Crueza

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Observo Tobias enquanto ele dorme, cochilei por algum tempo e acordei assustada. Não podia ter dormido, preciso ir. Espero Quatro cair num sono profundo e quando isso acontece, calço meus sapatos e pego minha jaqueta.

Tori fez o que eu disse, há guardas acordados até agora, fazendo rondas. Me escondo para que não me vejam e saio pelo meu antigo esconderijo. O ar gelado me faz tremer, mas sei que daqui uns minutos estarei suando. Ao invés de subir a escada para onde eu e Tobias costumávamos ficar, vou para o lado oposto, subindo no telhado e me equilibrando entre as vigas. Dois telhados depois encontro a escada pregada na parede, desço sem dificuldades mas quando chego no chão estou um pouco ofegante.

Meus passos são cautelosos, não faço muito barulho, há alguém por perto. Um guarda fazendo alguma ronda por fora do Complexo? Talvez Tori tenha sido rígida demais.

Atravesso a rua e subo na calçada caminhando em direção ao beco. Os passos não estão vindo de trás de perto do Complexo, fico em alerta, puxo a arma do coldre e corro no beco tentando não fazer barulho. Espio para ver quem está lá e no mesmo segundo sinto raiva.

— Beatrice! — a chamo. Ela para de andar e olha para mim, surpresa. — O que você está fazendo aqui?

Ela me observa de cima a baixo.

— Suponho que o mesmo que você. — balança seu braço.

— Não, você não vai. — digo andando em sua direção.

— Ah, não? — debocha. — Já decidi. Estou indo. — ela se vira e eu a alcanço, puxando seu ombro ruim.

— Aí! — pousa a mão no seu ombro e eu não peço desculpas por machucá-la. — Vá embora, Becky. Você não precisa ir também.

— Você não está me entendendo. Eu estou ordenando que você volte imediatamente!

— Não seja tola, Rebecca! — ela diz. — Você tem um papel importante aqui, tem que cumprir seus deveres.

— Foi por isso que rejeitou a vaga de líder? — pergunto. — Já estava pensando em fazer algo assim?

Sua boca se transformou em uma linha dura, Beatrice sempre esteve disposta a fazer isso.

— Eu não vou deixar você se matar, Beatrice. — digo apertada. — Vai voltar para o Complexo ou eu...

— O que vai fazer? Me matar? — ela ri. — Não vai poder me impedir, Rebecca. Olhe a sua volta! Você tem tudo! Não pode perdê-los!

— O que? — fico confusa.

— Quando injetaram o soro da verdade em você... Você falou que tinha inveja de mim. — seu rosto está vermelho agora. — Mas do que você poderia ter inveja se é você que tem tudo? Tem amigos que se importam com você, é uma ótima Audaciosa, você tem um cargo ótimo, você... Você — sua voz vacila. — Você tem... Tobias.

— Beatrice, isso não...

— Eu não tenho nada a perder!

— Você é minha irmã! — digo. — Como não tem nada a perder? Como acha que eu e Caleb ficaríamos sem você?

Me aproximo dela.

— Eu sei que não sou a irmã que você merece — começo. — Você sempre foi muito melhor do que eu e merece tudo de bom. E isso que está fazendo agora prova o quão boa é. Diferente de mim, você é bondosa, Tris. — vejo a surpresa em seu olhar ao chamá-la pelo nome que escolheu assim que entrou na Audácia. — E eu não vou deixar que você vá, pois quem merece morrer, sou eu... Desculpa por isso.

Antes que tenha alguma reação, soco seu maxilar medindo a força certa para apagá-la. Tris cai no chão desacordada e eu me sinto mal por isso.

— Merda, vai ficar roxo... Ela vai me odiar ainda mais agora. — digo a carregando para a calçada em frente ao Complexo.

Insurreto (2- Insurgente) Onde histórias criam vida. Descubra agora