Mesclado

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Não consigo esperar por Beatrice. Deito, abraçada com Tobias e dormimos profundamente. Exaustos.

E quando acordo, Tobias já não está mais ao meu lado e sim uma pilha de roupas. Minhas roupas.

Não sei que horas são, mas sei que já é tarde, dormi demais, vou ao banheiro e quando volto para o quarto de Tobias, Uriah está jogado na cama, de barriga para baixo segurando a escultura azul, examinando-a, e Lynn está posicionada segurando um travesseiro, com um sorriso malicioso no rosto.

Lynn dá uma pancada forte com o travesseiro atrás da cabeça de Uriah. Uriah tosse e a xinga.

— Ei, Becky! – diz Lynn.

— Ai! Como você consegue fazer um travesseiro doer tanto, Lynn? — grita Uriah.

— Com a minha força incrível — explica ela. — Você levou um tapa, Becky? Uma das suas bochechas está muito vermelha.

Solto um resmungo.

— Acho que dormi demais... — eles riem. — O que estão fazendo aqui?

— Então, o assunto sobre o qual não estamos falando — Uriah gesticula para mim. — Você quase morreu, um maricote sádico a salvou, e agora estamos todos em uma guerra séria, com os sem-facção como aliados.

— Maricote? — pergunto.

— É uma gíria antiga da Audácia. — Lynn solta uma pequena risada. — Supostamente, é um insulto terrível, mas ninguém mais fala assim.

— Porque é ofensivo demais — diz Uriah, acenando com a cabeça.

— Não. Porque é tão idiota que ninguém da Audácia que tenha noção de ridículo diria algo assim. Maricote. Você tem o quê, doze anos?

— Doze e meio — diz ele.

Acho que eles estão caçoando um ao outro apenas para aliviar o clima, para que ninguém precise falar das coisas ruins que nos aconteceu; para que possamos apenas rir. E é isso o que faço, rio bastante.

— Onde está Beatrice? — pergunto.

— Estou aqui. — me viro para a porta e sorrio enquanto ela vem até mim. A puxo para um abraço apertado e meu coração dói ao lembrar de Caleb. Como vou contar para ela?

Todos os outros saem do quarto, eu e Beatrice sentamos na cama, seguro suas mãos, não quero sair de perto dela, nem por um segundo.

— O que você fez foi incrível, Rebecca. — começa. — Mas não faça isso nunca mais.

— Não posso prometer. — respondo e ela revira os olhos, reparo em seu rosto. — Sinto muito pelo soco.

— Tudo bem. Já te perdoei. — ela passa a mão no queixo e dá risada.

— Beatrice... — perco o ar. — Caleb estava lá.

Ela desvia o olhar por um momento.

— Eu soube disso assim que cheguei aqui na Abnegação. — me sinto mais aliviada por não ter dado a notícia ruim, com certeza esse é um dos traços do meu egoísmo. — Mas eu queria acreditar que ele estava fazendo isso para te proteger... Ir lá e fazer o que Peter fez.

— É uma droga, mas temos coisas para fazer, Tris. Vamos lá? Eu sei que não sou mais líder... — me levanto determinada.

— Você nunca deixou de ser. — sorri para mim e a abraço novamente, ela e Tobias são minha família. Eu faria tudo de novo e morreria por eles.

Descemos as escadas juntas, fazendo um estrondo com os pés que eu nunca poderíamos ter feito na casa dos nossos pais. Meu pai costumava brigar comigo sempre que eu descia a escada correndo.

Insurreto (2- Insurgente) Onde histórias criam vida. Descubra agora