Inculpação

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Se eles queriam me acalmar, conseguiram por impressionáveis quatro horas, mas agora já não estou mais sob efeito do soro. Encaro a parede apertando minha mandíbula e não me movo quando Tobias entra no quarto.

— Graças a Deus — diz ele, encostando a testa na porta. — Estava começando a acreditar que o efeito nunca passaria e que eu seria obrigado a deixar você aqui... cheirando flores, ou seja lá o que você ia querer fazer sob o efeito desse treco.

— Eu vou matá-los da pior forma possível. — ranjo os dentes.

— Não vai. Vamos embora logo. — afirma, fecha a porta e retira o disco rígido do bolso. — Pensei em esconder isso atrás da sua cômoda.

— É exatamente onde estava.

— Eu sei. Por isso mesmo o Peter não vai procurar lá de novo. — Tobias afasta a cômoda da parede com uma das mãos e enfia o disco rígido atrás dela com a outra.

— Onde está Beatrice? — pergunto.

— Ela ficou o dia todo com Caleb, estavam preocupados com você.

— Eles não vieram me ver.

— Avisei que você poderia estar falando demais, eles te evitaram.

— É. Eu percebi. — resmungo e volto a pensar no soro, deitando na cama e olhando para o teto. — Por que será que não consegui combater o soro da paz? Se o meu cérebro é estranho o bastante para resistir ao soro da simulação, por que não resistiu também a este?

— Para ser sincero, não sei. — Ele desaba ao meu lado na cama, empurrando o colchão. — Talvez, para resistir ao efeito de um soro, você precise realmente querer.

— Mas é claro que eu queria — digo, frustrada, mas sem muita convicção. Será que eu realmente queria? Ou será que foi agradável esquecer a raiva, a dor, esquecer tudo por algumas horas?

— Às vezes — diz ele —, as pessoas só querem ser felizes, mesmo que seja de uma maneira irreal.

Ele tem razão. Mesmo agora, esta paz entre nós vem de não falarmos sobre as coisas, sobre ele e Beatrice, meus pais, sobre eu quase atirar em sua cabeça ou ele me enforcar e nem sobre Marcus. Mas não ouso interromper este momento com a verdade, porque estou ocupada demais me apoiando nele.

— Talvez você tenha razão — concordo baixinho.

— Você está cedendo? — exclama ele, abrindo a boca com ar debochado de surpresa. — Parece que esse soro até fez bem a você...

Eu o empurro com o máximo de força que consigo.

— Retire o que disse. Retire o que disse agora! — ameaço jogar o abajur em sua cabeça.

— Está bem, está bem! — Ele levanta a mão. — É só que... Poderíamos ser pessoas não legais juntos!

— Ah, cala a boca!

Tobias começa a rir e eu reviro os olhos.

— Seu bobo.

— Deve ter sido divertido. — ele diz, dou de ombros. Confesso apenas para mim que foi bom de certa forma, mas não vou os perdoar por fazerem isso comigo. — Tenho tarefas a fazer — se afasta. — Nos vemos mais tarde?

Sorrio e balanço a cabeça.

— Sim, nos vemos mais tarde.





— O que está fazendo aí? — pergunto olhando para cima. Beatrice está sentada nos galhos de uma árvore tão distraída que não percebe que cheguei há alguns minutos. Se vira para mim devagar e sorri.

Insurreto (2- Insurgente) Onde histórias criam vida. Descubra agora