Mendacioso

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Eu mudei. Há algo em mim que está diferente. Eu deveria ter socado o rosto de Marcus Eaton e não ouvi-lo. Eu deixei com que ele entrasse em minha mente e estou ciente disso. Lembro que mamãe estava um pouco atordoada, ela disse algo sobre ter observado os trens desde o começo do ataque. Não sabia o que faria quando nos encontrasse. Mas meu objetivo sempre foi salvar vocês.

Mas, agora relembrando sua voz, ela parece diferente. Não sabia o que faria quando a encontrei. Parece que ela não sabia como resgatar a mim, Beatrice e ao arquivo ao mesmo tempo. Mas meu objetivo sempre foi salvar vocês.

Suspiro. Me pergunto se isso foi exatamente  o que ouvi, ou estou apenas manipulando minha própria memória depois do que Marcus me disse? Não há como saber. A única coisa que posso fazer é decidir se confiarei ou não nele.

E, embora ele tenha feito coisas cruéis e maléficas, nossa sociedade não é dividida entre "bem" e "mal". Ser cruel não torna uma pessoa desonesta, da mesma maneira que ser corajoso não faz de ninguém gentil. Marcus não é bom ou mal; ele é as duas coisas.

Bem, ele é horrível.
Mas isso não significa que ele está mentindo.

À minha frente, na rua, vejo um brilho laranja de fogo. Preocupada, começo a andar mais rápido e vejo que o fogo está saindo de grandes latões de metal, do tamanho de uma pessoa, colocadas sobre as calçadas. Os membros da Audácia e os sem-facção reuniram-se entre elas, com um pequeno espaço dividindo um grupo do outro. E, diante deles, encontram-se Evelyn, Harrison, Tori e ​Tobias. Descobri que Harrison ficou no meu lugar quando saí da liderança, escolheram bem, eu acho. Não o conheço muito.

Encontro Beatrice, Christina, Uriah, Lynn, Zeke e Shauna no lado direito do grupo da Audácia e junto-me a eles.

— Onde esteve? — pergunta Beatrice. —  Procuramos você por toda a parte.

— Fui dar uma caminhada. O que está acontecendo?

— Eles finalmente vão revelar o plano de ataque — diz Uriah, com uma expressão ansiosa.

— Ah.

Evelyn levanta as mãos, com as palmas voltadas para a frente, e os sem-facção se calam. Eles são mais bem-treinados do que os membros da Audácia, que demoram uns trinta segundos para ficar em silêncio.

— Passamos as últimas semanas desenvolvendo um plano para enfrentar a Erudição — diz Evelyn, e sua voz grave pode ser ouvida com facilidade. — E, agora que terminamos, gostaríamos de compartilhar o plano com ​vocês.

Evelyn acena com a cabeça para Tori, que assume o ​discurso:

— Nossa estratégia não é pontual, mas abrangente. Não há como saber quem da Erudição apoia Jeanine e quem não apoia. Portanto, será mais seguro se considerarmos que todos os que não a apoiam já deixaram a sede da Erudição.

— Todos sabemos que o poder da Erudição não está nos seus integrantes, mas na sua informação — diz Evelyn. — Enquanto eles continuarem a possuir essa informação, nunca estaremos livres deles, especialmente porque um grande número de nós está programado para as simulações. Eles têm usado informações para nos controlar e subjugar há tempo demais.

Olho para Tobias. Sua expressão é neutra, e ele está parado atrás do brilho da fogueira, onde é difícil enxergá-lo. O que será que ele acha disso?

— Lamento informar que aqueles que foram alvejados com os transmissores de simulação serão obrigados a permanecer aqui — afirma Tori —, porque poderiam ser ativados como armas da Erudição a qualquer momento.

Algumas pessoas protestam, mas ninguém parece muito surpreso. Talvez porque todos saibam muito bem do que Jeanine é capaz através das simulações.
Lynn geme e olha para Tobias.

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