Prelúdio

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— Seu plano é falho — diz Cara. Acabei de contar tudo para todos os antigos membros da Erudição, estamos em um dos maiores dormitórios da Amizade, ao todo são quatorze beliches enfileiradas pelo quarto. Estou sentada em uma delas com Beatrice e Christina, os outros estão a nossa frente com seus olhos espertos e ouvidos atentos.

— É por isso que procuramos vocês — falo. — Mostrem que são mesmo inteligentes e nos ajudem.

— Bem, em primeiro lugar, esses dados importantes que vocês querem resgatar — diz ela. — Salvá-los em um disco é uma péssima ideia. Discos acabam quebrando ou caindo nas mãos erradas, como qualquer outro objeto físico. Sugiro que vocês usem a rede de dados.

— A... o quê?

Ela olha para os outros membros da Erudição. Um dos outros, um jovem rapaz moreno, de óculos, diz:

— Pode contar para elas. Não faz mais sentido guardarmos segredos.

Cara olha novamente para mim.

— Muitos dos computadores do complexo da Erudição são programados para receber dados dos computadores de outras facções. É por isso que foi tão fácil para Jeanine administrar a simulação de ataque de um computador da Audácia, e não de um da Erudição.

— O quê? — pergunta Christina. — Quer dizer que eles podem dar uma voltinha pelos dados das outras facções sempre que quiserem?

— Ninguém pode dar uma voltinha por dados — diz o jovem. — Isso é ilógico.

— É uma metáfora — diz Christina. Ela franze a testa. — Certo?

— Uma metáfora ou simplesmente uma figura de linguagem? — pergunta ele, também franzindo a testa. — Ou seria uma metáfora uma categoria definitiva sob o título "figura de linguagem"?

— Fernando — agradeço por Cara o interromper, não sei exatamente como os convenceria de nos ajudar se Fernando fosse nocauteado. — Concentre-se.

Ele assente com a cabeça.

— A questão — continua Cara — é que a rede de dados existe e, apesar de ela ser algo eticamente questionável, pode funcionar a nosso favor. Da mesma maneira que podem acessar dados das outras facções, os computadores são capazes de enviar dados para outras facções. Se nós enviarmos os dados que você pretende resgatar para todas as outras facções, destruir todos eles seria impos​sível.

Minha irmã se remexe ao meu lado:

— Quando você diz "nós", está sugerindo que...

— Que nós iríamos com vocês? É claro que nem todos iríamos, mas alguns precisam ir. Como vocês esperam se locomover dentro da sede da Erudição sozinhas?

— Espero que vocês entendam que, se forem com a gente, correm o risco de levar um tiro— diz Christina. Ela sorri. — E nada de se esconder atrás de nós para não quebrarem os óculos, ou algo assim.

Cara tira os óculos e quebra-os na metade. Ergo as sobrancelhas e dou risada.

— Arriscamos nossas vidas ao desertarmos da nossa facção — diz Cara. — E nós as arriscaremos novamente para salvar nossa facção de si mesma.

— Além disso — diz uma voz fina, vinda de trás de Cara. Uma menininha que não deve ter mais do que dez ou onze anos surge de trás do ombro dela. Seu cabelo preto é curto, como o meu, e um halo de fios crespos circunda sua cabeça. — Temos aparelhos úteis.

Eu e Beatrice trocamos olhares.

— Que tipo de aparelhos? — pergunto.

Insurreto (2- Insurgente) Onde histórias criam vida. Descubra agora