Nitidez

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Estamos em uma rua antes de chegar na minha antiga casa. É estranho estar aqui de novo, ainda mais nessas condições. Creio que a notícia da minha morte chegou aqui. Jeanine ama espalhar notícias, e essa com certeza ela teve o prazer de compartilhar.

Chegamos.

As pessoas me encaram boquiabertas. Gosto de olhares sobre mim. Mas não esses.

— Becky?  — grita alguém diante de nós. Levanto a cabeça e vejo Uriah e Lauren na calçada, comparando revólveres. Uriah solta sua arma sobre a grama e corre até mim. Lauren o segue com um sorriso.

Uriah levanta os braços para me abraçar, depois Lauren faz o mesmo, sussurrando em meu ouvido o quanto está feliz em me ver. Quando estão prestes a fazer perguntas Tobias impede:

— Ela passou por maus bocados — fico grata, não quero falar agora. Eu só quero dormir. — Só precisa dormir. Ela ficará aqui na rua, no número trinta e sete. Venha visitá-la amanhã.

— Onde está Beatrice? — a procuro em meio a multidão.

— Beatrice? — Uriah pergunta confuso, mas logo lembra que estou falando de Tris. — Ela está fazendo ronda. Não quis ficar parada.

Consigo entender.

— Quer que eu vá buscá-la?

— Por favor! — peço com gratidão e ele sai correndo.

Tobias segura a minha mão. Tento andar mais ereta, mas meus músculos parecem uma gaiola, mantendo meus ombros curvados. Os olhos seguem-me pela rua, perfurando minha nuca. Sinto-me aliviada quando Tobias nos guia pela passagem que leva à entrada da casa cinza que costumava pertencer a Marcus Eaton.

Nem consigo imaginar a força que Tobias precisa juntar para atravessar a porta. Para ele, essa casa deve conter ecos dos gritos dos seus pais, dos estalos de cinto e das horas passadas dentro de armários apertados e escuros. No entanto, ele não parece apreensivo ao me guiar, junto com Peter, até a cozinha. Parece até andar mais ereto. Mas talvez Tobias seja assim mesmo. Quando ele deveria ser fraco, é forte.

Tori e Evelyn estão na cozinha. As duas abrem um sorriso quando nos veem. Fico surpresa ao vê-las, não esperava por isso, principalmente por Evelyn. Onde Marcus está?

Evelyn envolve Tobias com um dos braços e encosta em seu rosto com o outro, apertando sua bochecha contra a dela. Ela lhe diz algo, e ele sorri e se afasta. Mãe e filho, reconciliados. Estranho.

Tori me aperta e eu solto um gemido de dor e ela se afasta.

— Desculpa. Achei que estivesse morta. — diz com os olhos cheios de lágrimas.

— É, por um momento também achei. — dou risada.

— Ela precisa descansar. — Tobias segura em minha cintura.

— Ah, claro! — Tori da um passo para trás sorrindo fraco. — Descanse. Qualquer coisa estou aqui! Fica bem!

— Obrigada, Tori. — sinto um alívio em meu peito.

Antes de subir aceno para Evelyn e ela faz o mesmo.

Tobias me guia em direção à escada. Subimos os degraus juntos. No segundo andar, estão os antigos quartos de Tobias e dos seus pais, separados por um banheiro e mais nada. Ele me leva para o seu quarto e fico parada por um instante, olhando o lugar onde ele passou a maior parte da sua vida.

Insurreto (2- Insurgente) Onde histórias criam vida. Descubra agora