Reconsideração

235 35 10
                                    

Tris

Niles está em pé no meio da sala, com uma seringa na mão. As luzes sobre ele fazem a seringa brilhar. Sou chamada. Olho para Rebecca esperando que ela fosse primeiro, mas chamaram o meu nome. Não o dela. Ao redor de mim, os membros da Audácia e da Franqueza esperam que eu dê um passo à frente e exponha a minha vida inteira. Talvez eu consiga lutar contra o soro. Mas não sei se devo tentar. Talvez seja melhor eu simplesmente revelar a verdade.

Caminho, tensa, até o centro da sala, enquanto Tobias se retira. Ao passarmos um pelo outro, ele segura a minha mão e aperta meus dedos me dando apoio. Depois, ele se vai, porque ele não ficará ao meu lado, ele fica ao lado de Becky, ela segura sua mão e passa a outra em seu rosto o consolando e dizendo algo para que se acalme. Seu olhar de carinho mostra que ela o ama.

Então, no meio da multidão, fica eu, Niles e a seringa. Passo o lenço antisséptico no pescoço, mas, quando ele aproxima a seringa de mim, me afasto.

— Prefiro fazer isso eu mesma — digo, estendendo a mão. Nunca mais deixarei que alguém me injete algo com uma seringa novamente. Não depois que deixei Eric me injetar com o soro da simulação de ataque, depois do meu teste final. Não posso mudar o conteúdo da seringa injetando-a eu mesma, mas, pelo menos dessa maneira, serei o instrumento da minha própria destruição.

— Você sabe como fazer isso? — pergunta ele, levantando suas sobrancelhas espessas.

— Sei.

Niles me oferece a seringa. Eu a posiciono sobre a veia do meu pescoço, enfio a agulha e aperto o êmbolo. Quase não sinto a picada. Estou sob o efeito da adrenalina. Alguém se aproxima com uma lata de lixo, e eu descarto a seringa. Sinto os efeitos do soro imediatamente. Ele faz o sangue nas minhas veias parecer chumbo. Quase desabo ao caminhar até a cadeira. Niles precisa segurar meu braço para me guiar até lá.

Alguns segundos depois, o silêncio domina minha mente. Sobre o que eu estava pensando mesmo? Isso não parece importar. Nada importa, exceto pela cadeira sob mim e o homem sentado à minha frente.

— Qual é o seu nome?

Assim que ele faz a pergunta, a resposta salta da minha boca:

— Beatrice Prior.

— Mas você responde por Tris?

— Sim, respondo.

— Como se chamam os seus pais, Tris?

— Andrew e Natalie Prior.

— Tem irmãos? — ele não fez essa pergunta pra Tobias. Ele sabe que Rebecca é minha irmã. Observo ela com os braços cruzados concentrada em mim.

— Dois. Rebecca Prior e Caleb Prior.

— Você também se transferiu de facção, certo?

— Sim — respondo. Estou começando a ficar confusa, antes tudo estava mais claro, porque eu sei que Tobias esteve aqui, mas por um segundo me esqueci.  Franzo a testa ao tentar me lembrar do rosto de Tobias, mas é difícil fazer com que a imagem dele surja na minha mente. Mas acabo conseguindo. Eu o vejo, depois vejo uma imagem dele sentado na mesma cadeira onde estou.

— Você veio da Abnegação? E escolheu a Audácia?

— Sim — confirmo novamente, mas, dessa vez, a resposta sai tensa. Não sei bem por quê.

— Por que você se transferiu? Foi influência da sua irmã?

Essa pergunta é mais complicada, mas, mesmo assim, sei a resposta. Não sei dizer se foi por causa de Becky, eu a odiei quando saiu de casa e com o passar do tempo soube o porquê de fazer isso. A frase "Eu não era boa o bastante para a Abnegação" está na ponta da minha língua, mas outra a substitui: "Eu queria ser livre." Ambas são verdadeiras. Quero responder as duas coisas. Aperto os braços da cadeira enquanto tento lembrar-me de onde estou, do que estou fazendo. Vejo pessoas ao meu redor, mas não sei por que elas estão aqui.

Insurreto (2- Insurgente) Onde histórias criam vida. Descubra agora