável. A sensação de arrependimento... será que era isso? Será que eu queria ficar naquele quarto e esquecer o resto? Como eu poderia esquecer a minha vida, a minha irmã... Eu não sabia oque estava acontecendo comigo, nem oque eu estava sentindo, depois de tudo que ele disse eu só fiquei mais confusa. Eu estava tão cansada, eu só continuava seguindo em frente, mesmo sem saber oque me esperava logo a frente. Eu parei no meio corredor e pensei na minha própria pergunta: "Como eu podia esquecer a minha vida, a minha irmã..." Mas que vida?
Desde que eu me lembro, essa vida nunca foi minha, eu só segui fazendo oque eu acreditava que era necessário para alguém ou alguma coisa. Eu não tinha uma vida, eu tinha uma fantasia, das piores eu diria, nada daquilo era o que eu queria.
Eu nem sequer sei oque eu quero pra mim, como poderia saber... eu nunca pensei em mim. E a minha irmã, no fundo eu sempre soube que talvez se eu tivesse deixado ela seguir a vida dela sozinha, ela não estaria nessa situação.
Nenhuma de nós estaria aqui, eu arrastei ela para um mundo que não tem como termos um final feliz, eu sabia que ela sofreria, mas eu insisti. Eu me agarrei num sentimento que não traria solução pra nada, só era um pretexto pra que eu continuasse justificando minha vida sem sentido e para... manter a Amaya comigo. Eu fui tão egoísta... Eu preciso tirar ela daqui. 

No caminho até o quarto dela eu tentei organizar meus pensamentos, acalmar meu sentimentos, eu tinha pouco tempo e muito oque dizer e fazer. Eu corri o máximo que eu podia, nada mais era importante só tirar ela daqui. A porta do quarto dela estava aberta, eu entrei devagar e ignorei a penumbra ao meu redor e segui até a sacada,  o barulho da chuva que começava a ficar mais forte invadia o espaço. Eu só consegui ouvir o barulho dos meus passos conforme me aproximava das cortinas que se movimentavam suavemente com o vento. Eu não sei se eu realmente acreditava que ela podia estar ali, mas por esse ter sido o último lugar em que eu a, vi segui quase que instintivamente até aqui, mas assim que cheguei perto o suficiente para ver que que ela não estava ali, o som daquela voz vinda do fundo do quarto causou um arrepio que percorreu todo meu corpo. Eu paralisei, como não percebi que tinha alguém ali?

"Você sempre se mete onde não é chamada?"

Aquela voz, mesmo que inexpressiva, conseguia me deixar acuada, e talvez pelo fato de estar nervosa eu não conseguia distinguir quem era... Eu estava tentando reconhecer, mas não conseguia pensar com clareza.
Yoru: Achei que o quarto estivesse vazio...

"Mentira... você está procurando por ela não está?... Eu também! Estou procurando por ela a muito tempo..."

Eu me virei, lentamente, com todo cuidado. Aquela sensação de que eu estava correndo perigo aos poucos me situou e colocou meus pensamentos e sentimentos no lugar. Era ele. Não esperava encontrar com ele aqui, mas era a hora de acertar as coisas. Quando consegui ver o vulto sentado numa poltrona no fundo do quarto, onde o feixe fino de luz vindo da varanda não o alcançava. Só o cabelo branco que escapava da escuridão me fez ter uma ideia de quem era, e o brilho do metal denunciava a arma na mão dele.

Yoru: Manjiro? Quer me contar alguma coisa?
A voz dele permanecia calma, mas o corpo dele dizia o contrário com gestos inquietos, batendo o pé no chão e passando uma das mão no cabelo.

"Manjiro...? Você é inacreditável..."

Ele deu uma risada abafada... e sinceramente até que macabra. Se inclinou para trás, e suspirou. Sem desviar a arma da minha direção ele continuava naquele maldito canto escuro e eu continuava como um alvo fácil, pensando no que eu podia fazer.

Yoru: Se não vai me dizer oque você quer, porque não atira de uma vez?

"Como eu disse... você é inacreditável. Mesmo estando desarmada ainda tem coragem. O que eu quero? Bom... Eu queria muitas coisas, mas depois de um tempo eu passei a ser mais objetivo. E atualmente tenho objetivos bem simples, como você e sua irmã mortas."