Precipitação

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Vejo se a arma está carregada e depois a coloco em minha cintura, começo a arrumar meus cabelos me encarando no espelho do banheiro. Passo os dedos pelas mechas que não estão nem um pouco brilhantes como antes, pareço-me mais velha, meu olho está fundo como se não dormisse há dias, sobrancelhas por fazer e pele ressecada. Isso tudo é uma droga. O lado bom é que não estou ligando tanto para isso, antes eu surtaria e não sairia do meu apartamento até me sentir realmente bonita, agora tenho outras preocupações.

Preciso matar Jeanine Matthews.

— Becky? — Alguém bate à porta. Tobias entra no banheiro.

— Oi?

— Vai mesmo ir espiar a conversa do Kang com a Erudição?

— Vou e você também. — digo.

— É mesmo?

— Sim.

— Está dando uma de líder e recrutando seus soldados? — ele sorri.

— Sim, estou. — começo a amarrar meu cabelo em um rabo de cavalo.

— Sabe que há um dia você estava no hospital, certo?

Semicerro os olhos encarando seu reflexo no espelho.

— Estou melhor.

Tobias se aproxima ficando atrás de mim, abaixa sua cabeça se aproximando do meu ouvido.

— Por acaso está brava comigo?

— Não.

— Parece.

— Não estou.

— Tem razão? Me conta o que está acontecendo.

Me viro para ele.

— Por que eu deveria contar a você? Você não me conta todos os seus planos.

Ele franze as sobrancelhas retas.

— Sobre o que você está falando?

— Estou falando sobre você espancar Marcus na frente de todos da Audácia sem motivo aparente. — Dou um passo em sua direção. — Mas existe um motivo, não é? Porque você não é do tipo de perder o controle. Ele não fez nada para provocá-lo, então deve haver um motivo!

— Eu precisava provar para a Audácia que não sou um covarde. Só isso. Foi só isso o que aconteceu.

— Por que você precisaria... — Começo a dizer.

Por que Tobias precisaria provar algo para a Audácia? Só se for porque ele quer que o respeitem. Só se for porque quer se tornar um líder da Audácia.
Evelyn deve ter mesmo conversado com ele sobre isso.  Tobias quer que a Audácia alie-se aos sem-facção e sabe que a única maneira de garantir que isso aconteça é se ele mesmo fizer com que aconteça.
Mas não entendo por que ele não compartilhou seu plano comigo. Antes que eu consiga perguntar, ele diz:

— E aí? Você vai ouvir a reunião mesmo?

— Vou. — digo firme.

— Está se colocando de novo em uma posição de risco.

— Devia estar acostumado com isso. — o provoco com raiva. — Foi por isso que terminamos, não lembra?

Ele cruza os braços. Seus músculos ficam mais aparentes.

Engulo o pensamento. Ainda estou brava por ter escondido algo de mim, mesmo já tendo feito isso várias vezes, mas eu confesso que sou hipócrita... E se o seu plano for mesmo de se aliar com os sem-facção não teve o menor sentido ele esconder de mim.

Insurreto (2- Insurgente) Onde histórias criam vida. Descubra agora