Insciência

115 21 6
                                    

Shauna está deitada no chão, com o rosto para baixo e uma mancha de sangue cresce em sua camisa. Lynn ajoelha-se ao seu lado. Ela a encara, mas não faz mais nada.

— Não, não, não... — meus olhos enchem de lágrimas. — Que porra! — olho pra Lynn.

— A culpa é minha — murmura ela. — Não deveria ter atirado nele. Não deveria...

— Não deveria mesmo! Sua pirralha de merda! — digo com raiva e ela dá dois passo para trás. — Sabia que seria uma má ideia trazer novatos!

Encaro a mancha de sangue. Ela foi alvejada nas costas. Não consigo ver se está respirando ou não.
Abaixo ao lado dela, desesperada. Ela não pode estar morta, não pode. Mexo em seus cabelos para tocar seu pescoço, mas minhas mãos tremem. Tobias segura meus braços e me afasta, depois encosta dois dedos no lado do pescoço dela e acena com a cabeça.
Ela ainda está viva.

— Precisamos sair daqui. Lynn. Olhe para mim. Vou carregar Shauna, e ela vai sentir muita dor, mas é nossa única escolha.

Lynn assente com a cabeça. Tobias agacha-se ao lado de Shauna e coloca as mãos sob seus braços. Ele a levanta, e ela solta um gemido. Corro para ajudá-lo a colocar o corpo mole dela sob seu ombro. Minha garganta aperta, e eu tusso para aliviar a pressão.

Tobias levanta-se soltando um grunhido e caminhamos juntos em direção ao Merciless Mart. Lynn vai na frente com sua arma, e eu sigo atrás. Caminho de costas para ver se há alguém nos seguindo, mas não vejo ninguém. Acho que os traidores da Audácia bateram em retirada. Mas preciso ter certeza.

— Ei! — grita alguém. É Uriah, correndo em nossa direção. — Zeke precisou ajudá-los a pegar Jack... Ah, não. — Ele para de correr. — Ah, não. Shauna?

— Não é hora para isso — diz Tobias, severamente. — Corra até o Merciless Mart e traga um médico.

Mas Uriah fica parado, olhando para Shauna.

— Uriah! Vá, agora! — meu grito ressoa, já que não há nada na rua para abafá-lo. Uriah finalmente se vira e corre na direção do Merciless Mart.

Estamos a menos de um quilômetro de lá, mas os grunhidos de Tobias, a respiração irregular de Lynn e o fato de que Shauna está sangrando até a morte fazem com que o caminho pareça infinito. Vejo os músculos das costas de Tobias expandindo e contraindo a cada respiração pesada e não ouço nossos passos; ouço apenas meus batimentos cardíacos. Quando finalmente alcançamos a porta do prédio, sinto como se fosse vomitar, desmaiar ou gritar a plenos pulmões.

Um homem calvo da Erudição e Cara nos encontram assim que entramos. Eles colocam um lençol no chão para Shauna. Tobias deita-a sobre o lençol, e o médico começa a trabalhar imediatamente, cortando as costas da sua camisa.

Viro o rosto. Não quero ver a ferida.

Tobias fica parado na minha frente, com o rosto vermelho de exaustão. Me aproximo dele.

— Tem que parar com isso. — diz.

— Não, Tobias. Não dá.

— Esse seu ódio por Jeanine vai acabar te matando! Você agiu de forma imprudente quando correu até eles! — ele está com raiva.

— Que droga, Tobias! Você está exageran...

— Não! Não estou, sabe que eu tinha razão da primeira vez e agora está me chamando de exagerado?

Cruzo os braços.

— Estou fazendo isso por todos aqueles que morreram, por Amah, por meus pais... Estou fazendo o que eles me ensinaram a fazer.

Insurreto (2- Insurgente) Onde histórias criam vida. Descubra agora